A crise política segue chutando as portas da Prefeitura de Cachoeirinha após a abertura do processo de impeachment contra o prefeito Cristian Wasem (MDB) e o vice Delegado João Paulo Martins (PP). Dois secretários municipais pediram demissão nesta terça-feira (27): Neka Fagundes, da Habitação, que é do partido do vice-prefeito, e Tiago Allmer, da recém-criada Secretaria de Comunicação.
As saídas ocorrem três dias após a debandada de cerca de 100 cargos comissionados (CCs) ligados à base de vereadores que votaram pela admissibilidade do impeachment.
Neka Fagundes pediu exoneração após chegar à secretaria e encontrar as fechaduras trocadas.
– Saio de cabeça erguida. Há muito tempo não se ouvia falar em habitação em Cachoeirinha. Hoje começo a compreender por que 13 vereadores da cidade decidiram acatar o pedido de impeachment do prefeito – disse ao Seguinte:.
Ela é ligada ao vereador Tiago Eli (PP), que votou a favor da abertura do processo que pode levar à cassação e inelegibilidade de prefeito e vice por oito anos.
Ela também enviou nota, que está no fim da reportagem.
A situação foi interpretada por aliados como um gesto de ruptura definitiva entre o núcleo político do governo e parte do grupo histórico que apoiou a reeleição de Cristian desde o início do mandato.
Allmer enviou nota ao Seguinte:, visualizou mensagem, mas não respondeu até o fechamento da reportagem.
“Estou deixando o governo Cristian por entender que o meu ciclo chegou ao fim. Entrei na gestão com o compromisso de ajudar a estruturar a comunicação institucional, algo que o próprio prefeito havia colocado como prioridade para o governo. No entanto, com o passar do tempo, percebi que essa centralidade nunca se concretizou”, afirmou.
A nota completa está no fim da reportagem.
Ildo Júnior, da Cultura, ligado à presidente da Câmara Jussara Caçapava (Avante), já tinha sido demitido na sexta-feira.
André Lima, assessor especial do Gabinete do Prefeito, respondeu ao Seguinte: por nota.
“Lamentamos a saída, de forma voluntátia, de dois colaboradores que compunham o primeiro escalão do governo municipal, pois prestavam relevantes serviços em suas áreas de atuação”, afirmou o principal porta-voz do governo na crise do impeachment.
A troca das fechaduras, conforme André Lima, tem relação com a série de demissões da sexta: “Quanto à troca das fechaduras, foi medida preventiva recomendada pela Secretaria de Segurança, seja por documentos lá arquivados, como para preservação do patrimônio lá existente, visando a retomada da normalidade”.
As saídas acontecem no momento em que o prefeito enfrenta duas frentes de risco: o impeachment político na Câmara e a Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE) que pode levar à cassação judicial de seu mandato.
Portas abertas, portas fechadas
A onda de demissões começou quando Cristian determinou a exoneração de servidores ligados à presidente da Câmara e a vereadores da base — entre eles Zeca dos Transportes (MDB) e Otoniel Gomes (MDB) e Gilson Stuart (Republicanos) —, em aparente retaliação à aprovação do impeachment.
O gesto, segundo aliados, teve o objetivo de reafirmar autoridade política após a derrota simbólica na Câmara, que aprovou o processo por 13 votos a 4. O efeito, porém, foi o oposto: desencadeou uma reação em cadeia de pedidos de demissão e agravou o isolamento político do prefeito.
– Os vereadores não aceitam a interferência do Executivo em um procedimento do Legislativo – disse ao Seguinte: uma das lideranças da base dissidente, ao confirmar a entrega coletiva dos cargos.
Na Câmara, a Comissão Processante do impeachment avança com os trabalhos, investigando denúncias de abuso de poder político e econômico, repasse irregular de R$ 2,7 milhões durante as enchentes de 2024 e suposto superfaturamento na compra de telas interativas.
O prefeito e o vice devem apresentar nesta semana suas defesas.
Já a AIJE, que tramita na 143ª Zona Eleitoral, deve ter sentença publicada no início de novembro.
Uma eventual condenação judicial fortaleceria o discurso pela cassação e poderia acelerar a queda do governo, já que os dois processos — político e judicial — correm paralelamente e tem as mesmas denúncias como principais pilares.
Já uma absolvição por falta de provas na justiça eleitoral aumentaria o caráter político — e não jurídico — de uma cassação por impeachment na Câmara.
A nota de Neka
Deixo o governo Cristian de cabeça erguida e com a consciência tranquila de quem sempre lutou pela moradia digna e pelos que mais precisam.
Infelizmente, no dia em que se celebra o servidor público, o prefeito decidiu trocar todas as chaves das portas da Secretaria de Habitação sem qualquer aviso prévio à equipe. Esse gesto, além de desrespeitoso, demonstra que o foco da gestão está em tudo, menos nas verdadeiras demandas da cidade — especialmente na luta por moradia digna.
Para poder acessar o prédio, precisei acionar a Guarda Municipal, que prontamente me auxiliou. Diante da situação, registrei um boletim de ocorrência na Polícia Civil, como forma de me resguardar, caso ocorra o desaparecimento de documentos, equipamentos ou dados do sistema, que possam gerar acusações injustas a mim ou à minha equipe.
Sou militante da moradia digna há mais de 25 anos e jamais havia sido tratada com tamanha falta de respeito. Nos últimos dias, tenho escutado que até o final do processo de impeachment do prefeito outros secretários também deixarão seus cargos — o que indica que dificilmente restará alguém da atual equipe no governo.
Hoje, começo a compreender por que 13 vereadores da cidade decidiram acatar o pedido de impeachment do prefeito.
A nota de Allmer
Estou deixando o governo Cristian por entender que o meu ciclo chegou ao fim. Entrei na gestão com o compromisso de ajudar a estruturar a comunicação institucional, algo que o próprio prefeito havia colocado como prioridade para o governo. No entanto, com o passar do tempo, percebi que essa centralidade nunca se concretizou.
Em qual cidade uma reforma administrativa ocorre dez meses após o início do mandato — quase doze meses depois da eleição? Em Cachoeirinha, infelizmente, foi assim. E isso é triste, porque as políticas públicas não podem esperar um ano para começar a acontecer.
No caso da comunicação, ficamos para trás. O setor não foi chamado para o centro do debate e acabou sendo reduzido a uma função meramente operacional. Comunicação pública não se resume a vídeos em redes sociais; ela é instrumento de transparência, diálogo e construção de confiança entre governo e sociedade.
Não guardo nenhuma mágoa do Cristian — ele é uma pessoa de bom trato, um cara gente fina. Mas, como prefeito, perdi a esperança de que haja uma mudança de rumo. E com o processo de impeachment em andamento, é evidente que o foco da gestão não será a comunicação pública. Diante disso, não há mais razão para eu permanecer.
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