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Quando morre uma estrela, outras três vão em seguida | Diego Nunes

Carrie Fisher vendo a mãe Debbie Reynolds no palco, em 63

A frase célebre de Zsa Zsa Gabor, que recém partiu, se profetizou em dias de pesar para o cinema. Em texto e vídeo, Diego Nunes resgata para o Seguinte: a memória de artistas que se foram de 2016 para cá

 

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A atriz húngara Zsa Zsa Gabor apesar de uma longa e uma bem sucedida carreira, protagonizando filmes como Moulin Rouge (1952) e Rebelião dos Planetas (1958) e de ter vivido a vilã em Lili (1953), ficou mais conhecida por sua vida particular conturbada. Zsa Zsa casou-se oito vezes, incluindo com o bilionário hoteleiro Conrard Hilton (bisavó de Paris Hilton) e era famosa por suas frases irreverentes como "eu sou uma ótima dona de casa, em todos os meus divórcios eu fiquei com a casa" e "o cão é o melhor amigo do homem, os diamantes os melhores amigos de uma garota, agora você já sabe qual é o gênero mais esperto". Outra frase da atriz, menos polêmica, dizia que “quando morre uma estrela, outras três vão em seguida”. E parece que  ela tinha mesmo razão.

Zsa Zsa, que era uma estrela, já vinha sofrendo com graves problemas de saúde  e faleceu aos 99 anos em 18 de dezembro de 2016 (iria completar 100 em 06 de fevereiro próximo). Dois dias após sua morte faleceu a primeira estrela da sequência, a atriz francesa Michèle Morgan, aos 96 anos.

No cinema desde 1937, Michèle foi uma das mais famosas atrizes da França, e teve uma carreira de sucesso que durou mais de cinco décadas. Importada por Hollywood, foi a primeira atriz cotada para protagonizar o clássico Casablanca (Idem, 1942), mas fez tantas exigências que acabou perdendo o papel para a sueca Ingrid Bergman. Aliás, Humprey Bogart também não foi a primeira opção dos estúdios, que queriam Ronald Reagan como Rick. A esposa de Reagan, a atriz Nancy Davis, que viria a se tornar a primeira dama Nancy Reagan também faleceu em 2016, no dia 06 de março.

No dia 27 de dezembro o mundo ficaria chocado com a morte da segunda estrela da previsão de Zsa Zsa, quando morreu a atriz Carrie Fisher, famosa pela saga Star Wars. Carrie havia completado recentemente 60 anos, e sofreu um ataque cardíaco durante um voo, consequências do excesso de remédios para emagrecer que vinha tomando após voltar a atuar e ser criticada pelo seu peso.

Carrie era filha da estrela Debbie Reynolds, que protagonizou musicais como Cantando na Chuva (Singin' in the Rain, 1952) e do cantor Eddie Fisher e cresceu sob os holofotes de Hollywood. Debbie, que também cresceu em frente às câmeras, despediu-se da filha e na noite de sua morte agradeceu o carinho e apoio recebido dos fãs, através de sua rede social:

“Obrigado à todos que tem abraçado os dons e talentos de minha amada e filha incrível. Eu sou grata por seus pensamentos e orações que estão agora, guiando-a para a sua próxima paragem. Amor, mãe da Carrie”

No dia seguinte porém, Debbie, que aparentava estar bem, não aguentou e foi juntar-se com sua filha, comovendo o mundo inteiro com sua história. Era a terceira estrela da profecia de Zsa Zsa. Aliás, pouco comentado foi que tanto Zsa Zsa quanto Debbie tiveram uma morte parecida, já que a atriz húngara sofreu um ataque cardíaco fulminante ao saber que seu filho mais novo, Oliver Prinz von Anhalt, havia sofrido um grave acidente de carro. E como Carrie, Oliver também faleceu no dia 27 de dezembro, oito dias após a morte da mãe.

Outro filho de uma grande estrela do mundo cinematográfico que partiu neste ano foi Frank Sinatra Jr., filho do cantor homônimo. Tal como a irmã Nancy Sinatra, Frank além de cantor, também participou de diversos filmes. Rita Lupino, que partiu aos 100 anos, era irmã da atriz e diretora Ida Lupino. Ainda na lista de parentes de artistas que morreram em 2016 estão as atrizes Nancy Down e Barbara Turner, cujas filhas ficaram mais famosas que as mães. Nancy era mãe de Jennifer Aniston e Barbara Turner era mãe de Jennifer Jason Leigh, e após abandonar a carreira de atriz tornou-se roteirista de filmes como Pollock (Idem, 2000). O comediante Alan Thicke, que morreu em dezembro, ficou famoso como o pai da série Growing Pains (que revelou o menino Leonardo Di Caprio), e na vida real era pai do cantor Robin Thicke. Já Teddy Rooney, ator mirim da década de 50, era filho do lendário ator Mickey Rooney, que como o filho, também começou a atuar ainda criança.

Aliás muitas estrelas infantis do passado também partiram no ano que passou, como Bobby Breen, o menino “soprano” que encantou Hollywood nos anos 30; Tommy Kelly que protagonizou As Aventuras de Tom Sawyer (Tom Sawyer, 1938); Joan Carrol de Agora Seremos Felizes (Meet Me in St. Louis, 1944) e Os Sinos de Santa Maria (The Bells of St. Mary's, 1945);  Billy Chapin o menino guardião do segredo do ótimo O Mensageiro do Diabo (The Night of the Hunter, 1955) e Patty Duke, que venceu um Oscar de melhor atriz coadjuvante com apenas 16 anos, por O Milagre de Ann Sulivan (The Miracle Worker, 1962). Entre os atores infantis, também perdemos três dos remanescentes originais do elenco de Os Batutinhas (Our Gang), série de filmes muito popular entre as décadas de 30 e 40: Douglas Greer, Richard DeNeut e Jerry Tucker. Além de Norman Abbott, último remanescente do elenco dos “Dead End Kids”, série de filmes de adolescentes rebeldes, produzida nos anos 40.

Portugal também perdeu uma de suas estrelas mirins do passado mais querida, Maria Eugénia, protagonista de A Menina do Rádio (1944), de Arthur Duarte. Aliás, o cinema português perdeu algumas de suas grandes estrelas como Madalena Sotto (que trabalhou também no Brasil), Fernanda Peres, Joaquim Rosa (que tive o prazer de entrevistar) e Nicolau Breyner (que chegou a filmar em Hollywood). Já Dannik Pattisson era francesa, mas em Portugal deu vida a Luisa, protagonista de O Primo Basílio (1959), baseado no romance de Eça de Queiróz.

O México se despediu da menina Cachita, estrela mirim da década de 50, que cresceu em frente às telas, e já com o nome de Evita Muñoz fez muitas novelas até recentemente (muitas delas exibidas nos Brasil). Outra estrelinha mirim que partiu foi Maria Luisa Alcalá, que também cresceu na televisão, tendo atuado até no seriado Chaves. E claro, não podemos esquecer de Rubén Aguirre, o professor Girafales do mesmo seriado. Ainda no México partiram o galã Aldo Monti; Mario Almada (uma espécie de Chuck Norris mexicano) e a veterana Lupita Tovar, uma das últimas atrizes da era do cinema mudo, homenageada pelo Seguinte em julho do ano passado, quando esta comemorou 106 anos de idade.

 

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Mexicano de nascimento, Mauricio Walerstein despontou como diretor na Venezuela, onde realizou diversos documentários, como Crónica de un Subversivo Latinoamericano (1975). Entre os latinos, despedimo-nos também das argentinas Amélia Bence (que morreu  aos  101 anos) e a bela Erika Wallner (que chegou a filmar em Hollywood e na Europa).  Nascido na Argentina, mas naturalizado brasileiro era o diretor Héctor Babenco.

Aliás, o Brasil também perdeu grandes nomes do seu cinema, como o cinegrafista Dib Lutfi, que tinha a "câmera na mão" nos filmes dos diretores com "uma idéia na  cabeça" nos filmes do Cinema Novo. Entre os nossos atores, talvez a morte mais comentada tenha sido a de Domingos Montagner, que partiu precocemente em um acidente. Mas perdemos também a veterana Chica Lopes, o rádio-ator César Monteclaro (protagonista de Quase no Céu, 1949), Antônio Pompeu, Lia Farrell, Tereza Rachel, a musa da pornochanchada Nadir Fernandes, Flávio Guarnieri, Ivan Cândido, Elke Maravilha, além do músico Severino Filho (do grupo musical Os Cariocas) e o cantor Cauby Peixoto, que com o nome de Ron Coby chegou a trabalhar em Hollywood. Também perdemos o diretor Andrea Tonacci, italiano de nascimento.

O cinema europeu também perdeu grandes estrelas, como a italiana Silvana Pampanini  (de A Presidenta, 1953); a inglesa Sheila Sim; o francêses Robert Darrène e Jaqueline Pagnol;  o ator e diretor italiano Giorgio Albertazi; o ator, cantor e compositor francês Pierre Barouh;  a francesa Madeleine Lebeau (última pessoa do elenco de Casablanca que ainda vivia); o italiano Franco Citti; a espanhola Chus Lampreave (uma das atrizes favoritas de Almodóvar). Morreram também dois atores dos filmes italianos dos filmes mitológicos com fortões, estilo Hércules  ou Maciste: Mimo Palmara e Mario Novelli. Também dos filmes de ação italianos era o fortão Bud Spencer, que fez uma longa e famosa parceria com Terence Hill. E perdemos um galã que filmou no Brasil, o suíço Marc Michel (que protagonizou Samba, com Sarita Montiel em 1965). E demos adeus ao do multifacetado Piérre Etaix, ator, diretor e mímico francês.

Hollywood também perdeu grandes astros de seu firmamento, como: Rita Gam;  George Kennedy; Glória de Haven; Charmian Carr; Robert Vaughan e Lyn Wilde, que fazia dupla com a irmã gêmea Lee (conhecidas como "gêmeas Wilde" ou "Wilde twin's"). Das novas gerações, perdemos Alan Rickman; Gene Wilder; Alexis Arquette; Kim McGuire; Bill Nunn e Michael Massee (que matou acidentalmente o ator Brandon Lee numa filmagem). Morreram também os muito jovens Nick Lashaway e Anton Yelchin, ambos mortos em acidentes de carro. E  ainda Bruiser, o cachorrinho dos filmes Legalmente Loira.

Entre as beldades, perdemos Maggie Blye, Rita Renoir, Marianne Gaba e Lisa Gaye. E os bonitões Richard Davalos e Van Williams, que viveu o Bezouro Verde no seriado com Bruce Lee.  Outros atores marcados por um personagem foram Johnny Duncan, o primeiro Robin, "o garoto prodígio" parceiro do Batman (em 1943); Noel Neil (a primeira Lois Lane, namorada do Superman) Madeleine Sherwood (a madre superiora de A Noviça Voadora);  Conrard Phillips (o Guilherme Tell); Hugh O'Brain (Wyatt Earp); Florence Henderson (de A Família Sol Lá Si Dó), Bernard Fox (o médico de A Feiticeira)  e William Christopher (de M.A.S.H.). Também não podemos esquecer do boxeador Muhammad Ali, que protagonizou o filme O Maior de Todos (The Greatest, 1977).

Cantores que se aventuraram pelo cinema também foram perdas sentidas, como David Bowie, que morreu nos primeiros dias de 2016. Kitty Kallen; Gogi Grant; Ruth Terry; Marni Nixon e Kay Starr fazem parte das cantoras veterenas que se juntaram ao grupo, enquanto Prince e Sharon Jones fazem parte dos cantores/atores que morreram precocemente.

Os fãs de Star Wars não sentiram apenas a morte da Princesa Leia (vivida por Carrie Fisher), mas também dos atores Drewe Henley (o líder vermelho), Alethea Mcgranth (Jocasta Nu),  Erik Bauersfeld (que dublou um alienígena, proferindo a famosa expressão "it's a trap"); Michael Leander (o Stormtrooper que bate a cabeça em uma porta), Peter Sumner (o tenente Treidum) e Kenny Baker, que atuou em todos os filmes da saga, mas sem nunca mostrar seu rosto, vestindo a roupa do robô R2D2. Outro ator que perdemos, mais famoso ao vestir uma fantasia que o cobria foi Michu Meszaros, que viveu Alf, o Eteimoso.

E os fãs do terror perderam Anguns Scrimm (o Homem Alto na saga Fantasma), Don Calfa (de A volta dos Mortos Vivos, 1985) e David Spielberg (de Christine – O Carro Assassino, 1983), além dos diretores Robin Hardy (O Homem de Palha, 1973) e Herschel Gordon Lewis (diretor de diversos filmes do gênero, incluindo Banquete de Sangue, 1963).

Dos bastidores relembramos a partida: dos cineastas Ettore Scola, Jaques Rivette, Abbas Kiarostami e Andrei Wadja; dos diretores de fotografia Vilmos Zigmond (de Contatos Imediatos do Terceiro Grau, 1977); Douglas Slocombe (de Indiana Jones) e Rauol Coutard (de Jules e Jim, Uma MUlher Para Dois, 1962); dos desenhistas Willis Pyne (de Pinóquio) e Tyrus Wong (de Bambi); dos produtores Gene Gutowski (produtor dos filmes de Roman Polanski) e George Martin (produtor musical e dos filmes dos Beatles); dos escritores Harper Lee, Edward Albee e Umberto Eco; e dos diretores Guy Hamilton (de vários filmes de James Bond), Michael Cimino (de O Franco Atirador , 1978), Arthur Hiller (de Love Story, 1970), Garry Marshal (de Uma Linda Mulher, 1990) e Curtis Hanson (de Los Angeles, Cidade Proíbida, 1996).

2016 foi um ano onde nos despedimos de muitos outros artistas além dos aqui citados, sejam eles atores ou profissionais técnicos, roteiristas, diretores, cenógrafos. Muitos premiados e consagrados, outros esquecidos pelo tempo. 

 

Diego Nunes, formado em Rádio e TV pela Universidade Metodista de São Paulo, é pesquisador da memória cultural e artística, e sua paixão é o cinema. Além disso, atua como diretor cultural da Pró-TV, Museu da TV Brasileira, e no departamento de arquivo da Rede Record de Televisão.

Acompanhe-o pelo Memória Cinematográfica.

 

 

 

 

 

 

 

 

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