Mais do que uma ação preventiva visando que crianças e adolescentes não se aproximem e muito menos se relacionem com o mundo das drogas, lícitas e ilícitas, e não se deixem influenciar ou se envolver com casos de qualquer tipo de violência doméstica, na escola ou na rua, o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd) é uma aula de cidadania, no sentido mais absoluto.
O programa que é desenvolvido no Rio Grande do Sul – e em Gravataí – desde 1998, já formou cerca de 11 mil alunos como participantes do curso somente na aldeia dos anjos. Neste segundo semestre mais 600 crianças, alunos das séries iniciais e dos 5º e 7º anos do Ensino Fundamental da rede municipal de ensino, serão declarados formados pelo Proerd.
Moral e costumes
De acordo com o comandante do 17º Batalhão de Polícia Militar (BPM) da Brigada Militar de Gravataí, tenente-coronel Vanderlei Mayer Padilha, o programa tem por objetivo prevenir a violência e evitar o uso de drogas. Na fala do oficial, fica evidente a questão da cidadania.
— São empregados nos encontros dos instrutores com os alunos métodos que priorizam e valorizam a moral e os bons costumes, além de modelos de vida saudável. O que fazemos é ensinar às crianças e adolescentes como reconhecer e resistir às pressões que podem leva-las a experimentar, por exemplo, as drogas.
Na sala de aula
A reportagem do Seguinte: foi, na terça-feira desta semana, assistir a um destes encontros na Escola Municipal de Ensino Fundamental Duque de Caxias, no bairro Itacolomi. O soldado-instrutor José Airton Nunes Gonçalves – nome de guerra José Airton – palestrou e submeteu a exercícios e fez brincadeiras com alunos do 5º ano, turmas 51 e 52.
Foi a lição número 8, que faz uma abordagem sobre o que é, quais os malefícios e como evitar o bullying tanto no ambiente da escola quanto fora dos muros destes estabelecimentos de ensino. Antes, o soldador José Airton respondeu questões feitas pelos alunos, de forma geral.
Os questionamentos deixados antecipadamente na “caixinha das perguntas” falam de tudo. Por exemplo, com temas pessoais, se o soldado-instrutor é uma pessoa realizada profissionalmente, até que série ou ano ele frequentou os bancos escolares. Com bom domínio da classe e muito bom-humor, safou-se de todas e ainda promoveu explicações sobre outros assuntos do cotidiano.
Como é
O curso do Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência consiste em 10 encontros com cada uma das turmas da escola que aderir ao Proerd. Os temas são voltados aos alunos das séries iniciais e do 5º e 7º anos do Ensino Fundamental. Por uma questão estratégica os estudantes do 6º ano não têm encontros com os instrutores do programa.
As cartilhas “Caindo na… Real” – quase integralmente custeadas pela iniciativa privada – são específicas para a idade dos alunos, com abordagens simples e didáticas. No caso dos alunos do 5º ano que tiveram o encontro nesta semana na escola Duque de Caxias, as próximas duas aulas serão: “Ajudando os outros”, lição 9, e “Obtendo ajuda dos outros e revisão”, na 10ª e última reunião.
As aulas são divertidas, mas com foco no conteúdo. Os alunos têm que responder às questões apresentadas e realizarem exercícios sobre o tema. Tanto nas cartilhas quanto verbalmente, de forma que todos ouçam e possam opinar. A cada manifestação correta, o soldado José Airton “puxa” o aplauso de todos.
Nos momentos de, digamos, maior descontração, quando os alunos se desconcentram e passam a conversar uns com os outros, as vezes até sobre o conteúdo da aula, José Airton invoca sua vocação militar e grita da gente um “luz, câmera…!”, uma forma de chamar a atenção. Os alunos respondem com um “…ação!”, ao mesmo tempo em que batem sobre as classes. Forma de despertar quem não dormiu bem à noite.
Montanha russa
Quase ao final e antes de passar a “lição de casa”, José Airton chama meninos e meninas para uma brincadeira, a “montanha russa”. Ele alerta que se trata de uma brincadeira perigosa e que os alunos têm total liberdade para não participar. O instrutor pede que os que não vão brincar se levantem, passem à frente da sala e fiquem todos de braços dados, para se protegerem “dos riscos”.
Com os demais, já suficientemente excitados, ele ensina os movimentos do que seria uma montanha russa de verdade, brinquedo dos parques de diversões que percorre trilhos em baixa e alta velocidades, em um sobe e desce que assusta quem ocupa os carrinhos e provoca uma gritaria geral.
Antes, todos põem o cinto de segurança, um exercício fictício. Depois inicia com os alunos, o movimento um, remetendo ao começo do deslocamento, e todos batem os pés no chão. O movimento dois já é quando o carrinho está em movimento e começa a andar mais rápido, e os alunos todos batem freneticamente sobre as classes.
Os movimentos seguintes são os das curvas do carrinho na montanha russa, para a direita, e para a esquerda, com todos erguendo os braços e gritando, como se estivessem realmente vivendo os momentos de pavor na realidade de um parque de diversões.
Os alunos que não quiseram participar voltam aos seus lugares e, para que não fiquem frustrados por terem ficado de fora da brincadeira, a “montanha russa” do Proerd é repetida. Claro que, agora, com um ingrediente a mais: o repórter do Seguinte: foi chamado a participar.
Assista no vídeo abaixo a reportagem do Seguinte: na Escola Duque de Caxias.
Prevenção é a saída
O comandante do 17º Batalhão de Polícia Militar de Gravataí, tenente-coronel Padilha, assegura que o Proerd é um excelente programa de prevenção à criminalidade justamente pelo fato de esclarecer às crianças e adolescentes aspectos sobre como evitar o assédio que pode leva-las às drogas e à criminalidade.
Diz, inclusive, que se houvesse condições o Proerd deveria ser levado aos estudantes de todas as escolas, das redes municipal, estadual e particular. Lembra, entretanto, que os instrutores são voluntários e precisam passar por capacitação antes de começarem a participar dos encontros, nas escolas. Em Gravataí, no 17º, atualmente são cinco policiais militares que levam o Proerd às escolas.
SOBRE A ESCOLA
: A Escola Municipal de Ensino Fundamental Duque de Caxias foi fundada em 1956.
: Atualmente é dirigida pela professora Adriana Maria Pires da Silva.
: Os alunos da Duque de Caxias frequentam turmas do 1º ao 9º ano.
: O estabelecimento tem cerca de 450 alunos e 35 professores.
: A Escola Duque de Caxias participou do Proerd nos anos de 2011 e 2012, pela primeira vez. Ficou de fora nos anos seguintes e retornou ao programa neste ano.
TRÊS FOTOS
: Soldado José Airton é instrutor do Proerd em sala de aula há oito anos.
: Nesta semana o instrutor teve encontro com alunos da EMEF Duque de Caxias, do Itacolomi.
: José Airton e a diretora da Duque de Caxias, professora Adriana Maria Pires da Silva
SOBRE O PROERD
1
O Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (PROERD) tem como base o DARE. (Drug Abuse Resistance Education), e foi criado pela Professora Rutty Hellen em conjunto com o Departamento de Polícia da cidade de Los Angeles, Estados Unidos, em 1983.
2
Atualmente o programa está sendo aplicado em todos os 50 estados americanos, e em pelo menos 58 países.
3
No Brasil o programa chegou em 1992 através da Polícia Militar do estado do Rio de Janeiro, e desde 2002 é desenvolvido em todos os estados brasileiros.
4
O Proerd é desenvolvido nas escolas públicas e particulares, nos 5º e 7º anos do Ensino Fundamental, na educação infantil (Proerd Kids) e para adultos com o Proerd para Pais, por policiais militares treinados e preparados para desenvolver o lúdico através de metodologia especialmente voltada para crianças, adolescentes e adultos.
5
O objetivo é transmitir uma mensagem de valorização à vida e da importância de manter-se longe das drogas e da violência.
6
No Proerd Pais é reforçada a importância da amizade e supervisão dos pais com os filhos.
7
Após quatro meses de curso (ou 10 encontros) as crianças recebem o certificado Proerd, ocasião em que prestam compromisso de manterem-se afastados e longe das drogas e da violência.
8
O Proerd Pais é composto de cinco encontros de aproximadamente duas horas.
9
O Programa é pedagogicamente estruturado em lições, ministradas obrigatoriamente por um policial militar fardado que, além da sua presença física em sala de aula, como educador social, propicia um forte elo na comunidade escolar em que atua, reforçando o trinômio Polícia Militar, Escola e Família.
Confira abaixo o que diz o comandante do 17º BPM, tenente-coronel Padilha, sobre o Proerd.