O sindicato dos professores promove nesta quarta-feira um dia de paralisação por melhorias salariais em Gravataí. Ao menos por enquanto, o clima não é de crise. Está longe da tragédia a negociação entre a categoria e o governo Luiz Zaffalon. Vai bem, arrisco dizer, mesmo não seja o que incendiários gostariam de ouvir.
Vamos às informações e posições do SPMG e do governo, ouvidas pelo Seguinte: hoje; depois volto à opinião.
A pauta definida pela categoria em assembléia geral tem como principais pilares a recomposição de perdas salariais de 25% e a concessão de vale-alimentação de R$ 27,50/dia.
– Somos a quarta economia do Rio Grande do Sul, mas temos o quarto pior salário da região metropolitana – resume Vitalina Gonçalves, presidente do SPMG, que alerta para instabilidade na rede municipal pela perda de profissionais para outros municípios que pagam melhor.
– Apostamos na mesa de negociação, mesmo que cheguemos a mais de um mês sem reuniões – diz a presidente, que relata uma série de agendas anteriores, de fevereiro a maio, entre o sindicato e comissão de negociação do governo; uma delas com a participação do prefeito.
– São perdas de 10 anos. O governo reconhece – aponta.
Luciana Raupp, secretária-adjunta da Educação, que substitui Aurelise Braun, que está em férias, confirma que o governo reconhece perdas de 25%, mas não referentes ao governo Zaffa.
– São reposições não dadas nos governos anteriores ao nosso. O prefeito Zaffa repôs a inflação em todos os anos – diz, informando que o governo prepara uma proposta para o funcionalismo, para “recomposição gradativa” e “respeitando as limitações orçamentárias”.
– O funcionalismo é extremamente importante e o governo sempre está aberto a negociar – acrescenta, argumentando que os pedidos de demissão na rede “são naturais e sempre aconteceram”.
– Profissionais buscam melhores concursos, escolas estaduais, particulares, mais perto de onde moram, entre outros motivos – analisa.
O SPMG convoca para concentração a partir das 9h na praça da parada 72 da Av. Dorival de Oliveira, com caminhada prevista até a 67 e ato público na Av. dos Estados.
Conforme o monitoramento prévio da SMED, a paralisação deve fechar 40% das escolas, com outras funcionando parcialmente ou normalmente.
Ao fim, é uma pauta-bomba, por obvio.
A folha salarial corresponde a 42% da receita, abaixo do limite prudencial de 51% determinado pela Lei de Responsabilidade Fiscal, mas o pagamento dos 25% sem um longo parcelamento é, do ponto de vista financeiro e político, inimaginável.
Não é torcida ou secação, é a realidade.
Há ainda o vale, cujo custo estimado é de R$ 40 milhões – 10% da folha.
Tudo sempre sob o pano de fundo da reforma da previdência de 2021, suas causas e conseqüências.
Porém, insisto, conforme a experiência de 28 anos de jornalismo e cobertura de greves: resta em bons termos – da ‘ideologia dos números’ ao ‘espírito’ – a negociação entre sindicato e governo.
Pelo que apurei nos bastidores, é conversa de gente grande, apesar do mimimi de alguns políticos e profissionais na periferia das negociações.
A história ensina que, na relação entre quase cinco mil servidores e governos, que atinge quase 30 mil famílias da comunidade escolar, não se avança gritando em cima de caixote, nem se isolando em palacinho.
Gravataí tem um histórico bom nisso. A negociação para o pagamento do piso do magistério é o exemplo mais recente.
A política é nietzschiana, um “Deus morreu, tudo pode”. Então, certeza de nada há. Mas é um bom começo.