O delegado Newton Martins de Souza Filho, que responde pela 2ª Delegacia de Polícia de Gravataí, continua ouvindo depoimentos de moradores e de representantes da empresa Pauluzzi Produtos Cerâmicos Ltda (com sede em Sapucaia do Sul), para apurar o que houve no episódio do alagamento da última quinta-feira quando uma chuvarada – 125 milímetros – caiu sobre a região. O volume é equivalente à média esperada para todo mês de junho.
A novidade, revelada na conversa que o delegado Newton teve nesta tarde com a reportagem do Seguinte: é o sumiço dos (supostos) colchões que estariam sendo usados para obstruir a canalização de escoamento da água do terreno da cerâmica para um valão que costeia o Afonso Arinos.
— O encarregado da área diz que os moradores usaram colchões para obstruir a tubulação de saída d’água, o que obviamente é negado por eles — disse o delegado confirmando que o material – os colchões – só existe no depoimento de quem representa a cerâmica.
— Não existe foto ou filmagem, e nem foi encontrado nenhum colchão no local — comentou o delegado Newton, acrescentando que não tem prazo definido para o encerramento do inquérito.
Os moradores atingidos pelo aguaceiro com barro da quinta passada (1/6) no Loteamento Afonso Arinos, e de centenas de casas nas imediações do curso do Arroio Barnabé que transbordou inundando moradias e estabelecimentos comerciais – já estão, na maioria, identificados e qualificados na 2ª DP.
— Temos muitas imagens do que aconteceu. Infelizmente elas mostram apenas as consequências e não temos registros do que seriam as causas do transbordamento — disse o policial.
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Para saber
O assessor parlamentar na Câmara de Vereadores de Gravataí, patrão do CTG Tropeiro dos Pampas (da Morada do Vale II) e líder comunitário, Juliano Rocha Santos, fotografou e publicou no seu perfil na rede social Facebook o que, segundo ele, seriam funcionários da cerâmica utilizando uma retroescavadeira para abrir as valas que deram vazão às águas que invadiram as casas e estabelecimentos comerciais.
: Juliano fotografou máquina sendo usada na abertura de valas no terreno utilizado para extração de argila.
Meio Ambiente
A Fundação Municipal do Meio Ambiente (FMMA) já encaminhou um relatório preliminar com as conclusões obtidas até agora sobre o que aconteceu no episódio do alagamento no Afonso Arinos e ao longo do Barnabé, na quinta passada. O que consta no documento não foi divulgado pelo presidente da FMMA, Jackson Müller.
Se houve crime ambiental, ou não, Jackson passou a responsabilidade adiante.
— Essa avaliação será realizada pela Delegacia de Polícia. Há um inquérito policial em curso e foi realizada perícia na área, na sexta-feira, um dia após o fato — disse o presidente.
Ainda estão sendo recebidas na Fundação Municipal do Meio Ambiente as queixas de moradores e técnicos do órgão municipal continuam realizando diligências na área “de influência da situação”.
— É uma situação bastante séria e delicada, que deve ser apurada com cuidado e profundidade — sustentou.
O licenciamento
A exploração do terreno – com uma área de 84 hectares segundo informação do presidente da FMMA – está licenciada na Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) sob o número 01055/2016 DL.
O documento emitido pela Fepam tem validade de 1º de março de 2016 (início) até 1º de março de 2020, e está em nome da empresa Pauluzzi Produtos Cerâmicos Ltda.
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O telefonema
Na tarde de hoje a reportagem do Seguinte: entrou em contato com a sede da Pauluzzi em Sapucaia do Sul. A pessoa que atendeu ao telefone inicialmente julgou que se tratava de algum morador atingido pela água com barro:
O diálogo:
— Não consigo passar para ninguém aqui. O senhor mora em uma das casas?
— Não, sou jornalista do site Seguinte: de notícias e reportagens. Eu gostaria de falar com alguém da direção sobre o alagamento de quinta passada, saber o que aconteceu…
(Quando soube que era um telefonema da imprensa a atendente mudou o tom de voz)
— Só um momento, vou verificar!
(Foi possível ouvir a atendente conversando com outras pessoas)
— Olha, senhor, não tem ninguém da direção que tenha informação para lhe dar.
(Diante do pedido para falar com alguém que pudesse responder pela empresa, a atendente pediu para ficar com um número de telefone para que um representante da Pauluzzi retornasse a ligação, sem dizer quem, o que não aconteceu até esta matéria ser publicada no site)
— O senhor, por favor, deixe um telefone de contato que vou passar para a direção da empresa. Daí eles vão ver quem é que pode lhe atender.