livro | Cláudio Ferlauto

Pato Macho #16: 15 semanas que abalaram a província

Capa do livro | Divulgação

É um livrinho delicioso de ler, prazeroso de folhear, valioso de consultar. Menor que o formato A5, coedição Cachorro Louco & Rosari, o volume é substancioso no conteúdo, contemporâneo no projeto gráfico. Pelo tom, tem a vantagem de avivar uma época sem evocar nostalgia. Quer dizer, toda a ebulição criativa de 1971 ainda ferve em 124 páginas. Claudio Ferlauto, com a acuidade de um observador adestrado para as relevâncias, garimpou muito além da coleção de 15 exemplares. Revirou o tempo em que tudo aconteceu e ressaltou pistas do breve sucesso editorial. Pelos depoimentos que orquestrou, nota-se: eram todos muito divertidos, e sabiam disso. Produziu um guia perfeito para ciceronear o leitor pelos bastidores da maior aventura humorística no RS. O tour de graça inclui sobrevoar os horizontes reativos ao redor dp fenômeno provocador. Melhor que esse conciso resumo do Pato Macho, talvez só uma edição fac-símile dos 15 números. Não custa torcer.

 

 

: Na frente, Claudio Ferlauto, Sérgio Rosa, Luis Fernando Verissimo. Atrás, Assis Hofmann, Renato D´Arrigo, Antonio Aiello. No cavalete, Luiz Carlos Felizardo, autor da foto.
 

Não dá pra dizer que Porto Alegre nunca mais foi a mesma. (Mesmo com terremoto, fusão do RS com o Uruguai ou desembarque de alienígenas no Largo Glênio Peres, Porto Alegre continuaria rígida). Mas naqueles 4 meses em que o Pato Macho  alegrou as bancas (30% do preço de capa pro jornaleiro), a cidade se alvoroçou. Duas coisas, em doses cavalares, chocaram os porto-alegrenses: o deboche e a censura. Tudo graças à irreverência da saliente cambada liderada por Luis Fernando Verissimo: Tatata Pimentel, José Antônio Pinheiro Machado, Antonio Aiello, Goida, Renato D´Arrigo, Claudio Levitan, Beto Prado, Luiz Carlos Felizardo, Assis Hoffmann, Fernando Westphalen, Carlos Nobre, Marcos Faerman, Joaquim Fonseca, José Onofre e Armando Coelho Borges, que sugeriu o nome. Tanto talento e ousadia concentrados em poucas páginas – cito apenas aqueles com quem convivi – só podia dar em balbúrdia moral. E deu. Ao reacionarismo gaúcho, todos sobreviveram – menos o jornal. Ao tempo, poucos resistiram, porém com vitalícios sinais vitais.

 

:  Capa da primeira edição.

Na 5ª feira 14/4 (exatos 45 anos da 1ª edição do brioso jornal) o Bar do Gomes estava aceso pelas lembranças e bom humor, enfim o lançamento do aguardadíssimo livro. Empolgado e emocionado, reencontrei amigos do time do Pato Macho (Levitan, Goida, Luis Carlos Felizardo, entre outros). Ouvimos a boa música de Léo Ferlauto e o Quarteto das Marés. E o melhor da noite: ganhei um dos autógrafos mais bonitos e significativos da minha vida, do designer Claudio Ferlauto. Ao Pato Macho, em 71, ele deu cara e personalidade gráfica, além de algum incômodo visual aos reaças; agora, deu-me o prazer de revisitar minha trajetória profissional. É que, por incrível que pareça, tudo que sou no humor devo – numa dívida enviesada – ao Pato Macho.

 

: Capa da última edição, #15.

Depois de acompanhar 14 edições do jornal, doido pra me misturar à irreverente cambada, atendi ao concurso que promoveram para atrair frasistas. Os interessados tinham que mixar títulos de filmes e obter algum humor. Não consegui, não gostei do mote, ninguém participou. Na edição seguinte, novo concurso: agora os candidatos a engraçadinhos deviam brincar com provérbios. Adorei. Fiz sei lá quantos, uma página inteira. Ansioso, fui entregar na sede do jornal, na José do Patrocínio próximo à Cel. Genuíno. Era meio-dia e a porta do jornal estava fechada. Ao lado havia uma lavanderia e indaguei a uma funcionária a que horas abria o Pato Macho. Resposta: fechou ontem. Como diria a cantora Maysa: meu mundo caiu.

 

: Autógrafo do Claudio Ferlauto para este escriba.

 

Mesmo frustrado, minha criação comichava nas mãos, não me conformava. Selecionei as melhores frases, reescrevi algumas, aprontei novas sem ligação temática com provérbios, folha e meia de graça inédita. Com toda a petulância dos meus 25 anos, e incerto das chances de ser editado, enviei para O Pasquim, que estava no auge. Duas semanas depois, lá estava eu: meia página no pasca, tudo aproveitado. O Henfil deu ao material, com a letra dele, o título Picles. Estava inaugurada a seção que se tornou um clássico do jornal, a maior referência da síntese no humor. (No cantinho da página 2 do Pasquim foi revelada a maioria dos grandes frasistas brasileiros, criadores que admiro: Dirceu, Nani, Luis Pimentel, Jaab, Dodó Macedo, entre tantos) Alguns dias depois, recebi o primeiro de muitos cheques. O Pasquim pagou 10,00  por frase, baita recompensa na moeda da vez. Antes de descontar, xeroquei, emoldurei e pus na parede. A partir daí virei profissional da palavra.

Quer dizer, não ter estreado no Pato Macho acabou tão marcante quanto a glória de ser publicado num hipotético #16.

: Selo do personagem, no traço inconfundível de Luis Fernando Verissimo.

 

Para o mês de maio, já está prevista Palestra|Mesa-redonda na Fabico/UFRGS. Aguarde detalhes, logo que houver confirmação da data do evento.

Para saber mais do livro Pato Macho #16: 15 Semanas que Abalaram a Província,
inclusive comprar, acesse seu Facebook.

Para conhecer a tese Pato Macho: O humor no jornalismo alternativo de Aline Strelow, acesse o link.

 

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