As placas tectônicas da política viamonense se movimentaram gerando novos abalos sísmicos na estrutura da cidade, nesta quinta-feira, 13 de março, depois que veio à tona a nomeação do ex-prefeito Nilton Magalhães como chefe de gabinete do deputado estadual Valdir – Professor – Bonatto (ambos PSDB). Foi o reaparecimento público de Magalhães depois de um “sumiu, ninguém viu”, em que ele sequer entregou as chaves da Prefeitura ao seu sucessor, Rafael Bortoletti, no dia 1º de janeiro deste ano, no ato que deveria ter ocorrido de transmissão do cargo entre primeiros mandatários do município. No lugar do aperto de mãos, troca de gentilezas, sorrisos e abraços entre Magalhães e Bortoletti, restou ao novo prefeito entrar em uma sala vazia, dizer umas poucas palavras à reportagem do Seguinte:/Diário de Viamão, e procurar um copo com água gelada para refrescar as ideias diante do intenso calor de mais de 30 graus daquele dia.
Foi assim.
Mas, e as placas tectônicas? Acontece que na política elas se movimentam sempre que ocorrem mudanças de planos e rotas, aquilo que define os interesses futuros dos agentes que ocupam cargos aqui e ali, mas miram os de lá e acolá. É o caso de Magalhães. E do deputado Bonatto. E essa movimentação e mudança de direção não são de hoje, mas justamente nesta quinta-feira, 13 de março de 2025, aumentaram a falha de San Andreas, que isola os territórios chamados B e B – Bortoletti e Bonatto -, tendo em vista, justamente, o que vai acontecer daqui a, aproximadamente, um ano e meio, nas eleições de 2026, para a Assembleia Legislativa e a Câmara Federal. Bonatto quer ser deputado federal por Viamão. Ótimo. Aliás, excelente! O município precisa de um parlamentar na mais alta esfera para postular pelos interesses públicos, especialmente a destinação de verbas para aplicação em saúde, educação, segurança, estas coisas que todo mundo quer, em especial o prefeito Bortoletti, de olho nas cifras.
Mas justamente o deputado Bonatto pode ter feito, logo ali atrás, um movimento equivocado no tabuleiro do xadrez político ao vacilar na confirmação do nome de Rafael como candidato e, na demora em entrar na campanha. Bonatto olhou meio de longe a movimentação das tectônicas que levaram Bortoletti a ser candidato a prefeito de Viamão. E Nilton Magalhães, muito provavelmente esperando do professor-deputado um apoio à reeleição, deixou Rafael Bortoletti livre para arregimentar defensores do seu nome visando a construção da campanha que o levou à consagração, nas urnas, em 6 de outubro. O deputado tentou ficar com um pé em cada placa, apoiando (timidamente) Bortoletti, mas sem crucificar Magalhães pela situação em que deixou a cidade em plena campanha. Problema é que a fenda tectônica que se movimentou agora, afastando B e B, Bortoletti e Bonatto, politicamente, ainda mais um pouco, quase impede uma navegação serena pelo oceano que separa março de 2025 e outubro de 2026. É como se Bonatto colocasse os dois pés na placa de Magalhães.
O ex-prefeito Nilton Magalhães me falou, com todas as letras, que intenciona fazer dobradinha com Bonatto, ele para a Assembleia e o professor para Câmara Federal. Esquecem, porém, que (ambos!) têm base eleitoral em Viamão, onde deveriam estar unindo forças, nomes, sobrenomes e apelidos, para construírem candidaturas fortes, pujantes, inquebrantáveis. Conquistando no município expressiva votação, estariam pavimentando estradas retas para que pudessem chegar aos cargos pretendidos. Ao contrário, provocam explosões subterrâneas que agitam as tais tectônicas, dividindo o eleitorado filiado e simpatizante do partido ao qual pertencem os nomes envolvidos, o PSDB. Ora, que há inteligência política nisso, ninguém duvida. Porém, se acertada para um ou para outro, ou para todos, só as urnas vão dizer.
Fato é que o prefeito Rafael Bortoletti, pelo modo como venceu a eleição, com números robustos, com o trabalho que tem feito nestes menos de três meses de mandato, e se mantiver o ritmo, tende a ter controle de uma parcela ponderável, significativa, quem sabe majoritária, do eleitorado, e vai ditar o rumo do futuro eleitoral que Viamão e os viamonenses desejam, para implementar e manter seu desenvolvimento econômico, melhoria na geração de emprego e renda, melhor infraestrutura urbana, educação, saúde, segurança, enfim… Só que a falha de San Andreas registrada agora pela decisão do Professor Bonatto de dar guarida política (porque não pode haver interesse financeiro do engenheiro aposentado como funcionário de carreira da Prefeitura) ao seu amigo, escudeiro, aliado, Nilton Magalhães, expõe e torna mais claro o que já acontecia, nos bastidores, desde antes da definição de quem seria o candidato a prefeito em outubro do ano passado.
Magalhães, que não se incorporou e, segundo alguns vereadores, até mesmo sabotou a candidatura de Bortoletti, soma agora à candidatura de Bonatto à Câmara Federal. Soma? Bonatto, que se manteve gélido e escorregadio na hora de manifestar-se em apoio ao nome do seu correligionário e ex-secretário para ser o futuro prefeito, ganha com a nomeação de Magalhães como seu chefe de gabinete. Ganha? Aí, cria-se uma dúvida: até que ponto o ex-prefeito tem eleitorado capaz de contribuir para eleger o Professor Bonatto ao cargo que Viamão tanto precisa? E até que ponto o próprio Magalhães tende a arregimentar eleitores e conquistar uma votação capaz de ser um elo do município com o governo estadual, tendo a Assembleia Legislativa como canal de intermediação? É de se lembrar que os principais apoiadores de Magalhães (André Gutierres, Keno de Paula, Igor Bernardes…) naufragaram nas urnas.
A movimentação das placas tectônicas deste quase final de semana, ao meu ver, distanciam cada vez mais os dois polos. De um lado, Bonatto, ex-prefeito e escolado político, declaradamente Nilton Magalhães! E do outro, Bortoletti, o jovem prefeito de Viamão que trata de asfaltar ruas e estradas e desentupir valas e bueiros fermentando, tal qual confeiteiro de mão cheia, uma candidatura já esperada nas coxias da política local: do atual vice-prefeito e secretário municipal de Obras e Serviços Públicos, ex-vereador Maninho Fauri, para fazer a articulação entre o governo de Viamão e o Palácio Piratini a partir de janeiro de 2027, como deputado estadual com base eleitoral fincada na cidade das figueiras. A julgar pelo ensurdecedor estrondo que não se ouve, é uma queda de braço que não tem um resultado previsível, embora saibamos quem está de um lado e quem está do outro.
Em que pese, nos palanques, como nesta quinta-feira, na 4ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz em Viamão, estarem trocando sorrisos quase amarelos e abraços, podemos estar presenciando o início de uma nova era na política local.
Resta saber quem vai disparar os primeiros mísseis políticos da próxima eleição. E o eleitor, arrisca apostar?