RAFAEL MARTINELLI

“Preocupa”, diz Zaffa sobre parada da GM entre abril e junho; Os porquês do lay-off, como ficam os funcionários e quais as perdas para Gravataí

Funcionários da GM aprovaram acordo de lay-off em assembleia

A General Motors (GM) iniciou nesta terça-feira uma nova etapa de suspensão de atividades fábrica de Gravataí, após a paralisação de um mês em fevereiro. Entre abril e junho, cerca de 2 mil funcionários da montadora e de empresas fornecedoras, as chamadas sistemistas, entram em lay-off (suspensão temporária de contratos), enquanto a empresa ajusta a produção ao ritmo de vendas e aguarda definições sobre políticas globais que impactam seus investimentos, incluindo medidas do governo Trump nos EUA.

A GM é a maior empregadora de Gravataí e responde por quase metade da arrecadação municipal.

– É preocupante. A direção da empresa me diz que é natural e necessária uma adaptação ao que sinaliza o mercado. Temos muita esperança de retomar as vendas com o novo Onix e o novo SUV. O anúncio de uma reestilizada no modelo existente provoca isso – disse ao Seguinte: nesta terça-feira o prefeito Luiz Zaffalon (PSDB), que desde o anúncio no lay-off em fevereiro tem monitorado a situação junto às direções da montadora e do Sindicato dos Metalúrgicos de Gravataí (Sinmgra), além do governador Eduardo Leite (PSDB).

– Uma parada de um mês da GM acarreta uma perda aproximada de R$ 500 mil em ISSQN, relativo a serviços tomados, ou seja, aqueles contratados de transportadoras, alimentação, segurança, etc. No ICMS, daqui a dois anos teremos o reflexo – contabiliza.

Cada mês de paralisação representa cerca de R$ 5 milhões perdidos em arrecadação, que se reflete sempre dois anos depois.

Além disso, a suspensão do vale-alimentação de R$ 350 mensais por trabalhador – mantido durante o lay-off a partir de negociação sindical – retiraria R$ 1,5 milhão mensais da circulação local, conforme destacou Valcir Ascari, o ‘Quebra-Molas’, presidente do Sinmgra.

Os trabalhadores afetados receberão salário integral, com parte paga pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) do governo federal e complemento da GM. Direitos como 13º salário, participação nos lucros (PPR) e vale-alimentação serão mantidos.

– Entre demissões e o lay-off, a melhor alternativa é preservar empregos – resumiu ao Seguinte: Edson Dorneles, diretor jurídico do sindicato, após a assembléia que confirmou por ampla maioria o acordo entre montadora e funcionários.

Fato é que a fábrica, que produz o Chevrolet Onix e Onix Plus – líderes de vendas no Brasil –, enfrenta um dilema: 20 mil veículos estocados, quase três vezes acima do nível considerado ideal (7 mil unidades). O excesso é atribuído à queda na demanda enquanto a GM prepara o lançamento de uma nova geração do Onix, redesenhado com inspiração no Monza chinês, e aguarda a chegada de um SUV elétrico.

– O consumidor prefere esperar o novo modelo com tecnologia atualizada. É uma consequência de uma decisão de negócio – explicou Dorneles.

A montadora já havia concedido férias coletivas a 5 mil trabalhadores entre 17 de fevereiro e 7 de março, seguida de folgas remuneradas; leia em GM paralisa produção em Gravataí por excesso de estoque e ajustes na demanda.

Os investimentos e o tarifaço de Trump

Apesar do cenário, a GM reforçou seu compromisso com o Brasil: em 2024, anunciou R$ 7 bilhões em investimentos no Brasil até 2028, dos quais R$ 1,4 bilhão será destinado à planta de Gravataí.

Um novo aporte de R$ 4 bilhões, previsto para maio, foi adiado devido à incerteza sobre medidas do governo Trump, como possível aumento de tarifas para importações chinesas e mexicanas – algo que afetaria cadeias globais da montadora; leia em GM projeta novo investimento bilionário no Brasil – e Gravataí: anúncio foi adiado por expectativa sobre medidas de Trump.

Mary Barra, CEO global da GM, admitiu em outubro de 2024 que políticas protecionistas de Trump poderiam ter “efeitos dramáticos”, especialmente sobre veículos elétricos, já que a empresa planeja lançar no Brasil modelos como o Tracker híbrido flex e a picape Silverado EV; leia em Se Trump cumprir o que prometeu, será ruim para a GM.

O discurso de posse de Trump, criticando o “Green New Deal” e o incentivo a carros elétricos, reacendeu o alerta.

A paralisação também acontece em meio a um cenário de incertezas globais agravado pelas recentes tarifas de importação anunciadas pelo presidente estadunidense, como reportei em Como tarifaço de Trump pode agravar motivo da paralisação da GM de Gravataí entre abril e junho; O boné do MAGA na gaveta.

A suspensão na produção acontece principalmente pelo excesso de carros no pátio. E o impacto indireto do tarifaço, que aumentou globalmente tarifas para importações, atingindo principalmente montadoras chinesas e mexicanas, pode ser o possível aumento da entrada de excedentes de produção estrangeira no mercado nacional.

Especialistas apontam que o Brasil, embora não exporte carros prontos aos EUA, pode se tornar destino de excedentes de países mais taxados, como México e Coreia do Sul, devido a acordos de livre comércio.

O alfabeto da economia

Para o prefeito e o sindicato, o risco de demissões em massa, ou até o fechamento da fábrica, são descartados.

– Nos garantiram o investimento – disse Zaffa, sobre ter recebido da direção da montadora, na festa de 100 anos da GM, a confirmação do R$ 1,2 bi anunciado em 2024.

– Novos investimentos já são visíveis para o SUV na planta de Gravataí – observa o diretor do Sinmgra, Edson Dorneles.

Ao fim, é o (bom) normal da economia local, desde a explosão de crescimento a partir do anúncio da instalação da montadora em 1997.

A cada movimento da GM, no mundo, no Brasil ou no Rio Grande do Sul, Gravataí acende o alerta, para o bem, ou para o mal. É a ‘GMdependência’, que responde por metade da arrecadação do orçamento de R$ 1,4 bi para 2025. Ou ‘Interdependência’, expressão que executivos da montadora usaram para se referir a Gravataí na festa dos 100 anos, em São Paulo.

Mais que fazer o L, o B, o X ou o Z, o alfabeto da economia da aldeia resta sempre ligado às tensões da economia global.

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