pequenas empresas, grandes histórias

Plástico reciclável vira pallet na Costa do Ipiranga

Green Pallet, empresa fundada há sete anos em Gravataí, transforma cerca de 100 toneladas de plástico em pallets, por mês

No dia dedicado à Nossa Senhora da Imaculada Conceição, 8 de dezembro, e há quase sete anos, portanto lá em 2010, participei como jornalista da inauguração de uma empresa de Gravataí, a Green Pallet, que surgia como resultado de uma joint venture – uma parceria, no bom português – entre empreendedores gaúchos e o canadense Elgner Group.

Voltei agora à Travessa João Tavares, 245, uma via paralela a RS-118 na altura do quilômetro 11, na chamada Costa do Ipiranga. Eu e o Guilherme Klamt – editor de imagens do Seguinte: – fomos recebidos por Luciano Ribeiro, um dos diretores e representante do grupo gaúcho juntamente Carlos Vellinho, da Elgner.

A empresa cresceu. Enfrentou as dificuldades impostas pela instável economia brasileira, chacoalhada principalmente pelas sucessivas crises políticas, mas continua colocando no mercado cerca de 100 toneladas de plásticos transformados em pallets, ou cerca de 4 mil pallets por mês.

Os dois diretores são extremamente discretos. Seguem as orientações da Elgner canadense e sequer permitem que sejam fotografados. Entrevista em vídeo, também não. É uma política que seguem à risca. Carlos Vellinho pouco fala e é Luciano quem faz a vez de porta-voz da Green Pallet.

 

Automação

 

Segundo Luciano Ribeiro, o número de funcionários nem cresceu tanto nestes sete anos de trabalho. Eram em torno de 20 no começo, e hoje são 22. Mas a produção se ampliou e dos dois modelos iniciais passaram a ser produzidos atualmente 12 tipos diferentes de pallets, com diferentes aplicabilidades. Quase tudo devidamente automatizado.

Os palletes são produzidos com plásticos recebidos da reciclagem e beneficiamento ou de rejeitos de empresas como a Tetra Pak, que acaba recebendo na forma de produto plástico que manda para a Gree Pallet resultado do pós-consumo ou pós industriais. A matéria prima, em grande parte, vem de empresas recicladoras.

De acordo com o diretor Luciano Ribeiro, há uma dificuldade muito grande para fechar acordo ou adquirir das cooperativas de reciclagem, por falta de padrão na seleção do plástico conforme a cor ou a espessura. Se isso não for observado, gera retrabalho e aumento de custos dentro da Green Pallet já que esta separação é um cuidado necessário tanto para funcionamento das máquinas quanto a qualidade do que é produzido.

 

Como é feito

 

O processo se dá com o recebimento da matéria prima (leia-se plástico!) que, dependendo da classificação, vai direto para um equipamento em série que faz a moagem, trituração e aglutinação. O material todo é transformado em grânulos uniformes.

 

: Plástico que chega da rua passa por processo de transformação em grânulos

 

São estes grânulos que, mais adiante, abastecem a máquina de extrusão e injeção. Ou seja, um plástico em estado quase líquido é injetado em formas que dão origem aos pallets. Nada se perde em termos de matéria prima. O próprio pallet que por algum motivo não passou na avaliação de qualidade, volta a ser matéria prima da empresa.

Além de uma empresa da iniciativa privada que, como tal, tem a obrigação de cobrir os custos com o que comercializa, pagar salários, impostos e geral lucratividade, trata-se de uma organização que tem um viés ecológico, por retirar do meio ambiente material que, segundo especialistas, pode levar até 400 anos para se desintegrar.

Mais do que isso, gera atividade, ocupação e renda para organizações como as de catadores de materiais recicláveis. O que poderia ser ainda mais eficiente se houvesse, nestas organizações, um controle mais apurado sobre o que é separado tanto por peso, por espessura e cor, por exemplo.

Esta separação é necessária para que na hora da produção se estabeleça uma diferenciação entre o que é polietileno de baixa ou de alta densidade e o que é polipropileno. É material que, transformado em grânulos, precisa ter peso para abastecer a máquinas extrusora e de injeção.

 

Alta tributação

 

A Green Pallet vende seus produtos para todo Brasil, tem alguns clientes no Rio Grande do Sul, mas o forte da sua clientela está mesmo no eixo Rio de Janeiro e São Paulo. O sistema empregado na produção de pallets, de acordo com Luciano Ribeiro, não tem similar no Brasil, e tudo está de acordo com o que manda a ABNT, que é a Agência Brasileira de Normas Técnicas.

Nem Luciano, nem Carlos Vellinho, falam em números relacionados à movimentação financeira mensal. Luciano é quem dá a deixa e reclama da carga tributária que cobra 15% de imposto sobre o que é vendido no setor. É, segundo ele, uma taxação abusiva considerando que a tributação sobre um pallet de madeira é zero.

A atividade se mantém, em boa parte, por causa da conscientização de parte do empresariado sobre a durabilidade e eficiência do pallet de plástico, e em razão da existência de lei que torna alguns segmentos obrigados a utilizar este tipo de equipamento para movimentação de seus produtos, como as indústrias alimentícia e farmacêutica, entre outras.

E Carlos, até então atento à tela do computador na sua mesa de trabalho, entra na conversa quando questiono sobre a expectativa de curto prazo da empresa.

— Que as coisas se equilibrem em 2018 e que possamos crescer em 2019. E que a partir do ano que vem, das eleições e com quem for eleito, que o meio ambiente deixe de ser apenas tema de discurso, que essa tributação de um IPI (imposto sobre Produção Industrial) de 15% seja revisto e que pelo menos uma estrada decente seja feita para facilitar a vida de quem quer acessar a fábrica — afirma.

E conclui:

— Quem sabe com novos ventos seja reconhecido o esforço que a gente faz para trabalhar — afirma, numa referência às eleições para presidente e governador, além de senadores e deputados federais e estaduais em outubro do ano que vem.

 

SOBRE A CRISE

 

— A instabilidade econômica é sempre uma grande oportunidade para uma empresa crescer, enquanto a instabilidade política é a pior situação que pode enfrentar qualquer mercado.

Luciano Ribeiro – Diretor da Green Pallet

 

Para saber

 

1

A empresa produz em Gravataí o pallet plástico com maior capacidade de carga do mercado, inclusive com reforço metálico interno. Tem capacidade para carga estática de até 12 mil quilos

 

2

Os pallets da Green são todos – 100% – recicláveis, laváveis e higienizáveis, resistentes a óleos, graxas e outros agentes químicos, e não proliferam fungos ou bactérias (daí a utilização pelas indústrias de alimentos e de medicamentos).

 

3

A direção da empresa enfatiza que o maior atributo do pallet de plástico é a resistência e a possibilidade de ser reciclado. Um pallet eventualmente quebrado, em uma empresa que utiliza esse tipo de material, pode ser transformado em matéria prima e voltar para esta empresa em condição de novo.

 

4

A Green Pallet é a única empresa do gênero no Brasil que disponibiliza em seu site (www.greenpallet.com.br) um ‘consultor virtual’. Por meio dele o comprador pode especificar qual tipo de pallet necessita comprar para a movimentação de suas cargas.

 

5

Na sua linha de produção a Green Pallets possui cinco prensas substituíveis para fabricação de pallets de acordo com a demanda do cliente. São confeccionados pallets que têm de 20 a 34 quilos, comercializados por valores que variam, em média, de R$ 90,00 a R$ 200,00 a unidade.

 

Confira no vídeo abaixo a entrevista (somente áudio) com o diretor Luciano Ribeiro.

 

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