opinião

Quando Câmara de Gravataí acertou e o governador errou; 55 milhões para deputados, não!

Eduardo Leite é o governador gaúcho

No artigo Vereadores podem abrir portas de Gravataí para corrupção detonei o projeto que obrigava a Prefeitura a gastar cerca de R$ 9 milhões por ano em emendas indicadas por vereadores no Orçamento Municipal.

Volto ao tema porque o governador Eduardo Leite (PSDB) anunciou que vai garantir, para cada um dos 55 deputados, R$ 1 milhão por ano em emendas parlamentares ao Orçamento do Estado.

É igualzinho a Brasília.

Reproduzo a conclusão do artigo a que me referi acima, como uma síntese para os preguiçosos que não lerão os argumentos que elenquei para, em abril do ano passado, apelar pela reprovação da ‘Lei Dilamar’, em Gravataí:

 

"(…)

Aprovar o projeto não significa que estará instituído que vereadores tomarão de assalto o orçamento de Gravataí e o dinheiro escapará pelo ladrão via emendas combinadas por tenebrosas transações entre empresas que farão os serviços, governos e parlamentares. Também não é certeza de que as emendas serão usadas como malas para comprar apoios para reeleições. Mas a possibilidade restará aberta. Se acontece em Brasília, por que não aconteceria aqui?

Mais prudente é lutar pelo fim de todo e qualquer tipo de emenda parlamentar. Que se lave a jato essa idéia em Gravataí, para que nossa política não escorregue logo ali para o noticiário policial.

(…)".

 

Aconteceu que a Câmara 'vazou a jato' a proposta do vereador Dilamar Soares (PSD). Muitos, e o próprio, talvez tenham achado que peguei pesado, misturando unanimidades negativas, tipo ‘corrupção’ e 'anões do orçamento', com o projeto votado em Gravataí – e, principalmente, com o autor, ele, o 'Dila'.

Sei que dessas hipérboles riram principalmente aqueles mais familiarizados com o micromundo da política da aldeia. Riem também quando brinco que Dilamar é meu ‘inimigo de infância’ – mais pelo singular político, do que por mim.

Admito que outros, mais do que Dilamar, mereciam uma manchete associando um projeto de sua autoria com corrupção – mesmo que presumida e impalpável, porém inevitável, como era o caso.

Meu ataque foi à ideia!

Dilamar Soares não é corrupto e não há garantia de que algum vereador iria indicar emenda em conluio com empresas. Porém, senti-me impelido a forçar a mão para alertar aos parlamentares sobre o risco da proposta!

É que há, ao menos para mim, mesmo que involuntária, uma tangível corrupção na liberação de emendas para vereadores ou deputados: os redutos eleitorais de cada político, por obvio, são ou serão privilegiados!

Tragicômico, no caso de Gravataí, o autor do projeto que tanto critiquei, Dilamar, usar o slogan “o vereador da cidade”. Cumprindo o que escreve, seria ele um dos parlamentares a destinar seus milhares de reais em emendas para algo coletivo!

Mas, e se algum colega, eleito com os votos do bairro, sentisse obrigação de apresentar uma emenda para seu chão, para sua vila, para seus eleitores?

Convenhamos: não fizesse isso, talvez nem pão comprasse sossegado na venda da esquina!

Na ZH de hoje, Rosane Oliveira sublima minha opinião.

Vou reproduzir um trecho, porque muitos em Gravataí ainda experimentam a ‘síndrome da grota’, e só se convencem quando a coisa é publicada na Zero Hora, RBS ou Globo – mesmo que o Seguinte:, o Correio de Gravataí/Diário de Cachoeirinha, o Giro de Gravataí e O Repórter sejam os portais de jornalismo da região que teimam em ter repórteres trabalhando diariamente na rua e saibam muito mais do que tudo que a ‘grande mídia’ publica!

(PARÊNTESIS: Perceberam que, numa projeção estadual, não é exclusiva a ‘síndrome a grota’, já que também acontece na RBS. A Cristina Ranzolin virou notícia e ganhou aplausos da bancada do Jornal do Almoço por ter apresentado o Jornal Nacional!).

Voltando, Rosane escreveu:

 

“(…)

Embaladas pelo governo como uma demonstração de respeito ao Legislativo, as emendas são mais um diferencial competitivo para quem já tem mandato. 

Na hora da campanha, os candidatos à reeleição poderão apresentar-se como responsáveis por obras executadas com dinheiro público. Como disse Ranolfo, pode ser "um conserto de uma escola, ambulância, hospital, viatura". 

Triste Estado este em que, na falta de uma política global para manter os prédios das escolas em boas condições, ganham aquelas que tiverem a sorte de estar localizadas no curral eleitoral de um deputado. Azar das regiões que pulverizaram seu voto e não têm um deputado para chamar de seu.

A experiência das emendas federais oferece mais um motivo para apreensão. Quem não lembra dos deputados que destinaram para outros Estados parte do dinheiro a que teriam direito, sabe-se lá em nome de que interesses?

(…)”

 

A colunista, que escreve tendo como público todo RS, resumiu o que eu previa que aconteceria em bairros e vilas de Gravataí, com o 'liberou geral' das emendas: se meu município não tem deputado, restarão migalhas. Inclusive para Gravataí que já teve quatro deputados estaduais ao mesmo tempo!

Bom mote para campanhas, usarão alguns!

Injusto.

Já pensou que lá em Ipiranga do Sul, para receber emendinha para comprar uma roçadeira de R$ 3 mil, o prefeito já deve estar pensando em montar uma bonita cesta com queijos, legumes e frutas para bajular o deputado mais próximo – aqui no Estado me dizem que isso não acontece, mas estaria no combo voltar para casa explicando para a menininha bonita que é 'rainha da cidade' que sofrer o assédio do velho babão é uma consequência de "ajudar o município".

Em resumo: moradores de Gravataí e Cachoeirinha, que não tem nenhum eleito, pela lógica que Eduardo Leite permitiu para 2020, torçam para que deputados que só passam pela aldeia ao ir para a praia, pela Freeway, tenham bons sentimentos por nossa aldeia! Ou apostem em bons cabos eleitorais aldeanos, que convençam os deputados de que farão votos aqui no próximo pleito.

Ou, a vida como ela é, as duas cidades não receberão um real!

Ah, então na próxima eleição temos que votar nos deputados daqui, para que possamos pegar nossa parte nesses R$ 55 milhões por ano!

Não compactuo com essa ‘meritocracia à brasileira’.

Por isso repito os parabéns aos vereadores de Gravataí que, pelo menos até agora, não permitiram ‘importar o pior de Brasília’.

Já no RS, o senhor governador inscreve, ou subscreve, mais um capítulo do que chamo ‘Manual da Nova Política'! Fake news que entendo como nada mais do que um museu de grandes novidades, apresente-se o consierge como um vigarista que tomaria todas com Voltaire, ou como um bom moço, de barba feita, peito depilado, voz empostada e terno impecável, sem um pelo sequer de cachorro ou gato.

É feia essa liberação de milhões para deputados, Eduardo Leite! 

Como 'liberal', chique ou não, arrisco sugerir que não lhe garante mais do que uma tímida imunidade teres evitado pagar um vale ao estilo daquele o qual convenceram o gringo no episódio do ‘SartoNaro.

– É um cara de diálogo!

Os políticos falarão às escondidas e o cidadão minimamente politizado espalhará que você acertou um toma-lá-dá-cá com os deputados – para entregar um Rio Grande melhor, entregar obras, ou entregar o que for do Estado.

Ao fim, vou brincar agora com uma 'millôriana', mas que merece ser lida, inclusive pelo senhor governador, com calma, degustando as palavras e, aviso ao leitor, não errei na digitação: 

 

Pode-se esganar todas as pessoas algum tempo

pode-se esgalanar algumar pessoas o tempo todo

mas não se pode engajar todas as pessoas todo o tempo

 

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