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Por que a RS-118 não ficará pronta

Governador José Ivo Sartori mudou o discurso, quanto ao término da duplicação da RS-118, na inauguração do viaduto sobre a Estrada Itacolomi, em novembro passado. FOTO | Luiz Chaves/Palácio Piratini

A mudança de governo e o que sempre acontece quando um novo mandatário toma o assento principal em um gabinete como o do Executivo estadual, e no caso do Rio Grande do Sul no Palácio Piratini, devem estabelecer um novo ritmo à duplicação da RS-118, trecho entre Sapucaia do Sul e a Freeway, aqui na aldeia dos anjos.

Esse novo ritmo, diga-se de passagem, infinitamente mais lento. Quase parando. Em alguns casos, parando. O governador eleito dos gaúchos e que assume em 1º de janeiro que vem, Eduardo Leite (PSDB), já tem alguns abacaxis e pepinos em mãos como o pagamento do funcionalismo que vem sendo parcelado há mais de três anos.

Com cofres raspados para investir em infraestrutura, nem o que deve repassar para os hospitais filantrópicos do estado está sendo religiosamente cumprido, vai ficar fácil para o futuro governador justificar a suspensão das obras. Claro, vai culpar os governos anteriores ao seu pelo caixa zero.

 

Não cumpriu

 

Eu e vários colegas de imprensa, autoridades e populares ouvimos Sartori (PMDB), que assina seus últimos atos como governador, dizer que entregaria à duplicação da RS-118 à comunidade até o final deste ano. Ele disse isso em mais de uma oportunidade, com a aquiescência do então secretário estadual dos transportes, Pedro Westphalen.

Não cumpriu.

E este colunista foi o único no Vale do Gravataí e na Região Metropolitana – e isso inclui os ditos grandes veículos de comunicação da capital – a publicar, ainda em fevereiro passado, que o prazo tornado público por Sartori e seus assessores, especialmente Westphalen, não seria cumprido. E, daí, o problema nem era financeiro.

Afinal, o governo que se despede foi o que mais injetou dinheiro nesta duplicação que andava a passos de tartaruga e, desde o primeiro semestre de 2017, deu largas passadas rumo à sua conclusão. Aliás, a partir de 2015, quando assumiu, o estado aportou algo como R$ 180 milhões, segundo informações oficiais.

 

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Mudança de rota

 

O discurso de Sartori mudou agora no mês de novembro, quando o governador voltou a Gravataí para inauguração do viaduto da Estrada Itacolomi, obra de mais de R$ 20 milhões. Foi no dia 23, uma sexta. Na ocasião, o governante alterou a rota e a fala, claro sinal de que sua promessa não teria como ser levada a cabo.

— Nós estamos fazendo tudo aquilo que é possível dentro das condições financeiras que o governo tem. Nós fizemos a nossa parte gerenciando todas as finanças, mas nunca o estado passou por uma crise tão grande — afirmou, então.

Uma das bandeiras na Região Metropolitana da candidatura do Gringo à reeleição já vem capengueando desde outubro. Tão logo fecharam-se as urnas no segundo turno das eleições, em 28 de outubro, tornou-se público que a administração estadual tinha mais de R$ 30 milhões de repasses atrasados, que deveria ter feito para a Sultepa.

A empresa é a quem mais tem contratos na duplicação, dois lotes, desde o quilômetro 5 em Sapucaia até o 21,5, aqui em Gravataí, ali no trevo com a avenida Centenário-acesso ao Distrito Industrial. O lote 1, do quilômetro 0 ao 5, em Sapucaia, é da Toniolo Busnello, e é onde estão os maiores problemas.

 

IMPORTANTE

 

O coordenador do projeto de duplicação da RS-118, engenheiro Vicente de Britto, disse recentemente que são necessários ainda recursos da ordem de aproximadamente R$ 50 milhões para a duplicação da RS-118 ser concluída.

 

Ritmo reduzido

 

A situação atual, ainda antes da posse de Eduardo Leite, já é de desconforto e sobre isso não comentam nem o pessoal da Sultepa e nem o pessoal do Piratini. A escassez de recursos atrasou repasses, e o dinheiro cai a conta-gotas no caixa da empreiteira que já dispensou funcionários, desligou máquinas, e toca apenas o que é possível.

No dia 2 de janeiro, muito provavelmente, Eduardo Leite vai dizer que não tem dinheiro para pagar as indenizações e completar as desapropriações que faltam fazer em Sapucaia. Sem elas, não tem como fazer as obras andarem. Vai dizer que não tem dinheiro para mandar fazer as passarelas. São seis.

Não vai ter também como dar andamento sequer à construção de três viadutos, uma elevada e das pontes sobre o Arroio Sapucaia. E até a elevação do viaduto sobre a RS-020, já iniciada mas ainda não concluída, fica sob ameaça do que vai decidir o futuro novo – literalmente! – governador dos gaúchos.

Não quero ser pessimista.

Nem ser portador de más notícias.

Mas por tudo que apontam as circunstâncias e conhecendo como fazem os políticos e como são as ações quando se trata de obras e dinheiro públicos, não acredito que a fita inaugural definitiva seja cortada – ou os cones erguidos, prática dos governantes que se despedem – antes de 2022, que é quando haverá nova eleição para o governo.

 

IMPRIMA E GUARDE

 

O que eu acho que vai acontecer:
 

1 – Eduardo Leite vai assumir e paralisar as obras alegando falta de dinheiro.

2 – Depois de paralisado o serviço, parte do que está feito vai se deteriorar.

3 – Obras de arte precisarão ser refeitas. Isso implicará em novas licitações, que demandam tempo.

– Novas pistas já entregues ao trânsito como desvio também começarão a ter problemas e parte delas já terão que ser feitas outra vez. Mais licitação.

5 – Nos dois últimos anos do seu governo, de olho na reeleição e se a saúde financeira do estado tiver deixado a UTI, Leite vai mandar tocar as obras que estarão faltando.

6 – A inauguração vai acontecer no começo do segundo semestre de 2022, alguns meses antes da eleição para governador.

 

Está sendo feito

 

Duplicação do lote 1, do quilômetro 11 ao 21;
Duplicação do lote 2, do quilômetro 5 ao 11;
Duplicação da lote 3, do quilômetro 0 ao 5;
Recuperação de pista entre os quilômetros 5 ao 11 e quilômetros 11 ao 21,5;
Construção do viaduto da Avenida Marechal Rondon;
Construção de elevada sobre o poliduto da Transpetro;
Construção de viaduto sobre a Avenida Theodomiro Porto da Fonseca;
Sinalização da nova pista;
Viaduto sobre a linha do Trensurb;
Pontes do Arroio Sapucaia.

 

Faltam

 

Elevação do viaduto sobre a RS-020.

Construção de seis passarelas.

 

Gato escaldado

 

Do site gauchazh.com.br, como se comportaram os últimos governos em relação à duplicação da RS-118:

 

PT
As obras entre Gravataí e Sapucaia do Sul começaram em julho de 2006, mas só passaram a apresentar avanço, de fato, a partir de 2011. Em 2012, a obra chegou a receber o maior investimento até então. Foram R$ 27 milhões, no segundo ano da gestão de Tarso Genro. Porém, em outubro de 2014, após as eleições, a duplicação parou por falta de recursos. 

 

PMDB

Nos dois primeiros anos da gestão de José Ivo Sartori a obra não avançou. A alegação do governo é que este período serviu para planejar os trabalhos. A duplicação só foi retomada em 2017. Segundo dados divulgados recentemente pela Secretaria dos Transportes, a duplicação e restauração da RS-118 já recebeu R$ 170 milhões em investimentos na atual gestão. Os recursos são do caixa do Tesouro do Estado.

 

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