Desde 2013, o primeiro ano do mandato de estreia, Dimas Costa comemora o aniversário com festa ao estilo campanha eleitoral. Já virou um tradicional ‘baile político’ em Gravataí. E com janta paga, como o vereador orgulhava-se de dizer aos jornalistas, e foi possível testemunhar quando Fernando Pacheco, o Deadpool, personagem da aldeia foi até a fila do bufê e voltou comprar o ingresso para jantar com a família.
– Vendemos mil ingressos – calculava.
– Quem está aqui é porque confia em mim, admira o mandato ou vem curtir a festa. Mas ninguém é trazido em ônibus ou com convites ditribuídos – explicava, ao Seguinte: e aos jornalistas Gabriel Siota Ganzer e Luis Felipe Teixeira, do Giro de Gravataí, enquanto recebia os convidados que chegavam para fotos.
Às vésperas de 2020, as presenças gritaram mais alto do que as falas ao microfone, já que Dimas é notório candidato a prefeito e, ao fim de cada discurso, era repetido o bordão “2020 É Logo Ali”, criado pelo político quando concorreu à Assembleia Legislativa em 2018 e foi o mais votado em Gravataí, ficando como suplente.
Danrlei de Deus ganhou o aplausômetro, natural para o ídolo gremista. Hoje um ‘cartola’ da política, o deputado federal deu uma notícia que pode parecer apenas um daqueles discursos de motivação de vestiário, mas pode ter significado prático na eleição.
– O Dimas é o principal candidato a prefeito do PSD gaúcho. E tem todo apoio da direção nacional. Somos hoje o quarto maior partido brasileiro, com ideias novas e diferentes dos dinossauros de sempre e seus escândalos que todos conhecem.
Traduzindo, o PSD, aquele que brinco ser ‘insípido, inodoro e incolor’ ideologicamente, já que nos nove anos de existência tem se caracterizado por apagar a luz de um governo à noite e acender a de outro no dia seguinte, sinaliza a garantia de recursos para a candidatura de Dimas à Prefeitura de Gravataí.
Aos desavisados, 2020 é a primeira eleição municipal onde o fundo público de campanha responderá pelo grosso do financiamento da eleição. Dinheiro cuja distribuição é decidida pela direção nacional e estadual. A resenha de Danrlei evidencia que o partido poderá garantir ao gravataiense algo próximo ao teto da próxima campanha: meio milhão de reais.
Entre os presentes, surpresas não tão surpreendentes para quem acompanha a política da aldeia. E que lembraram o aniversário de um dos articuladores da campanha e apresentador da festa deste sábado, o advogado Cláudio Ávila, o que tratei no artigo Aniversário de Ávila; cinco personagens, uma incerteza.
Quatro, dos 21 vereadores, foram à festa.
Presença natural, Bombeiro Batista é colega de partido de Dimas e hoje um dos mais incendiários oposicionistas ao governo Marco Alba (MDB), com o qual rompeu em março descontente com a ameaça de extinção do IPAG Saúde, o plano de saúde que cobre cerca de 10 mil pessoas entre servidores ativos, inativos, pensionistas e familiares; e atualmente encontra-se em processo de substituição pelo Instituto de Saúde dos Servidores de Gravataí (ISSEG).
Alex Peixe, do PDT dos ‘Bordignons’ e da candidata a prefeita Anabel Lorenzi, saudou Dimas ao microfone, praticamente confirmando que seu caminho é o PSD, ou algum partido que orbite a candidatura do colega de legislativo, na janela de março, que permite a troca de sigla sem perder o mandato.
Ainda integrante do governo Marco Alba, Evandro Soares (DEM) compareceu e enfrentou uma ‘coletiva’ de imprensa, apertado pelos jornalistas sobre uma provável saída do governo e as especulações de que pode ser vice de Dimas em 2020.
– Estou aqui por amizade – disse, evitando subir ao palco, de onde minutos depois teve a versão confirmada por Dimas:
– Evandro é meu amigo, quando meu filho, há quatro anos, foi um dos primeiros a nos visitar no hospital, levou uma camisetinha do Grêmio para o Lorenzo…
O despiste não bastou aos repórteres.
– O que posso dizer é que estou em um governo de acertos e erros, e o Marco também é um amigo. Mas o DEM será protagonista nesta eleição, ou com uma candidatura a prefeito, ou a vice. É o que o Onyx quer – disse o vereador em segundo mandato, que não concorre à reeleição, explicando a missão recebida de Onyx Lorenzoni, ministro-chefe da Casa Civil do presidente Jair Bolsonaro.
Quando os discursos já tinham encerrado, Paulo Silveira, há duas semanas lançado candidato a prefeito pelo PSB, também entrou no salão para abraçar o colega de Câmara.
É outro nome sempre citado nas rodas e rodadas políticas como possível para vice de Dimas, ilustrando a articulação de uma aliança que chamo de ‘Centrão de Gravataí’, por buscar uma aproximação entre socialistas e ex-petistas, centristas e bolsonaristas na disputa pela Prefeitura em 2020.
Havia expectativa sobre a presença de Jô da Farmácia (PTB), mas o vereador optou por uma ‘festa do governo’, a Fearg, em Morungava. Sua mãe, a dona Erna, levou o abraço do filho a Dimas.
O discurso de Dimas também evidenciou a simpatia que tem de páginas das redes sociais. Sob os sorrisos de Odair Goulart e Gisa Santana, administradores das maiores comunidades da internet em Gravataí, relatou exemplo ocorrido na madrugada anterior, quando ia para casa após decorar o CTG Laço da Amizade.
– Fui marcado no Acorda Gravataí sobre uma criança sem atendimento no hospital. Quando cheguei, graças a Deus já tinha sido atendida. Poderia fingir que estava dormindo, mas sempre atendo. Não sou salvador da pátria, nem super-herói, mas sei para quê fui eleito.
Na hora das críticas, Dimas também foi ‘Centrão’, já que fez referência a “três capas negativas no Diário Gaúcho nas últimas semanas” (mesmo que sobre temas nada novos e, em certa medida, até alheios ao governo municipal, como a falta de médicos após a saída dos cubanos; Gravataí entre as piores cidades brasileiras no saneamento básico e a colocação como segunda no ranking da insegurança na região metropolitana) – mas também reconheceu feitos:
– Não cabem só críticas. Uso como exemplo as pontes do Parque dos Anjos. Mas essa obra, como outras tantas, já deveriam ter sido feitas há mais de 20 anos, tempo em que os mesmos governam, um ou outro, o poste de um ou o poste do outro. Sou candidato porque não me submeti a ser poste e acho que dá para fazer mais. Só o MDB administrou quase R$ 7 bilhões em orçamento.
– Me preparei para ser prefeito. Um prefeito que estará sempre nas ruas – concluiu, contado estar cursando pró-graduação em gestão estratégica de pessoas após se formar em gestão pública e lembrando seu projeto Mandato na Rua, onde faz atendimento nos bairros e vilas.
Não há dúvida de que Dimas subiu um degrau em relação a uma condição natural na política: a de ‘vereador eterno’. E será candidato a prefeito; sua companheira Anna Beatriz, conselheira tutelar mais votada na eleição, já é apontada como sucessora na Câmara. Quem estará com ele no ‘Centrão’, aguardemos. O que está conseguindo é se descolar do tradicional ‘GreNal político’ da aldeia, disputado entre Marco Alba e Daniel Bordignon que, pela primeira vez nas últimas duas décadas, estarão os dois sem a foto na urna, testando cada um o poderio como ‘Grande Eleitor’.
Ao fim, para um político de 38 anos, estar incomodando dois gênios da estratégia política local, como Marco e Bordignon, já deve ser motivo de festa para Dimas em 2020.
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