caos prisional

Prisão ao ar livre está lotada em Gravataí

Viaturas transformadas em celas acumulam presos na frente do prédio onde ficam as delegacias no Parque dos Anjos

Forte mau cheiro. Beirando a fezes e carne em estado de putrefação. Feridas sem tratamento ou cuidados médicos. Restos de alimentos levados por familiares acondicionados em sacos plásticos ou nas próprias roupas. Necessidades básicas, como urinar, sendo feitas improvisadamente, como em galões ou garrafas plásticas.

Falta de higiene total, sem banho há vários dias. Situação psicológica completamente alterada pelo estresse de estar há vários dias, sob chuva e frio ou sol forte e calor, algemados uns aos outros ou aos bancos ou ferros das grades das celas em que foram transformadas camionetes da Brigada Militar.

 

Nada igual

 

Esta é só uma pincelada do quadro caótico que enfrentavam agora à tarde 19 presos que aguardam vaga no sistema prisional gaúcho na frente do prédio onde funcionam as Delegacias de Polícia de Pronto Atendimento, Delegacia da Mulher, Delegacia de Homicídios e Delegacia Regional de Polícia, no Parque dos Anjos.

No total 21 detentos, dois deles na carceragem da Polícia Civil. Os demais – 19 – distribuídos em viaturas do 17º e do 26º BPMs – Batalhão de Polícia Militar – de Gravataí e Cachoeirinha e em um carro da Guarda Municipal de Gravataí.

Da BM, eram duas camionetes e um automóvel, este substituído há pouco por outra camionete que recém havia saído de uma serralheria, onde também havia sido transformada em cela provisória.

— Estou há 28 anos na Brigada e nunca tinha visto uma situação como esta que estamos vivendo. E nem falo na questão dos salários, porque já houve épocas piores, mas no caos que está isso aqui, consequência da falha no sistema carcerário do estado — disse um veterano PM que pediu para não ser identificado.

 

Dentro das viaturas

 

A indignação é geral dentro da prisão ao ar livre, carceragem improvisada na rua. Alegando crimes como porte de arma ou agressão à mulher (Lei Maria da Penha), em meio a acusados de tráfico (a grande maioria), alguns dos presos dizem que nem deveriam estar detidos. É o que mais ou menos pensam – no lado de dentro do prédio onde funcionam as delegacias do Parque dos Anjos – os integrantes da Comissão dos Advogados Criminais da Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Gravataí.

De acordo com o advogado Flávio Eduardo Barreto Correa, a comissão está recorrendo ao Judiciário para que os presos acusados de crimes com menor potencial ofensivo sejam libertados, assim como os que comprovadamente têm problemas de saúde. Segundo Barreto, sábado passado foi apresentado um pedido humanitário de libertação para um preso em separado, por problema de saúde, e para os demais em uma petição coletiva.

 

Prejuízos na loja

 

A cerca de 10 metros da viatura-prisão mais próxima fica a porta do Brick de Móveis Borba, um amplo pavilhão que, no meio da tarde desta terça, estava praticamente às moscas, aquelas mesmas que se proliferam em meio as condições subumanas de aprisionamento de acusados de crimes.

De acordo com Deise dos Santos Soares, proprietária do brick, há cerca de quatro meses a situação se repete e tem causado prejuízos ao seu negócio.

— Todos os clientes que entram aqui comentam esta situação que já extrapolou, não dá para continuar. Quem fica de voltar não aparece e, com certeza, já perdemos negócios com pessoas que nem chegaram só por ver o que está acontecendo aqui no lado — diz a comerciante.

 

Babás de presos

 

Entre os detidos de hoje à tarde, 13 estavam sendo custodiados em viaturas e por policiais militares do 17º BPM de Gravataí, quatro pelo pessoal e em camionetes-cadeia do 26º BPM de Cachoeirinha, e dois em um automóvel sedan da Guarda Municipal de Gravataí. A responsabilidade pela custódia é da corporação que fez a prisão.

Com isso, os PMs deslocados, assim com o agentes da Guarda Municipal, são obrigados a servir comida aos presos – café, almoço e janta –  acompanhá-los a um banheiro improvisado, zelar pela integridade dos detidos e ficarem atentos para evitar eventuais tentativa de resgate por companheiros do crime, prática não muito rara entre traficantes de drogas.

— Essa é uma possibilidade real com a qual temos que conviver. É um risco iminente e possível — admite o tenente-coronel Padilha, comandante do BPM de Gravataí.

De acordo com o oficial, a situação totalmente atípica faz com que o efetivo que deveria estar policiando as ruas esteja servindo à custódia de presos, assim como as viaturas que deveriam estar sendo empregadas no policiamento.

Mesmo assim o tenente-coronel Padilha não acha que Gravataí esteja enfrentando uma situação de emergência, tanto pelo caos decorrente do sistema prisional quando pelos índices crescentes de criminalidade que no final de semana retrasado (9 e 10/9) resultaram em nove homicídios e outras nove pessoas baleadas na cidade.

 

Confira a reportagem em vídeo produzida pelo Seguinte:.

 

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