Enquanto a estação da reza braba para não faltar água diante da escassez na região abastecida pelo Rio Gravataí já começou, a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) detectou, no final da última semana, a repetição de um agravante na situação normalmente crítica do verão. Foi constatado o lançamento em excesso de detritos da lavoura de arroz, originários de uma propriedade já localizada pelos agentes da fiscalização, na última quinta-feira. Conforme o relato do órgão ambiental, havia “alterações expressivas nos índices de cor e turbidez da água junto à captação de água no Passo dos Negros, atingindo nível de alerta, conforme apontamento da Corsan”.
O responsável técnico pela propriedade comprometeu-se a adotar providências imediatas para solucionar o problema depois de autuado. A Fepam não revela em qual propriedade havia irregularidades.
Até o dia da ação da Fepam, nenhuma gota de chuva havia caído desde o início do mês na região, agravando a questão quantidade e da qualidade da água a ser captada para o abastecimento público. No final de semana, o rio deu, ao menos, um suspiro. No sábado, a Corsan registrou 2,6 mm de chuva na Estação de Captação de Alvorada. O nível naquele local, que é o balizador para determinar a suspensão das captações pelos arrozeiros, fechou a tarde de domingo com 180 centímetros. Dez a mais do que na tarde de quinta, quando o menor índice desde novembro foi registrado.
Se o nível chegar a 151 centímetros, a situação chegará em “nível de alerta”, e aí, sim, as captações param nas região do banhado.
: Pequeno volume de chuva no fim de semana ajudou o rio
Um ano depois…
O flagrante de poluição aconteceu um ano depois do caso que levou quatro empreendimentos a terem suas licenças ambientais suspensas pelo lançamento irregular de efluentes no rio. Na última reunião do Comitê de Gerenciamento da Bacia do Gravataí, um grupo de trabalho formado na época para propor soluções pela melhoria da qualidade da água do Gravataí, sobretudo em relação ao que é lançado pela agricultura, concluiu o seu trabalho. Entre as propostas, estão a sugestão de análises mais detalhadas sobre a qualidade da água captada e lançada durante o período da lavoura do arroz. O grupo sugeriu também que produtores que adotem medidas para melhorar a qualidade da água sejam beneficiados.
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Quanto vale a água do Rio Gravataí?
Na última quarta, a equipe técnica da Fepam sobrevoou o Rio Gravataí e constatou que o plantio das lavouras de arroz está praticamente concluído na região e, com isso, a fase mais crítica no que se refere à carga de sedimentos estaria ultrapassada.
— Daqui em diante, permanece fundamental a adoção das técnicas de manejo conservacionista de solo e água, para garantir uma produção minimamente impactante, lembrando que estas não se restringem à conservação de solo e água, se estendendo, por exemplo, à adoção de cuidados com o manejo integrado de pragas e moléstias, que muitas vezes inclui o uso de agrotóxicos nos sistemas produtivos — aponta a chefe da Divisão de Culturas Agrícolas, engenheira agrônoma Cinara de Pizzol.
Ela lembra que em 2016 chegou a ocorrer interrupção do abastecimento pelos problemas com a elevação da turbidez no Rio Gravataí. Em 2017, além dos vários autos de infração lavrados com multas, quatro empreendimentos tiveram as licenças suspensas. Neste ano, os técnicos perceberam a redução dos impactos ambientais, o que reforça, segundo o órgão, a importância da continuidade das operações de fiscalização realizadas pela Fepam.
Atenção redobrada no Gravataí
Mesmo com a redução dos casos graves, a partir de outubro deste ano, segundo a Fepam, houve aumento dos problemas de poluição decorrentes de lançamentos irregulares de efluentes no Rio Gravataí, principalmente os despejos de água das lavouras arrozeiras com carga elevada de sedimentos que provocam impactos ambientais e sociais.
Cinara salienta que a solução dos problemas é de responsabilidade dos próprios produtores rurais, com uso de técnicas de manejo conservacionistas.
— O ano foi marcado por um trabalho de modificações internas em empreendimentos da região, incluindo, entre outros, a adoção de sistemas totais ou parciais de recirculação, remanejo de áreas de produção excluindo áreas mais críticas de plantio e redução de áreas de cultivo com sistema pré-germinado — aponta a engenheira.
Desde outubro, diversas fiscalizações em conjunto entre a Fepam, Brigada Militar e Corsan, como a da última semana, foram feitas na região do Gravataí, em especial, na área do Banhado Grande, onde há os maiores problemas com a área plantada de arroz.
NÍVEIS DO RIO GRAVATAÍ
1º de dezembro — 212cm
2 de dezembro — 211cm
3 de dezembro — 211cm
4 de dezembro — 210cm
5 de dezembro — 207cm
6 de dezembro — 203cm
7 de dezembro — 199cm
8 de dezembro — 194cm
9 de dezembro — 188cm
10 de dezembro — 181cm
11 de dezembro — 178cm
12 de dezembro — 175cm
13 de dezembro — 173cm
14 de dezembro — 171cm
15 de dezembro — 180cm
16 de dezembro — 180cm