“Após os acontecimentos que tiveram lugar na Rússia no decorrer de seu Dia Mais Longo, Putin saiu vitorioso em todas as frentes”. Recomendamos o artigo do jornalista Pepe Escobar, publicado pelo Asia Times e traduzido por Patrícia Zimbres para o 247
Quando o relâmpago da História cai, o melhor é ir direto ao ponto logo de partida.
Lá vamos nós.
Após os extraordinários acontecimentos que tiveram lugar na Rússia no decorrer de seu Dia Mais Longo, o Presidente Putin saiu vitorioso em todas as frentes.
Entre outras façanhas, ele expôs a um ridículo absoluto e intergaláctico toda a mídia convencional do Coletivo Ocidental – mais uma vez.
Ele convocou virtualmente todos os russos a porem fim mais rapidamente à Operação Militar Especial (OME) – ou a “quase guerra” (segundo alguns círculos empresariais).
Ele – e a FSB – coletaram uma formidável lista de traidores e de 5ª e 6ª colunistas, que receberão o tratamento devido.
E ele agora conta com liberdade ilimitada para usar poderes de Lei Marcial em uma Operação Antiterrorismo (OAT).
Tanto quanto Putin ajudou o perene Lukashenko em agosto de 2020, evitando uma mudança de regime em Belarus, o bom e velho Luka evitou que a Rússia descambasse para uma guerra civil em junho de 2023.
Uma complexa e ampla operação de antiterrorismo está agora em vigor e Moscou e mais além, enquanto espécimes subzoológicos ocidentais se veem atordoados, ofuscados e confusos: não era para Putin ter ido encontrar o Czar Nicolau II?
Uma primeira olhada no tabuleiro nos mostra que todas as peças parecem estar se posicionando nos seus lugares corretos.
Prigozhin conseguiu um paraquedas dourado em Belarus. Shoigu talvez esteja em vias de ser despedido, e talvez Gerasimov também (sim, há camadas profundamente disfuncionais no interior do Ministério da Defesa). Os músicos da Wagner serão incorporados como um corpo regular do Exército russo. Talvez eles continuem a atuar na África: a demanda é enorme.
Então, o que realmente aconteceu após o Dia Mais Longo? Gigantescas verbas da CIA talvez tenham mudado de mãos. Mas, no final das contas, o “golpe” pode acabar sendo a Maior Trolagem do Ocidente pelos Russos de todos os tempos.
A Mãe de Todas as Maskirovkas
Mais uma vez, os fatos no terreno provam que Putin é o incontestável paladino da Rússia. Após manter-se em um silêncio estratégico por algumas horas, sua intervenção reuniu o pleno apoio da população civil, da FSB, dos chechenos, do Exército, dos comunistas, de todo mundo.
Os termos exatos do acordo entre Luka e Prigozhin, com o auxílio do governador da região de Tula, Alexey Dyumin, ainda não estão claros.
Prigozhin disse que os termos o satisfaziam. Peskov confirmou oficialmente que o processo penal contra Prigozhin será suspenso. Uma exigência importante de Prigozhin era a dupla renúncia do Ministro da Defesa Shoigu e do Comandante do Estado-Maior Gerasimov. O que talvez venha – ou não – acontecer no futuro imediato.
O que nos leva à ainda fascinante possibilidade de essa ter sido a Mãe de todas as Maskirovkas. Prigozhin monta todo esse circo só para conseguir um encontro com Shoigu e Gerasimov em Moscou.
Pensem em alguém armando-se até os dentes só para ir a um encontro.
O cenário da Mãe de Todas as Maskirovkas implica também uma jogada digna de xadrez 5D.
No sábado, o Wagner estava a 200 quilômetros de Moscou.
Mas, no domingo, o Wagner estava a 100 quilômetros de Kiev.
Alguém topa subir de nível no jogo da Arte da Guerra de Sun Tzu?
Entre a soberania e a traição
Alexander Dugin está certo ao apontar que esse foi também um exercício de Soberania: “Apenas o Lukashenko soberano, juntamente ao próprio Putin soberano confrontaram-se com [Prigozhin]…Vimos que muitos podem tramar contra o Presidente e o povo, agindo nas sombras e aparentemente em seu nome, mas salvar a Pátria em uma situação crítica não é especialidade dessas pessoas”.
O corolário é que a Rússia precisa de “uma elite soberana, do contrário tudo irá se repetir”.
Quanto ao atordoado e confuso Coletivo Ocidental, em especial a junta OTAN-Kiev, que de uma hora para a outra deixaram de taxar o Wagner de “terroristas” para vê-los como “combatentes pela liberdade”, atolar-se em seu próprio charco é uma arte que eles dominam à perfeição.
A mídia convencional urdiu a narrativa de que as proverbiais “autoridades ocidentais” haviam sido “tomadas de surpresa” pelo motim. Isso depende da quantia do dinheiro que mudou de mãos, e em qual direção, durante os preparativos.
A OME, agora OAT, continua de vento em popa. O Exército Russo prossegue lutando, imperturbável. A “contraofensiva” ainda tropeçaà beira do abismo, pronta para ir beijar a escuridão do vazio.
Putin vencendo em todas as frentes implica a totalidade da população civil – e os militares – engajados em preservar a ele e às instituições russas, bem como no aperfeiçoamento dessas instituições. Em absolutamente nenhuma nação de todo o Coletivo Ocidental é possível encontrar esse nível de apoio dos cidadãos.
A política russa é um tipo especial de animal. Ela funciona no nível mais alto e também na base – diferentemente do Ocidente, onde a norma é um profundo ódio entre as elites e o povo.
É claro que deve ser ressaltado que são sempre os menos patrióticos dos oligarcas russos que fogem quando algo parecido com o Dia Mais Longo acontece.
Por algumas horas, o Ocidente apostou pesadamente no desmembramento da Rússia. Isso não vai acontecer agora. Nem em um futuro previsível.
A sucessão já vem sendo preparada pela Equipe Putin e por alguns oligarcas patrióticos escolhidos a dedo. Entre os candidatos, há um nome secreto que deixará a todos estarrecidos quando for revelado. Ele ainda é invisível em termos de opinião pública, e trabalha nas sombras. Seu nome deve permanecer em segredo por enquanto.
Nas atuais circunstâncias, o importante é que a Rússia emergiu ainda mais forte do Dia Mais Longo. O homem e a mulher do povo, mais uma vez, mostraram ser verdadeiros patriotas, prontos para defender a Pátria custe o que custar.
Não houve confronto entre aqueles que são a favor das instituições russas e aqueles que são a favor do Wagner. A verdade é que as pessoas apoiam a ambos. Elas viam o Wagner como os “bem-educados homens verdes” que ajudaram a retomar pacificamente a Crimeia em 2014. Nenhum policial ou militar os enfrentou.
Putin, portanto, está mais forte do que nunca. Mas as pessoas devem sempre ter em mente que há uma coisa que ele não consegue perdoar: a traição.