Diz muito sobre o ‘Rio Grande, estado mais politizado do Brasil’ a polêmica envolvendo a pensão paga ao governador renunciante.
Eduardo Leite (PSDB) mentiu e desmentiu; Porto Alegre tem a segunda região metropolitana com mais gente caindo para a pobreza extrema; há um escândalo em curso ao se entregar a ERS-118 para exploração de pedágio após R$ 400 milhões em investimento públicos; a CEEE foi doada para o já odiado grupo Equatorial e o governo estadual anunciou investimentos, para projetar nosso governador nacionalmente, com a conta para governos futuros pagarem; mas o que viralizou foi ter recebido R$ 39,9 mil em pensão para ex-governadores; ‘absurdos’ R$ 19,6 mil na folha de maio e R$ 20,3 mil referentes a abril.
Vamos às informações.
O ex-governador e pré-candidato do PSDB ao Piratini decidiu renunciar ao pagamento da pensão mensal a que teria direito por ter sido governador até março deste ano, após questionamento judicial feito pelo Partido Novo. Nas suas redes sociais, Leite disse que o pagamento da pensão é “legal”, “transparente” e “dentro das regras éticas e morais”, mas que decide abrir mão do benefício para não dar “espaço para mentiras”.
Fato é que está lá, na lei aprovada pela Assembleia Legislativa que terminou com a pensão, goste-se ou não, que Leite teria direito ao rendimento por até quatro anos, e não de forma vitalícia. O valor recebido, de aproximadamente R$ 20 mil, também seria menor do que os R$ 30,4 mil pagos aos demais ex-governadores.
É só ler; concordar é outra coisa.
Está certa a Procuradoria-Geral do Estado (PGE) ao garantir ao pelotense o direito a receber 65% do valor, já que a lei que acabou com as pensões foi sancionada quando ele já havia concluído 65% de seu mandato (dois anos e sete meses).
O rendimento integral, atualmente em R$ 30,4 mil, é pago ainda a outras quatro viúvas de ex-governadores.
Isentando o Novo, que fez o questionamento nacional, choca-me testemunhar críticas feitas a Leite por outros políticos e simpatizantes, réus confessos de mal feitos como caixa 2 e que silenciam com Jair Bolsonaro ter uma fatura de R$ 1,2 milhão mensais no cartão corporativo da Presidência da República – com sigilo de 100 anos!
É um debate muito pequeno, rasteiro, fumaça pura.
Inegável é que resta um símbolo ruim o jovem de 37 anos – liberal na economia e nos costumes, meritocrático e preocupado com a tábua da previdência – ganhar sem trabalhar; mas é a lei, cumpra-se.
E tratemos de coisas que mexem mais com a vida dos gaúchos!
Ao fim, a fama do ‘estado mais politizado’, tão verdadeira quanto o ‘brasileiro cordial’ de Sérgio Buarque de Holanda, lembra-me Millôr:
“Simpósios universitários e religiosos pra confecção de planos práticos de controle de natalidade. Vistas controversas, choques de interesses, moralidades antagônicas. O evidente é que todo mundo, sem saber ajudar a atual geração, que não sabe pra onde vai, tenta influir na próxima geração, pra ver se ela não vem”.
Se em 2030, conforme o IBGE, o RS será terceiro estado brasileiro em envelhecimento, nossa política jaz, majoritariamente, há um bom tempo, entre novos velhos.