Escândalos do chefão da Câmara e dos rentistas do mercado financeiro deram o tom das pressões sobre o governo Lula. Compartilhamos o artigo do jornalista Xico Sá, publicado pelo ICL Notícias
A turma boa do Dicionário Oxford escolheu “Brain rot” (cérebro apodrecido ou atrofia cerebral) como a expressão do ano de 2024. Escolha excelente. O que apodrece o cérebro é o abestalhamento generalizado da humanidade diante do consumo de conteúdos imbecilizantes do lixão da Internet.
A equipe de Oxford pegou pesado, mas fez um belo alerta para quem está desperdiçando a vida com o que há de pior nas redes sociais e no monturo das páginas de desinformação. Uma situação tão deprimente quanto aquele sujeito sentado no trono de um apartamento, com a boca escancarada cheia de dentes, esperando a morte chegar — como antecipou o profeta Raul Seixas em “Ouro de tolo”, música de 1973.
Na sua coluna na Folha de S. Paulo, o jornalista e escritor Sérgio Rodrigues recorreu à política para apostar, de maneira sábia, na “chantagem” como a grande protagonista.
“A palavra de 2024 no Brasil, chantagem, é um substantivo feminino que chegou à língua portuguesa em fins do século 19, vinda do francês “chantage”. A “pressão exercida sobre alguém para obter dinheiro ou favores mediante ameaças” demorou todo esse tempo para subir na vida”, escreveu o autor de “O Drible” e “Viva a Língua Brasileira”.
Basta acompanhar, por cinco minutos, o noticiário do Congresso para entender o destaque que “chantagem” mereceu. O que Arthur Lira, comandante da Câmara dos Deputados, fez com o governo Lula, repetidas vezes, foi colocar essa faca retórica no pescoço presidencial.
Peço vênia aos dicionaristas de Oxford e ao craque Sérgio Rodrigues, opa, para eleger uma outra palavra: piti. Nada combinou mais com o Brasil safra 2024 do que este vocábulo extraordinário.
A palavra “piti”, assim como chantagem, também tem origem no francês. Vem de “pitiatisme”, que significa “forma exagerada de manifestação histérica”. Piti, matreiro substantivo masculino, é um chilique, um faniquito, um escândalo etc. Exemplo: Fulano deu o maior piti em Brasília porque não levou tudo que sonhou do Orçamento Sequestro.
Quem exaltou essa palavra foi o Flávio Dino, ministro do STF, em uma referência ao apetite pantagruélico da turma do Arthur Lira. Relembre: “Como um Poder fica dando escândalo toda vez que um outro decide? A democracia do ‘piti’ nunca tinha visto. O Supremo não pode decidir mais nada porque as pessoas dão escândalo. Temos que agir com prudência, mas nunca podem pretender um Judiciário amordaçado”, disse o maranhense.
Tanto “chantagem” como “piti” podem ser usadas, tranquilamente, para as pressões e reações do Congresso e do tal Mercado, vulgo Faria Lima. Ninguém sacaneou tanto os brasileiros e brasileiras como estas duas entidades. Que essa gente pegue mais leve em 2025.
Feliz ano novo!