RAFAEL MARTINELLI

Quando ser ‘persona non grata’ é motivo de honra; os assassinos de crianças

O vídeo transmitido pela TV Al Araby mostra a pequena Layan e o pai Mohamed deitados um ao lado do outro na rua (leia mais no artigo)

Um dia após Israel matar mais 20 pessoas em Gaza — entre elas quatro jornalistas — o ministro da Defesa israelense, Israel Katz, decidiu lançar uma campanha de difamação contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em publicação em português na rede X, Katz chamou Lula de “antissemita declarado e apoiador do Hamas”, usando inclusive uma montagem grotesca feita por inteligência artificial para associá-lo ao líder iraniano Ali Khamenei. A acusação cita a decisão do Brasil de se retirar em julho da IHRA (Aliança Internacional para a Memória do Holocausto), denunciada pelo assessor especial e ex-embaixador Celso Amorim como um organismo que manipula a definição de antissemitismo para silenciar qualquer defesa da Palestina.

Lula não é antissemita. Sua trajetória, inclusive com visita oficial ao Museu do Holocausto, prova o contrário. O que o governo brasileiro faz é se recusar a aceitar que a memória da maior barbárie do século XX seja sequestrada como justificativa para outro massacre em andamento.

Enquanto Katz espalha fake news, sua tropa de ocupação mata em média 28 crianças por dia em Gaza, segundo o UNICEF. Uma investigação da BBC revelou que ao menos 168 crianças foram alvejadas por franco-atiradores israelenses, muitas na cabeça ou no peito, incluindo a menina Layan, de dois anos, assassinada no colo do próprio pai, e Mira Tanboura, de seis anos, morta com um tiro no coração em uma estrada supostamente “segura”.

Esse é o peso moral da acusação contra Lula: ela vem de um ministro de um governo que atira deliberadamente em crianças, destrói hospitais, bombardeia jornalistas e bloqueia ajuda humanitária. Um governo que converte a expressão “direito de defesa” em licença para genocídio.

A jornalista Andrea Dip escreveu recentemente e o Seguinte: compartilhou que, quando o “Nunca Mais” do Holocausto se transforma em memória seletiva — válida para uns, negada a outros —, ele deixa de ser promessa universal e vira instrumento de cumplicidade. É exatamente esse o mecanismo que Katz tenta impor: chamar de antissemita qualquer voz que se levante contra a limpeza étnica em Gaza.

Pois bem: se ser persona non grata para Israel significa não compactuar com crimes de guerra, então isso é um título a ser comemorado. Melhor ser acusado de “apoiar a Palestina” por um assassino de crianças do que ser cúmplice silencioso de um genocídio transmitido ao vivo.

O ataque a Lula é, na verdade, uma medalha. E a verdadeira vergonha recai sobre quem tenta usar a memória do Holocausto como escudo para justificar o extermínio de outro povo.

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