Perigoso o discurso da vereadora Rosane Bordignon (PDT) ao “responder a nota da Rita”, que tratei há pouco no artigo Rita não esquece os golpistas; a esquerda e a cadeia.
O alvo, quem me contou foram vereadores que ouviram o desabafo da própria professora ao descer da tribuna da Câmara na sessão que recém terminou. E também deduzo em minha leitura do discurso, principalmente quando a Bordignon fala em “meia dúzia” que sobrou no PT, uma óbvia referência ao partido em Gravataí, que sofreu o que chamo de ‘golpe das urnas’ ao receber menos votos que o PSol na última eleição.
– O problema é gestão. Se tem ladrão na política? Roubaram? Roubaram. Porque eu saí do PT? Eu sai do PT vereador Alan – disse a esposa do ex-prefeito Daniel Bordignon, sobre aquele que foi seu partido por duas décadas, citando Alan Vieira (MDB), o ‘filho do Marco Alba’ e companheiro na CPI que apontou como um dos vilões do Ipag o sindicato dos professores, concluíndo – porque hoje, em minha opinião, no PT têm ladrão e defensor de ladrão. Por isso eles estão virados lá em meia dúzia. Vou dizer de novo: tem ladrão e defensor de ladrão, tá? Foi o que sobrou lá dentro.
Reputo perigoso por pelo menos dois motivos.
De um deles, falo com propriedade, porque, quem me acompanha, sabe que tenho coragem para criticar, mas também para reconhecer a importância da política. Não sou caça-cliques, que adula o mau humor do eleitor pregando o fim da política.
É ruim para a política uma generalização dessas.
Até porque Rosane ficou no PT durante todo escândalo do Mensalão. E, não só a torcida do Cerâmica sabe, saiu do partido junto com Daniel Bordignon por outros motivos que não a corrupção.
Possivelmente não, certamente sim, Rosane tem na família, ou entre os amigos, muitos que, como acontece com ela, são chamados de ‘petralhas’.
Na campanha, não será exótico ser corrida de vassoura, como já foram outros políticos de esquerda em eleições passadas, vítimas não só de fake news, mas também da contaminação de discursos oportunistas, mais do que da Globo, dos próprios políticos.
Mais: e se, usando a mesma régua de Rosane, alguém chamá-la, e a companheiros de PDT, de defensores de corruptos, usando a condenação de Mauro Zacher por fraude em licitação? O candidato a deputado da vereadora, presente na filiação de Anabel Lorenzi e onde mais haja ato político do partido em Gravataí, foi condenado pela 7ª Vara da Justiça Federal de Porto Alegre a quatros anos e dez meses de prisão, além de multa de R$ 334.218,42.
Não serei eu a chamar Zacher de ladrão, nem aos seus amigos e apoiadores de Gravataí de defensores de corruptos. Ele, como Lula, e uso o ex-presidente como superlativo petista, não resta condenado com trânsito em julgado, que é quando o processo termina e o cidadão começa a cumprir a pena.
Outro motivo ruim é se Rosane usa da generalização para tentar se descolar do PT por interesse eleitoral, já que é vice de Anabel na Gravataí onde sete a cada dez votos foram para Bolsonaro.
Seria um ‘la boba’ no eleitor, já que as relações entre os canhotos da aldeia são históricas, e as bandeiras muito parecidas – pelo menos quando na oposição.
Além disso, seria uma ‘mamadeira de piroca’ contra o tal ‘Partido Histórico’, sobre o qual Rosane sempre se refere, ao aproximar representantes da ‘ideologia progressista’.
Acredito tenha sido o calor do momento, a ânsia de Rosane em defender a colega de chapa Anabel, chamada ‘golpista’ pelos petistas Rita e Cristiano no artigo publicado pelo Seguinte:. Mas, aí, caberia a Rosane ter frieza para buscar na memória quantas pessoas, até hoje próximas a ela, chamaram Anabel de ‘golpista’. E, então, respirar e não fazer como aqueles bolsonaristas ‘napoleões de hospício’ fazem, que é pintar a esquerda como o mal do mundo.
Feio, Rosane, muito feio. Arrisco inexplicável vindo de uma intelectual com tanto tempo na luta.
