As reações à prisão do deputado Daniel Silveira darão, pela primeira vez, a medida da capacidade de solidariedade e de articulação da extrema direita a um parceiro com mandato que acaba encarcerado.
Os extremistas sem grife e sem foro especial, presos por ordem de Alexandre de Moraes, foram abandonados.
Sara Winter foi largada na sarjeta, depois de atrair até generais às suas manifestações em Brasília. Nos Estados Unidos, o homem com guampas, um dos líderes da invasão do Capitólio, também foi desprezado por Trump.
Não há foro nem afeto especiais para a chinelagem perderdora. Só os extremistas de ponta contam com proteção. Abraham Weintraub fugiu diante da possiblidade de ser preso e teve direito a alto cargo no Banco Mundial, em Washington.
O blogueiro Allan dos Santos é visitado e consolado por Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos. Os outros podem estar ressentidos com antigos líderes, mas são recrutas sem proteção.
Silveira tem status e mandato, o que aciona o envolvimento automático do Congresso e a reação corporativa, mesmo de adversários políticos, em nome de imunidades.
São as mesmas imunidades que protegeram Aécio Neves, mas não foram suficientes para salvar Delcídio do Amaral, preso, massacrado e cassado pelos próprios colegas.
Silveira é parte de uma turma com poder muito acima do grupo de agitadores pró-golpe sem trincheira política especial dos Bolsonaros e dos militares.
Além dele, investigado nos inquéritos das fake news e dos atos pró-golpe, já prestaram depoimentos à Polícia Federal os deputados federais Bia Kicis (PSL-DF), Carla Zambelli (PSL-SP), Filipe Barros (PSL-PR), Junio Amaral (PSL-MG), Luiz Phillipe de Orleans e Bragança (PSL-SP) e mais os deputados estaduais Douglas Garcia (PSL-SP) e Gil Diniz (PSL-SP).
Teremos a resposta previsível do Congresso como corpo a ser protegido, mas é provável que aconteça uma reação mais forte e específica dessa turma com mandato?
A prisão sobe um degrau na escala de avanços e riscos das investigações dos extremistas por parte do Supremo. É agora, com um graúdo nas grades, mesmo que temporariamente, que começa a ser melhor avaliada a real ameaça aos ministros do Supremo.
Silveira apenas aumentou o volume do blefe, ou tem gente disposta a ir à luta aberta e violenta contra o STF?
Vale perguntar também se o deputado buscou inspiração, na gravação do vídeo com as ameaças aos ministros, nas informações recentes que ressuscitaram as “advertências” do general Eduardo Villas Bôas ao Supremo, em 2018, quando do julgamento pelo STF do habeas que poderia favorecer Lula.
O deputado Carlos Jordy (PSL-RJ), companheiro de partido de Silveira, já chamou Moraes de vagabundo no Twitter, logo depois da prisão do amigo.
Poderemos ter um jogral de extremistas acusando os ministros de vagabundagem, como Weintraub gritava nas reuniões de Bolsonaro com seus ministros. Mas vem coisa pior?
A bomba política está no colo do bolsonarista Arthur Lira. Rodrigo Maia pode ter o consolo de que escapou de uma confusão com desfecho imprevisível.
Mas a pior situação é a de Bolsonaro, dos filhos e dos parceiros de blefe pró-golpe, todos desafiados a proteger ou a abandonar Silveira. Bolsonaro salta do jet ski com uma granada no colo.
Texto publicado originalmente no blog do Moisés Mendes:
www.blogdomoisesmendes.com.br/prisao-de-deputado-testa-a-rede-de-protecao-do-bolsonarismo