Professores de Gravataí e Cachoeirinha não querem voltar às aulas presenciais com a pandemia em um platô de estabilidade que reputo da altura do Morro do Itacolomi ou do Edifício Madri.
Em Gravataí o SPMG tenta na Justiça suspender liminarmente o retorno nesta segunda, quando começaria o período de visita das famílias e alunos para optar por aulas presenciais ou remotas. Em Cachoeirinha, que volta dia 18, o SIMCA entrou em estado de greve.
Os sindicatos denunciam falta de profissionais da limpeza, EPIs básicos como máscara, falta de garantias de afastamento dos grupos de risco e falta de plano pedagógico para aplicar o modelo híbrido, de educação na sala de aula e remota.
Vitalina Gonçalves e Silvina Peres, presidente e vice do SPMG/Gravataí, entregaram à secretária da Educação Sônia Oliveira um manifesto com cerca de mil assinaturas, colhidas em 48h, que reivindica “o adiamento do início das aulas presenciais até que as escolas tenham condições de construir com a comunidade escolar o retorno seguro”.
– Não estamos nos negando a desempenhas as funções. As equipes diretivas estão empenhadas na adaptação dos espaços físicos e aplicação dos planos de contingência e protocolos de segurança contra a COVID-19, os professores estão planejando as aulas e também as atividades não-presenciais. Mas assim como não chegaram todos os insumos que as escolas precisam, também a organização com pais e alunos não é instantânea para ser colocada em prática em menos de cinco dias – defende a presidente.
– A primeira aula é preservar a vida – diz a vice.
Já o SIMCA/Cachoeirinha pedem a manutenção das aulas à distância por pelo menos um trimestre “ou até que as condições sanitárias e pedagógicas estejam estabelecidas para o retorno às aulas presenciais”.
A categoria promove vigília durante a reunião de negociação com a Secretaria da Educação, na terça-feira, 16h.
O que dizem os governos
Na sexta, o prefeito Miki Breier e a secretária da Educação explicaram o modelo de volta às aulas em live.
Sobre a possibilidade de greve, nenhuma manifestação ainda.
Assista e, abaixo, sigo.
Em Gravataí, o prefeito Luiz Zaffalon e a secretária da Educação Sônia Oliveira falam em live às 19h deste domingo com transmissão pelo Facebook da Prefeitura.
Na última manifestação ao Seguinte: Zaffa repassou WhatsApp recebido da secretária que comanda a pasta desde o governo Marco Alba.
Siga na íntegra e, abaixo, concluo.
“…
A data inicial programada pela Smed de retomada das aulas era 1/2, a pedido do sindicato que solicitou formações de ao menos uma semana de formações e preparação, entendemos que realmente era necessário, adiamos para o dia 8/2, contemplando a solicitação.
Também programamos a primeira semana de acolhida e orientações sanitárias aos alunos e responsáveis. Será uma semana onde a escola vai formar pequenos grupos de alunos e responsáveis (um por aluno) e cada grupo vira apenas um período na escola durante esta primeira semana, será o momento em que a família vai optar na volta presencial ou vai manter atividades não presenciais.
A retomada vai acontecer de fato no dia 19/2 quando os grupos estarão definidos de acordo com a capacidade da sala, respeitando o distanciamento de 1,5m com 50% dos alunos.
As condições sanitárias permitem essa retomada, em nenhum momento deixamos de ouvir os profissionais da Secretaria da Saúde.
…”
Sigo eu.
A polêmica era certa. Não por torcida ou secação, desde 2020, em Aulas não!; o anticorpo da greve em Gravataí, e também em 2021, em Acho arriscado volta às aulas dia 8 em Gravataí; São 90 mil pessoas-alvo, alerto sobre os riscos de greve, já que professores – e famílias – estão assustados com o risco de contágio.
Se a última pesquisa feita sobre o tema pelo Ibope mostrou que, em outubro, 7 a cada 10 mães e pais não querem mandar filhos à escola antes de uma vacina eficaz, pesquisa divulgada em agosto pelo SPMG/Sindicato apontou que 98,7% das trabalhadoras e trabalhadores em educação de Gravataí consideravam inviável a retomada das aulas presenciais durante a pandemia da COVID-19.
Pouco mudou na ‘ideologia dos números’ de 2021. Por decreto estamos na bandeira laranja, de risco médio, que permite a volta às aulas presenciais conforme o Distanciamento Controlado do Governo do RS, mas pelos indicadores estamos na bandeira vermelha, de alto risco.
Mostrei o ‘efeito Natal, Ano Novo e praia’ em Pandemia piorou em janeiro em Gravataí; O tsunami chegando. Se projetarmos toda a comunidade escolar envolvida em uma volta presencial às aulas mesmo com salas com 50% dos alunos chegaremos a pelo menos 90 mil pessoas. Em Cachoeirinha, 40 mil.
É um dilema.
Reputo nem professores, nem governo são a Karol Conká da volta às aulas.
Só desinformados, ou informados do mal, podem dizer que professores não querem trabalhar. Até porque trabalharam, e muito, nas aulas remotas em 2020. É um modelo desgastante tanto para os profissionais, quanto para os alunos, como detalhou a presidente do sindicato em Presidente do Sindicato dos Professores de Gravataí: ’Queremos voltar às aulas, mas com segurança’.
Há, ainda, a inevitável segregação dos alunos mais carentes, como tratei em Ideia é mandar os alunos pobres antes para sala de aula; O bode preto da Grande Porto Alegre.
Também não são vilões os governos, ao menos até o momento. Zaffa e Miki não deixaram de ouvir a categoria e pediram a seus técnicos a elaboração de planos para uma volta com segurança, como tratei em Zaffa: só voltaremos às aulas sem COVID em alta; O Whats do prefeito de Gravataí. E há pais que querem os filhos em aula, além de ser inegável a defasagem educacional que resta das aulas remotas. A dúvida é se, na prática, será possível evitar uma explosão da COVID-19 com surtos em escolas.
Ao fim, insisto em todos os artigos sobre o tema: é preciso pensar “além do primeiro dia” de volta às aulas. Assusta-me modelo matemático produzido por grupo de especialistas em planejamento da Universidade de Granada que alerta que colocar 20 alunos numa sala de aula implica em 808 contatos cruzados em dois dias.
Na Espanha, não no Rincão da Madalena ou na Anair. Fosse em Gravataí, seriam 161 mil pessoas na rede de contatos.
Não é uma decisão fácil. É técnica, mas também política, porque quem tem a caneta, sabe o peso da responsabilidade.
Não esperem compreensão dos covidiotas que em ‘3, 2, 1…’ vão comentar que professores são vagabundos, ou que a galera já está toda na rua, seguindo uma lógica na qual, se o presídio está cheio, qualquer um ganha excludente de ilicitude para matar.
Nem dos que chama Zaffa e Miki de genocidas.
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