RAFAEL MARTINELLI

Prefeito Cristian pagou R$ 100 mil por transmissão do Balanço Geral nos 57 anos do município; A ‘Pobre Cachoeirinha!’ e o Brejal dos Guajás

Imagem publicada pela Prefeitura de dia da festa de 57 anos de Cachoeirinha

Custou R$ 100 mil para a Prefeitura a transmissão do Balanço Geral, da TV Record, ‘presente’ que o prefeito Cristian Wasem (MDB) decidiu ofertar nos 57 anos de Cachoeirinha.

Clique aqui para ler o contrato, incluso custos com shows de Tchê Barbaridade e MC Jean Paul, no Parcão.

Reputo ‘Dos Grandes Lances dos Piores Momentos’ para a ‘Pobre, Cachoeirinha!’, onde tapa-buraco é obra.

Parece-me aquela família mal das pernas financeiramente que, ao comemorar o aniversário da criança banca uma boca-livre para adultos com a intenção de restar ‘bem falada’ entre gente que vai reclamar se era Pepsi ou Coca na mesa.

O contrato de inexigibilidade, que não necessita de licitação (a concorrência pública), tem como empresa contratada a TV Guaíba LTDA.

Restei saudosista da TV 2 Guaíba, com as vinhetas de via láctea; o Remendão; os filmes O Inquilino e Fase IV; os musicais obscuros de free jazz; o Rosa Tattooada no Tele Ritmo do Clóvis Dias Costa; o Rogério Boelcke narrando o grito silente do dragão de komodo…

A escolha do prefeito me lembrou a ‘resenha’ do Millôr sobre Brejal dos Guajás, ‘obra’ do Sarney.

1) Sobre Brejal dos Guajás, de José Sir Ney, li entusiásticas opiniões de luminares da cultura literária: “Uma nova vertente da literatura do Nordeste”. Carlos Castello Branco. “Grande escritor”. Josué Montello. “Lamento que José Sarney não dedique todo seu tempo à literatura”. Alçada Baptista. Por isso reli Brejal. Conclusão imediata: não se trata de má ou péssima literatura. Não é caso de crítica literária. É caso de impeachment.

2) O livro não tem uma só frase que não seja errada em si mesma ou incoerente em relação às outras. Perto da estrutura de Brejal dos Guajás, os personagens da Escolhinha do Professor Raimundo, do Chico Anísio, são obras-primas de criação psicológica, heróis de Guerra e Paz.

3) O Brejal só pode ser considerado um livro porque, na definição da Unesco, livro “é uma publicação impressa com um mínimo de 49 páginas”. Dizem os íntimos que, depois de 20 anos de esforço, Sir Ney conseguiu afinal chegar à página 50, e gritou pra dona Kyola: “Mãiê, acabei!”.

4) Brejal tem mais solecismos do que concordâncias, as idéias nunca se completam e sempre se contradizem. A cidade onde acontece a história não tem escolas, mas tem professores e alunos, não tem telégrafo, mas transmite e recebe telegramas, não tem edifícios públicos, mas tem prefeito, prefeitura, juizado de casamentos, dois cartórios, ostenta força policial de pelo menos 12 homens (relativamente o Rio teria que ter meio milhão de policiais), é dominada por dois primos “de pais diferentes!!!”, só tem duas ruas (uma impossibilidade urbanística), tem duas orquestras, e comporta ainda mercado, lojas e igreja matriz. Essas duas espantosas ruas de apenas 120 casas abrigam uma população de 12.683 pessoas (105 pessoas por casa). O verdadeiro baião do maranhense doido!

5) Brejal dos Guajás é um desses livros que quando você larga não consegue mais pegar.

Sigo eu.

Se o prefeito Cristian acha que Cachoeirinha tem a cara do Balanço Geral – e, para agradar sua comunidade, paga R$ 100 mil para a TV Record, do bispo Edir Macedo da Igreja Universal do Reino de Deus, fazer a festa de aniversário do município – é uma escolha sua; e talvez esteja certo e eu errado na crítica; é justo registrar que, no cálculo do governo, “milhares de pessoas” participaram da festa.

Ao fim, resta a ‘Pobre Cachoeirinha!’ com uma década de malfeitos, impeachments, golpeachments, cassações, facções, mas para mim ainda não é Brejal dos Guajás.

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