RAFAEL MARTINELLI

Por que impacta em Gravataí projeto do Estado de construir hospital regional em Viamão; A valsa dos 15 anos toca entre a esperança no futuro e a decepção do passado

Dom João Becker é administrado pela Santa Casa

O governo Eduardo Leite anuncia nos próximos dias a construção de um hospital regional de 600 leitos em Viamão, por meio de parceria público-privada.

Os reflexos serão gigantescos também para o sistema de saúde de Gravataí, que a cada 10 pacientes atende 2 de outros municípios da região metropolitana.

Porém, não por secação, mas por devoção aos fatos, aqueles chatos que atrapalham argumentos, também lembrarei neste artigo uma valsa de há 15 anos, em movimento semelhante por um hospital regional.

Antes vamos às informações, antecipadas neste domingo pela colunista de GZH Rosane Oliveira.

A projeção é iniciar em até um ano e meio a construção do hospital regional de alta e média complexidade, ao lado do atual Hospital de Viamão, em área cedida pela Prefeitura.

A PPP será conduzida pela Secretaria de Parcerias que, para estruturar o projeto, assina contrato nos próximos dias com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

O modelo apresentado pela Separ prevê a contratação de empresa privada para construir e, depois, administrar o hospital por entre 25 e 30 anos.

O hospital será mantido com recursos repassados pelo governo estadual para o SUS, mas o administrador poderá oferecer atendimento privado, desde que cumpra o contrato de serviços públicos.

Quando a parceria público-privada for a leilão, o vencedor será quem oferecer maior desconto nos repasses do governo estadual para prestar os serviços indicados no edital.

Após o fim do prazo da PPP, a estrutura do hospital volta para o patrimônio do Estado.

Não foi divulgado o valor estimado para a obra e custeio dos serviços.

Em Gravataí, o Hospital Dom João Becker, com menos da metade dos leitos, recebe cerca de R$ 50 milhões por ano em repasses feitos pela Prefeitura a partir de repasses federais, estaduais e recursos próprios.

O prefeito de Gravataí Luiz Zaffalon (PSDB) comemora o anúncio.

– Muito nos ajudará. A região é carente em assistência hospitalar. Hoje Gravataí, com seu pequeno hospital e demanda reprimida, serve de apoio para toda região. Mais um hospital nas redondezas desafoga nosso sistema e abre novas perspectivas – disse Zaffa, ao Seguinte:.

Conforme o secretário da Saúde de Gravataí, Régis Fonseca, a média de pacientes de outros municípios atendidos na rede de saúde de Gravataí é de 15%.

– A abertura de novos leitos é extremamente necessária para a região, especialmente para o atendimento de alta complexidade, que é de responsabilidade do Estado. Hoje temos, em média, 20 pacientes aguardando transferência para hospitais de Porto Alegre – diz o secretário.

Antônio Weston, superintendente do Hospital Dom João Becker, eleva esse número para 20% quando a referência são pacientes de Viamão, Cachoeirinha e Alvorada.

Conforme ele, em 2023 a média mensal foi de 25 mil pacientes atendidos nas emergências dos HDJB e nas UPAs, ambos administrados pela Santa Casa de Misericórdia. Pelo menos 5 mil a cada mês vem dos municípios vizinhos.

– A assistência hospitalar, não só de média e alta complexidade, mas como um todo, enfrenta uma realidade difícil no entorno de Gravataí. Toda iniciativa de ampliação é muito bem vinda – diz o médico.

Estudo divulgado pelo vereador Dilamar Soares mostra que nos últimos 10 anos foram fechados 40 mil leitos no Brasil, 1000 deles no Rio Grande do Sul.

– Só em Gravataí seriam necessários de 3 mil a 5 mil leitos – compara, usando projeções da Organização Mundial da Saúde (OMS) que trabalham com um mínimo de 500 leitos.

Hoje o hospital oferece 192 leitos e as UPAs outros 14 leitos.

– Quando leitos são fechados, ou o atendimento é restrito nos hospitais de Cachoeirinha, Viamão e Alvorada, estoura aqui. Quando faltam pediatras na região, é aqui que pacientes de outros municípios buscam atendimento. À noite, quando fecham os postos de saúde, e nos finais de semana, todo atendimento de Glorinha tem como referência Gravataí. O sistema de saúde é único e não restringe fronteiras, seja o paciente de Gravataí, do Oiapoque ou Chuí – diz o parlamentar, que reputo faz o debate mais qualificado, sem oportunismo político, sobre o atendimento da Santa Casa, que, por vezes, a custa de horas de espera e poltronas em vez de leitos, não deixa ninguém sem atendimento em Gravataí.

Ao fim, a notícia é ótima. Já o histórico de ideia semelhante recomenda certo ceticismo.

O “Hospital Regional do Vale do Gravataí” parecia uma realidade a partir de 2009.

O governo Tarso Genro (PT) tinha projeto para construção em Gravataí. Foram instaladas frente parlamentares na Câmara de Vereadores, Assembleia Legislativa e Câmara Federal. Prefeitos da região apoiavam a escolha pelo município.

Com o golpeachment que tirou a prefeita Rita Sanco (PT) da Prefeitura em 2011, o município de Alvorada, administrado pela petista Stela Farias, passou a frente nas prioridades políticas.

Dos ‘Grandes Lances dos Piores Momentos’, citações feitas no site da Prefeitura ao projeto do hospital regional restaram uma das absurdas denúncias listadas na abertura do processo de impeachment – dos 11 apontamentos, a ex-prefeita não foi condenada cível ou criminalmente em nenhum.

O governo Acimar da Silva (MDB), falecido prefeito eleito indiretamente pela Câmara após a cassação de Rita, chegou a oferecer área na parada 103, da Caveira, em 2021, mas gradualmente o governo estadual desligou os aparelhos do projeto.

Hoje, tem política na escolha feita por Eduardo Leite?

Viamão é administrada por Nilton Magalhães, prefeito do PSDB do governador e que tem como ‘Grande Eleitor’ o ex-prefeito, deputado estadual e um dos coordenadores políticos dos tucanos na região metropolitana.

Estamos em ano eleitoral.

O Estado justifica que Viamão foi o município escolhido a partir de estudo de demanda feito pela Secretaria Estadual da Saúde, que aponta déficit de especialistas no município e região.

Ao fim, aguardemos. Na torcida pela ideia e secando o passado. É inegável a emergência de mais leitos na região.

Para usar um lugar comum, no que se refere à assistência hospitalar, a saúde na Grande Porto Alegre resta na UTI.

E, como referi na abertura do artigo, e reforçam os depoimentos de gestores e políticos, a construção de um hospital, mesmo em Viamão, tem reflexos gigantescos em Gravataí.

Para efeitos de comparação: o Rio Grande do Sul tem 22 mil leitos para 8,5 milhões de habitantes. Em Gravataí, o volume anual de atendimentos pelo SUS, nos 206 leitos do HDJB e das UPAs, supera os 265 mil habitantes identificados pelo Censo 2022.

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