Gravataí está no centro de uma disputa estratégica para abrigar um dos maiores investimentos industriais recentes no estado: uma fábrica de semicondutores da paulista Tellescom, com investimento estimado em até R$ 1 bilhão. O projeto, negociado via programa Invest.RS do governo Eduardo Leite (PSDB), pode reposicionar o município, que já é tradicional polo automotivo do Rio Grande do Sul, como hub tecnológico, gerando centenas de empregos e atraindo empresas do setor.
No Almoçando com a Acigra, que trouxe o governador a Gravataí, o prefeito Luiz Zaffalon (PSDB) confirmou tratativas de um megainvestimento em parceria com o governo estadual. Perguntado pelo Seguinte:, manteve reserva sobre detalhes: “o sigilo é necessário”. Mas, pelo que apurei, trata-se da Tellescom.
Zaffa já tinha entrado na disputa em fevereiro, como reportamos em Gravataí disputa investimento bilionário em semicondutores: o que se sabe sobre a negociação.
– Para um investimento bilionário, vale oferecer área e incentivos – antecipou à época, revelando que ofereceu 10 mil m² no Parque Tecnológico PradoTech, a 15 minutos do Aeroporto Salgado Filho.
A localização é estratégica: Gravataí sedia a General Motors, uma das maiores consumidoras de semicondutores do país, essenciais para veículos conectados e com uma projeção de R$ 4 bilhões em investimentos futuros, incluindo veículos elétricos.
O prefeito mobilizou-se rapidamente, destacando logística privilegiada (BR-290 e ERS-118), incentivos fiscais e agilidade no licenciamento.
– Joguei o espinhel. Se beliscar, eu fisgo – brincou, referindo-se à gestão pessoal das tratativas.
RS e Gravataí no jogo global
Enquanto o prefeito atua localmente, o governo estadual já avançou nas negociações internacionais. Em fevereiro, em missão na Malásia, o presidente da Invest.RS, Rafael Prikladnicki, e o CEO da Tellescom, Ronaldo Aloise Júnior, assinaram um termo de engajamento no polo tecnológico de Penang.
O acordo prevê apoio técnico para a instalação da fábrica, que produzirá chips para automotivos, Internet das Coisas (IoT) e telecomunicações.
– Queremos tornar o RS um polo de semicondutores, aliando nossa vocação histórica em microeletrônica com inovação – afirmou Prikladnicki, lembrando a extinta Ceitec (estatal de chips encerrada em 2022) e o programa Semicondutores RS, que fomenta pesquisa e formação de talentos.
Em entrevista na Ásia, Aloise Júnior justificou a escolha: “Aqui há maturidade governamental, infraestrutura logística e concentração de conhecimento”.
Gravataí soma a isso a proximidade com a GM — que anunciou R$ 1,2 bilhão em investimentos locais entre 2025 e 2028 —, um parque industrial robusto e uma economia em expansão: 9 mil empresas abertas nos últimos quatro anos, gerando 8,4 mil empregos.
Além disso, o município registrou R$ 1 bilhão em investimentos imobiliários em 2024, R$ 350 milhões ante 2023.
– Gravataí é a melhor cidade do RS para investir e morar – sempre reforça Zaffa.
A isca
A fábrica pode catalisar uma cadeia de fornecedores de tecnologia, diversificando a economia local, ainda dependente do automotivo. Porém, os desafios são globais: EUA, China e Europa disputam fábricas de chips, e prazos de licenciamento e custos operacionais (energia, logística) são críticos.
O RS busca renascer no setor após o fechamento da Ceitec. Para Aloise Júnior, o estado “tem tudo para liderar este renascimento”. Enquanto isso, a agenda na Malásia incluiu reuniões com investidores asiáticos, fundamentais para viabilizar o projeto. Novidades são aguardadas para os próximos meses.
Ao fim, enquanto Leite mira o contexto global, Zaffa resume a aposta local: “Se beliscar, eu fisgo”. Resta saber se a isca de Gravataí — entre incentivos, logística e a sombra da GM — será suficiente para fechar o negócio.
Assista vídeo da SEGUINTE TV sobre vinda de Leite a Gravataí