No encerramento da Série Convenções, o Seguinte: conta como foi o ato onde o PSol lançou pela primeira vez em Gravataí candidatos a prefeito e vice
Luis Felipe Teixeira e Ricardo German aguardavam no portão da galeria Dom João Becker, na parada 80, em frente a um pequeno cartaz de 30 por 30 centímetros escrito a mão “Convenção PSol”.
– Teremos 10 mil panfletos e o resto é com a gente – explicava German, que logo mais, com R$ 30 em caixa, seria anunciado coordenador da campanha, com a curta experiência de já ter estado em 2014 na organização das primeiras candidaturas a deputado estadual e federal de seu único partido nos 22 anos de vida.
– Nossa campanha é colaborativa e nas redes sociais – resumia Luis Felipe, 30, o candidato a vice-prefeito, hoje desempregado, que pede para deixar no passado o apelido de “Felipinho”, que carrega desde que militava na juventude do PT de Gravataí.
A subida dos degraus começa após Rafael Linck, 32, professor da escola particular São Judas Tadeu, em Porto Alegre, formado em História pela Fapa, com especialização em História Contemporânea do Brasil, e em minutos o candidato a prefeito, chamá-los para começar o ato, numa pequena sala do Cpers, o sindicato dos professores estaduais, e sem a participação de nenhum dirigente de para lá dos pórticos.
Entre balões amarelos, cartazes feitos a mão, escritos com pincel atômico atrás de propagandas de Olívio Dutra, e retalhos de tecido pichados com spray “Fora Sogil”, “Stop Monopólio”, “6,60 e 3,85 é roubo”, “Pelo Fim dos Privilégios” e “Ocupe a Cidade”, Ruan Martins, presidente do partido, e também um jovem de 23 anos, que desde os 15 é professor de taekwondo de comunidades como a Vila Rica, a Bonsucesso e o Xará, deu início aos trabalhos da convenção onde o PSol lançaria pela primeira vez uma candidatura à Prefeitura de Gravataí.
– Declaro aberta a rota dos indignados – disse, agradecendo à mãe, Ana Carolina, e à namorada Bruna, o apoio à sua candidatura a vereador.
– Queremos um governo com o povo e para o povo, com o trabalhador e para o trabalhador, com os jovens e para os jovens, com as mulheres e para as mulheres, com a comunidade LGBT e para a comunidade LGBT e com os negros e para os negros – discursou, mesmo que ali, entre as 19 pessoas, estivesse apenas um negro, que depois do ato até brincava com a situação, mas reconhecia ali um retrato de uma história madrasta que exclui os negros da política, como as mulheres, que representam 51% da população e eleitorado, mas não ocupam 10% dos cargos eletivos no país.
Foi a deixa para Jacqueline Tuerlinckx, 53, cabeleireira do bairro Dom Feliciano, contar a sua história. Ela, que também nunca concorreu a nada, completa a ‘nominata’ do PSol à Câmara.
– Estava em casa, indignada com a política como tantos, quando vi o debate presidencial com a Luciana Genro. Eu e minha filha Natália gritávamos na frente da TV: essa mulher diz tudo que queríamos que fosse dito. Ela nos representa.
– Eu estava na zona de conforto, mas resolvi me mexer. Procurei o PSol e hoje estou aqui candidata. Eu que assistia do outro lado da TV, venho aqui fazer minha parte.
Militante em campanhas desde a adolescência, o candidato a vice Luis Felipe analisou os principais adversários, sem citar o candidato de seu ex-partido, Valter Amaral:
– O (Daniel) Bordignon se apresenta como o novo usando a receita do passado. O mundo mudou, Gravataí mudou, mas ele não mudou. Acha que disputa o cargo de rei.
– Para piorar, tem um (Michel) Temer ao lado dele, aquele que roubou o mandato da prefeita Rita (Sanco) em 2011. E arrisca roubar seu mandato também, caso seja eleito – completou, mirando também o vice, Cláudio Ávila (PDT).
– O que dizer do Levi (Melo)? Um milionário não vai governar para os pobres. Digam um dia em que ele pisou no Xará? Com certeza nunca sujou os sapatos caros na lama dos becos da Rosa Maria, onde moro.
– A Anabel (Lorenzi) também quer ser novidade, mas só se for por aparecer apenas a cada eleição. Não há como dissociá-la dos governos (José) Sartori e Marco (Alba), de quem herdou o vice (Francisco Pinho).
– E, por fim, o Marco encastelou-se por três anos e agora sai às ruas com obras ‘meia-boca’, apostando que o povo não tem memória.
– Nós defendemos um governo com paredes de vidro.
O cicloativista Rafael Link assumiu a cena com a empolgação com que tocava na sua guitarra na banda gravataiense Tapete Persa.
– O PSol é um partido necessário. Nossa responsabilidade vai além de eleições e votos por votos. Muitos fazem chacota, mas somos os únicos a dar voz aos que não tem voz, a lutar as lutas que ninguém luta.
– Nossa coligação é com o povo. Os partidos dos adversários estão todos na Lava Jato e na base do Sartori. E todos têm DNA golpista. Um golpe testado em Gravataí com o impeachment de Rita em 2011, e exportado agora para o afastamento da presidente Dilma (Rousseff).
Ao fazer um histórico da formação do partido em Gravataí, na ocupação da Câmara nos movimentos contra o aumento nos salários dos vereadores em 2012, e o “bonde dos cargos”, do atual governo, em 2013, Linck levantou as duas bandeiras de maior simbologia para o partido no momento:
– Vamos lutar pela equiparação dos altos salários do prefeito, vice, secretários e vereadores, ao dos professores.
– E só nós podemos gritar “fora Sogil”. Por que será que ninguém em Gravataí fala sobre o transporte coletivo?
– Nós vamos incomodar esses caras! – encerrou Rafael Policeno, que concorreu a deputado federal em 2014 e é o ficha 1 do Psol em Gravataí.
Na sexta-feira, 5 de agosto, eu – não a Luciana Genro, o Pedro Ruas ou o Jean Wyllys – vi um partido nascer na aldeia dos anjos.
Durante a convenção, foi exibido o vídeo Psol Sem Temer.
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