Fica a dica para os prefeitos Luiz Zaffalon (PSDB) e Cristian Wasem (MDB): contratem a MetSul Meteorologia para fazer as previsões do tempo e confiar seus alertas para crises climáticas e remoção de famílias de áreas de risco em Gravataí e Cachoeirinha.
É impressionante o nível de acerto do instituto gaúcho. Acertou no ciclone de junho, a maior catástrofe da história de Gravataí, e acertou também agora na tragédia no Vale do Taquari.
Os dados estão nota oficial em que a MetSul contesta informações dadas pelo governador Eduardo Leite (PSDB) à GloboNews nesta quarta-feira, de que modelos matemáticos de previsão do tempo de institutos meteorológicos não indicavam o volume de chuva que atingiu o estado nos últimos dias.
– Os modelos matemáticos previram as chuvas, em intensidade, mas não previram o volume de cerca de 300 milímetros nas diversas bacias hidrográficas da zona Norte do estado, da Região Noroeste, da Região Serrana, do Vale do Taquari, este que foi mais afetado – disse Leite ao programa Em Pauta, onde se desentendeu com o jornalista André Trigueiro, especialista na pauta ambiental.
“A declaração do governador, infelizmente, não procede”, contesta a MetSul na nota que você na íntegra clicando aqui.
“A MetSul Meteorologia foi o único ente de previsão do tempo a advertir para a possibilidade de volumes de chuva acima de 300 mm na Metade Norte gaúcha neste começo de setembro. Como em junho tinha sido o único a alertar para a chuva extrema de 350 mm no Litoral Norte no ciclone. Como em fevereiro último emitiu a única previsão de chuva de 500 mm a 700 mm no Litoral Norte de São Paulo, prognóstico que foi reputado como ‘impossível’ por especialistas ouvidos na mídia”, diz trecho da nota.
Segue: “Estas previsões foram baseadas na experiência dos nossos profissionais de até 40 anos no ramo meteorológico e nas nossas ferramentas de previsão do tempo em que a nossa empresa investiu nos últimos anos que incluem modelos próprios e os de maior índice de acerto do mundo, considerados ‘padrão ouro’ na ciência meteorológica. No dia 31 de agosto, cinco dias antes da catástrofe, a MetSul Meteorologia publicou alerta com o título: Setembro começa com chuva extrema, onda de tempestades e enchentes. O aviso trazia projeção de modelo de 300 mm a 500 mm na Metade Norte e a nossa advertência de que poderia chover mais de 300 mm”.
Mais: “No dia seguinte, em 1º de setembro, 72 horas antes do desastre, novo alerta sob o título Alerta: chuva virá com volumes excepcionais de até 300 mm a 500 mm. O texto dizia que “o cenário de precipitação para estes primeiros dez dias de setembro não tem precedentes nos últimos anos”, acrescentava que “os acumulados de precipitação em algumas cidades gaúchas somente durante os primeiros dez dias do mês podem atingir praticamente a média histórica de chuva de toda a primavera” e enfatizava que “a situação foge ao convencional”. O alerta assinalava que “estatísticas históricas do Brasil e do exterior mostram que o excesso de chuva causa mais vítimas fatais que vento forte ou tempestades, assim chuva extrema é situação de elevado perigo”. Destacava ainda: “bacias de maior risco são aquelas que cortam o Noroeste, o Norte, o Centro e o Nordeste do estado, o que inclui os rios que cortam os vales (Taquari, Caí, Sinos e Paranhana) assim como o Jacuí e o Uruguai”. E advertia para enchentes repentinas com o aviso de potenciais acidentes fatais com veículos em correnteza, causa de algumas das lamentáveis mortes neste evento trágico”.
Como fica comprovado, os modelos, assim, anteciparam os volumes de chuva.
“A gravidade do que se avizinhava já era conhecida muitos dias antes. A ciência meteorológica cumpriu o seu papel. O governador tem o nosso irrestrito apoio agora para exercer o seu papel que é liderar os gaúchos nos esforços incansáveis de ajuda e reconstrução das comunidades atingidas, vítimas de colossal desastre que nenhum meteorologista jamais deseja prever ou noticiar, assim como mandatário algum deseja enfrentar em seu mandato”, conclui a MetSul.
Ao fim, não contém (o que seria um absurdo) ironia neste meu texto: o instituto previu as duas catástrofes mais recentes do Rio Grande do Sul com precisão impressionante.
Também apelei por mais técnica e menos achismo ontem em Não há risco de água das cheias mortais desabrigar famílias em Gravataí; A realidade impõe soluções ‘de estado’, não só ações emergenciais e achômetros. Sigo com a mesma conclusão, hoje:
Reputo um horror politizar catástrofes – e assim analisei em junho, em Ciclone foi uma das maiores catástrofes da história de Gravataí: prefeito Zaffa faz o que pode, comunidade faz ainda mais; O rio que corre contra o oportunismo político –, mas, frente a uma realidade que se impõe, precisamos achar saídas definitivas, nem que precisem ser pactuadas pelas forças políticas para ser executadas por uma década; enfim, as políticas de estado, que mencionei.
Fato é que a frequência dos ‘fenômenos naturais’ obriga a aumentarmos orçamentos, municipais, estaduais e federais para obras e remoções de família, além de recorrer a estudos técnicos e especialistas, que saibam que é o Gravataí que corre para o Guaíba, e não o contrário.
Conforme levantamento divulgado pelo jornalista Leandro Demori, o Vale do Taquari sofre com a segunda maior enchente de sua história. Das 10 maiores cheias documentadas, 7 aconteceram dos anos 2000 para cá, sendo três nos últimos quatro anos.
Gravataí, por sua vez, experimentou em junho a maior catástrofe de sua história.
Só em 2023 – até agosto o ano mais quente da história no mundo, conforme o observatório europeu Copernicus – quase 2 a cada 10 brasileiros tiveram prejuízos com chuvas e ventos.
O El Niño é um gigante real.
O aquecimento global não é um monstro infantil da menina Greta; recomendo a entrevista Eliane Brum: “O Brasil hoje é a periferia da Amazônia”, publicada hoje pelo Seguinte:.