A operação 'Cidade de Deus' da Polícia Civil prendeu na manhã desta terça-feira o vereador de Cachoeirinha Juca Soares (PSD) e integrantes de facção responsável por três dezenas de homicídios, esquartejamento e tortura, que seria comandada pelo irmão do parlamentar. A investigação relata que o grupo é ligado a uma organização que explora tráfico e jogos de azar.
Reproduzo a reportagem de Humberto Trezzi e Cid Martins, em GZH, que teve acesso a peças da investigação que inclui áudios, mensagens e delação premiada, e sigo abaixo.
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Numa das maiores operações contra o crime organizado neste ano, o Departamento de Homicídios da Polícia Civil atingiu nesta terça-feira (3) uma facção que possui grupos diferenciados para lidar com tráfico de drogas, jogatina, assassinatos e apoio a políticos. É o que indicam as investigações, que resultaram em 20 presos — entre eles, um vereador de Cachoeirinha, José Francisco Soares, o Juca (PSD).
Desde a madrugada, estão sendo cumpridas 82 ordens judiciais, em oito municípios gaúchos. Os indícios são de que o grupo atuava sobretudo na Região Metropolitana, com foco em Cachoeirinha e Gravataí, mas que praticava extorsões e homicídios em todo o Estado.
Juca Soares é irmão do principal alvo da operação, Tiago Soares da Silva, o Tiago Pequeno ou Zé Pequeno, um dos líderes da facção Bala na Cara. Ele responde a nove inquéritos por homicídios e tem antecedentes por cinco assaltos a banco, roubo de veículos, arrombamento de caixas eletrônicos, tráfico de drogas e porte ilegal de arma de fogo.
Conforme as investigações, o vereador — que tem antecedentes por ameaça e introdução de telefone em penitenciária — receberia mesada da quadrilha e teria obtido ajuda para amedrontar rivais na política, inclusive com queima de placas e cartazes de propaganda de adversários.
Foi também apreendida documentação que mostraria contabilidade de supostas remessas de dinheiro dos criminosos para a campanha política de Juca. O vereador e alguns assessores tiveram a prisão preventiva decretada pela 17ª Vara Criminal de Porto Alegre, que lida com crime organizado.
O parlamentar já era investigado pelos mesmos motivos pelo Ministério Público Eleitoral, com vistas à possível cassação do mandato. As investigações da Polícia Civil apontam que ele receberia um percentual da arrecadação feita pela quadrilha em locais de jogatina clandestina. Mas há também indícios de ameaças no período eleitoral.
Assessores de Juca Soares teriam pedido ajuda a Pequeno, o irmão quadrilheiro, para "mandar uns piá para dar uma cobrada" nos cabos eleitorais adversários do vereador. Pequeno promete ajuda. Logo em seguida, uma gravação mostra Pequeno ordenando a expulsão dos rivais de Juca de uma vila em Cachoeirinha.
– Esses enrustidos, sem-vergonha… Eles nem sabem o tamanho da caminhada que nós temos e tão indo apoiar outras pessoas. O que tiver pela frente nós vamos atorar no meio. Ficam apoiando o cara da Vila Anair aí… Diz pra eles sumir, esses sem-vergonha!
Em outra conversa via WhatsApp, um quadrilheiro comenta sobre a notícia da busca realizada por promotores em residência do vereador Juca e fala:
– Só vou dizer uma coisa, querem usar a reportagem do Zé (Pequeno) pra ferrar o Juca, né… Pois vamos ferrar eles. Se sair qualquer coisa deles, vou matar todo mundo. Pode ser o capeta, tô nem aí. É pra jogar sujo, vamos jogar sujo.
Outros diálogos colocam o vereador como suspeito de receptação de carros roubados. Ele era dono de uma oficina em Gravataí.
– Ele fazia os carros para nós. Clonava, trocava placa, vidro, motor, isso em 2015 e 2016, a gente levava os carros para ele – relata um quadrilheiro ouvido pela polícia.
Pequeno e os principais aliados na facção já estão presos e tiveram decretada nova prisão preventiva.
A investigação da Polícia Civil começou quando foi preso um suspeito de homicídio, ligado à facção. Ele se dispôs a firmar uma colaboração premiada, aceita pela Justiça.
O homem acabou confessando 10 assassinatos em que ele mesmo esteve envolvido (a polícia só sabia de um) e detalhou ao todo 31 mortes que teriam sido efetuadas pela quadrilha de Pequeno, por meio de 79 matadores. O colaborador está agora no programa Protege, destinado a testemunhas ameaçadas.
A maioria dos assassinatos relatados pelo delator são contra rivais de outras quadrilhas. Um deles é de um gerente de facção rival, Os Manos, que atuava em Canoas. Conforme a narrativa, ele foi sequestrado por quadrilheiros vestidos com uniformes da Polícia Civil — ligados a Pequeno — e esquartejado, com execução filmada e divulgada em redes sociais para assustar adversários.
Outro caso notório é uma chacina em Mostardas, ocorrida em 2019, quando bandidos entraram de madrugada em uma boate a atingiram 10 pessoas com tiros, matando cinco delas. O crime é atribuído, nas investigações, à quadrilha de Pequeno, em desacerto por pontos de prostituição e drogas.
Em outros casos, os homicídios foram de criminosos da própria facção, que tinham dívidas. Há também casos de pessoas mortas por engano, como de um empresário dono de uma Range Rover. Ele foi assassinado ao ser confundido com um familiar, o verdadeiro alvo da quadrilha.
Nos celulares de alguns suspeitos de crimes foram apreendidos vídeos com tortura de adversários, com fuzilamento de outros e também diversas fotos em que eles exibem farto armamento.
Até as 7h15min, 20 dos 21 mandados de prisão haviam sido cumpridos, sendo que 18 alvos já estavam no sistema carcerário. Duas pessoas foram presas em flagrante.
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Ao fim, como em Preso líder de facção suspeito de financiar campanha de vereador de Cachoeirinha, mantenho minha posição de sempre, com qualquer pessoa: não sou daqueles que, para caçar-cliques, permito aos políticos apenas a presunção de culpa.
Ser irmão de um suspeito de alta periculosidade não significa que o vereador Juca é culpado.
Aguardemos os desdobramentos da investigação, que parece bem comprometedora; uma possível ordem de afastamento do vereador do mandato pelo Tribunal de Justiça e o posicionamento da Câmara de Cachoeirinha, onde a suplente de Juca é Pricila Barra (PSD), que fez 645 votos, e pode cassar o parlamentar por quebra de decoro parlamentar.
Já no Grande Tribunal das Redes Sociais a condenação é impiedosa.
Sigo tentando contato com a defesa de Juca.
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