Em mais um dos perfis dos vereadores eleitos o SEGUINTE: apresenta Gerson Rovisco. Evangélico, ele se sente abençoado por chegar à Câmara.
– Oi, sabe de algum candidato crente? – pergunta um eleitor, acompanhado da esposa e mais duas vizinhas, a um homem que vestia uma camiseta Jesus Te Ama, em frente à escola Carlos Bina, no dia da eleição de 2012.
– O meu é cristão!
– Então me dá o nome dele.
– Gerson Rovisco.
Urnas abertas, Rovisco foi eleito por uma diferença de quatro votos.
O inusitado do resultado faz o vereador resgatar da memória outros episódios da eleição e sentir-se abençoado.
– Na tarde de 7 de outubro um cabo eleitoral de outro candidato me ligou, perguntando meu número, porque uma família estava com ele pedindo indicação de um candidato cristão para votar.
– E era na Getúlio Vargas, escola em que dei aula – conta.
Rovisco recorda também de uma noite em que, às vésperas da eleição, parou para abastecer a caminho igreja. Pediu R$ 10 em gasolina, mas a frentista se enganou e botou R$ 50. Como não tinha mais nenhum real, disse que voltaria para pagar no outro dia.
– Ela viu o carro com adesivos de campanha e disse “hi, papo de político!” – diverte-se.
– No outro dia voltei e ela disse que eu ganharia o voto dela e da família, porque era uma pessoa séria.
: Rovisco tocando na igreja seu inseparável violão
Abençoado por ser vereador
O mandato e as campanhas são uma confluência da fé que permeia a vida de Rovisco, desde a infância e adolescência nos grupos de jovens católicos até a descoberta da igreja evangélica na vida adulta.
– Me deu o norte de viver para servir e agradecer pelas graças conquistadas – resume.
O comportamento em plenário reflete a personalidade pacífica de Rovisco.
– Não bato nos colegas e quando um projeto meu é aprovado, digo que é um projeto da Câmara.
Ele se orgulha muito de ser vereador:
– Até hoje a ficha não caiu direito. Às vezes vejo meu nome no painel de votações e penso: sou abençoado por estar aqui, uma pessoa que batalhou, sem dinheiro e nem família tradicional.
A família para educar
Mesmo o comportamento manso não livrou Rovisco de polêmicas envolvendo religião e política.
– São meus princípios. Isso está acima da política – resume.
No mais célebre, um vídeo onde recebia o apoio do deputado federal e pastor Marco Feliciano viralizou nas redes sociais.
– Me chamaram de homofóbico, mas nunca vi uma igreja evangélica tratar mal um homossexual. Tenho amigos gays. Respeito opção sexual, mas não concordo. Jesus ama o pecador, mas condena o pecado. Fui, como o Marco Feliciano, um bode expiatório.
Rovisco é parte da cruzada contra a interferência do estado em questões de gênero.
– Sou contra a ideologia de gênero. O Estado não pode empurrar isso goela abaixo das famílias. O estado tem que garantir a escolarização. Quem deve cuidar da educação são as famílias – argumenta.
Rovisco também firmou posição em uma moção de repúdio à TVE pela exposição ao vivo, no horário das 18h, de uma apresentação da banda feminista Putinhas Aborteiras.
– Os tempos podem ser modernos, mas vejo como imutável o conceito da família como base da sociedade. Hoje, com incentivo da mídia e de um modelo predador de consumido e de vida, a família sofre ataques – critica.
: Rovisco, na Marcha para Jesus, enfrenta as polêmicas de sua fé
Jesus não é crime
Durante o mandato, em votações controversas, esse fiel da Fonte e Bênção, do pastor Maurício Alves, nunca saiu pela porta dos fundos da Câmara para não ter que mostrar publicamente a sua posição.
– Não fujo do que sou. Mesmo que hoje o cara tenha que se cuidar para falar de Jesus, porque chamam de fundamentalismo e fazem parecer um crime! – desabafa.
Um pouco da história – e das histórias – do Rovisco:
Gerson Rovisco Oliveira nasceu em 16 de maio de 1974 no Hospital Nossa Senhora das Graças, de Canoas. O pai, Francisco, era funcionário público estadual. A mãe, Sirlei, do lar. Aos seis meses, quando despontavam as primeiras sardas no menino de cabelo ruivo, a família – que já tinha Sandro (hoje 47) e ainda teria Fabiano (36) e Felipe (34) – se mudou para uma casa na rua Major Alberto Bins, no Parque Brasília, em Cachoerinha.
Aos 13 anos, começou a participar de um grupo de jovens católicos da paróquia São Vicente de Paulo.
– Tudo começou porque fiquei encantado com a banda – recorda Rovisco, lembrando refrões, acordes e levadas de bateria que empolgavam os jovens em tradicionais canções religiosas:
– Glória, glória, aleluia, HEI! – arrisca, a capela.
Ao lado de seu inseparável violão, por dez anos participou e conquistou liderança nos grupos e pastorais, onde mais de 50 jovens faziam uma peregrinação evangelizadora em escolas, missas, catequeses, crismas e outros eventos religiosos.
Em 1996, foi convidado a concorrer a vereador pelo já falecido professor Ivo Rech, que naquelas eleições foi candidato a prefeito pelo PP.
– Fiz 200 votos, numa campanha com apenas meu pai e meus irmãos. Para nós era uma profissão de fé, porque víamos um boom das drogas, muitos jovens fumando maconha, e queríamos influenciar positivamente de alguma maneira.
Inspirado pelos professores Clovis, do ensino fundamental no Guimarães Rosa e no Cadop, e Roberto, do ensino médio no José Cândido de Godoy, em Porto Alegre, fez o Técnico em Magistério, na Facat, em Gravataí, e entrou na História no Brasil 500 anos da Ulbra.
– Povo que não conhece sua história não entende seu passado, presente e futuro – ensina.
O culto que mudou a vida
Em 1999, Rovisco começou a lecionar história e geografia na Educação de Jovens e Adultos (EJA) do Sesi Bonsucesso, em Gravataí. Um convite de uma aluna evangélica, Ana Lúcia, para participar de um culto, desencadeou uma mudança em sua vida. Na Igreja Universal do Reino de Deus, da parada 61 da av. Dorival de Oliveira, Rovisco conheceu Joice, hoje estudante de Psicologia.
– Dias depois ela me deu uma bíblia de presente, depois chocolates. Em um ano casamos e fizemos de Gravataí nossa terra – conta, dizendo que o casal ainda não tem filhos “por planejamento familiar”.
Na época, os dois estavam desempregados. A casa da rua Curitibanos, no bairro Bom Princípio, era decorada com apenas duas cadeiras de praia, uma TV emprestada do cunhado e a cama pedalada a prestações.
– Casamos na fé. Na festa do casamento, uma tia da Joice nos deu uma bênção: um envelope com cinco meses de aluguel – lembra.
Esperando um milagre
O que Rovisco tinha naquele 9 de dezembro de 2000 era a promessa – depois confirmada – de assessorar na Câmara o evangélico Gilberto Roxo (PTB), de quem tinha coordenado a campanha até outubro e fora eleito vereador. O que fez intercalando com aulas pela manhã na escola Seguidores de Cristo, da Nossa Chácara.
Em 2004, concorreu a vereador. Não foi eleito. Mas os 586 votos pelo PL de Décio Becker – vice-prefeito eleito com Sérgio Stasinski (PT) – lhe garantiram espaço no governo. Ocupou cargos nas secretarias de Assistência Social e Trânsito e Transportes, até aceitar o convite para assessorar o principal opositor do governo, o vereador Jones Martins (PMDB).
Em 2008, fez 497 votos e viu novamente frustrado o sonho de ser eleito para a Câmara.
Depois de um período em que foi assessor da 28ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) e deu aulas na escola Getúlio Vargas, estava desempregado quando insistiu na candidatura a vereador, em 2012, já filiado ao PV.
– Esperava um milagre. Era vencer ou vencer – recorda.
Fez 1.058 votos e entrou na última vaga do partido por uma diferença de apenas quatro votos em relação a Ricardo Canabarro (PV), que disputava a reeleição e ficou de fora.
– Minha eleição foi uma surpresa para toda cidade. Dentro do partido eu era o sexto da lista. Calculavam que eu faria 500 votos. De tão nervoso, fiquei sem voz após saber da vitória – lembra.
: Rovisco tem no histórico campanhas onde sempre foi o azarão, até ser eleito em 2012
Para-choque da comunidade
Em 2014, fez 2.600 votos na disputa pela Assembleia Legislativa, numa estratégia do PV onde todos os ocupantes de cargos eletivos concorreram, para fazer legenda e ter um deputado eleito. O que deu certo, com o médico João Reinelli, vereador de Nova Prata, eleito com apenas 9.098 votos.
– Fiquei feliz de ver minha votação crescer num momento de crise política, onde o vereador sofre por ser o para-choque da comunidade. É o vereador que o eleitor encontra no supermercado, que atende na porta de casa, não os deputados.
Hoje, além da vereança, Rovisco leciona na Jocum (Jovens Com Uma Missão), escola cristã em Vira Machado.
: Rovisco conversando com moradores do bairro Vera Cruz
OS PRINCIPAIS PROJETOS APRESENTADOS PELO ROVISCO:
“Vou citar o projeto de prevenção à dengue e zika proibindo o uso de recipientes que fiquem com água parada em vasos em cemitérios; a criação da passagem gratuita para candidatos ao Enem e Enad; a fixação dos itinerários e horários dos ônibus nas paradas; a inclusão no currículo da educação financeira nas escolas; a criação de ambulatórios nas escolas com funcionários treinados pela Secretaria da Saúde; a consonância da Marcha para Jesus com o aniversário do município e minha atuação na presidência da CPI da Máfia das Próteses, onde fui até ameaçado de morte”.
UM ARREPENDIMENTO NA VIDA PÚBLICA:
“Confiei demais em algumas pessoas. Fui amigo de quem não queria ser meu amigo”.
O ROVISCO PELO ROVISCO, EM UMA PALAVRA:
“Parceiro”.
OS PLANOS DO ROVISCO:
“Ser reeleito e atender as demandas da comunidade”.
O QUE DIZ PARA O ELEITOR QUE NÃO ACREDITA MAIS NOS POLÍTICOS:
“A visão da política está muito deturpada. Mas é preciso conversar com todo carinho, atenção e respeito, porque várias pessoas, mesmo com a tecnologia, não tem acesso à informação. Recomendo sempre que pesquisem sobre os políticos”.
UM POLÍTICO ADMIRADO PELO ROVISCO:
“Martin Luther King”
O(A) CANDIDATO(A) A PREFEITO(A) DO ROVISCO:
“Marco Alba”
O SELFIE DA CAPA
Na série de perfis com os 21 vereadores eleitos, para a chamada de capa o SEGUINTE: pediu que cada um fizesse um selfie, em um lugar que considera simbólico da cidade. GERSON ROVISCO fez o seu em uma escola pública municipal.
: Rovisco fez o selfie que ilustra a capa do SEGUINTE: em uma escola municipal.