Nos meus mais de vinte anos de vida profissional já atuei em diversos lugares e com pessoas igualmente diferentes. Em um desses, dividia o espaço e os afazeres com uma jornalista que tinha sempre na ponta da língua a máxima: “sou paga para trabalhar e não para ser simpática”.
A frase era repetida sempre que alguém ousava reclamar do seu costumeiro mau-humor ou comentar as indelicadezas dela no ambiente de trabalho.
Foi um tempo curto em que trabalhei sob a supervisão dela, mas o suficiente para perceber que uma pessoa mal-humorada cronicamente e que ignora os sentimentos e o bem-estar de seus pares contamina o ambiente e compromete a qualidade do trabalho.
De fato, se pensarmos literalmente, ninguém é pago para ser simpático, para ser alegre, para ser gente boa, para ser agradável. Somos pagos, quando temos um emprego ou quando nos dedicamos a vender serviços, para fazermos bem-feito o nosso trabalho.
Mas eu pergunto: o que significa fazer bem aquilo para o qual somos remunerados?
Bom, eu acredito que “fazer bem-feito” tem um significado bem mais amplo do que apenas o que remete ao ato de executar com maestria e domínio técnico uma tarefa.
No caso da minha colega, sua competência se limitava a executar tarefas e a resolver problemas técnicos. Nada, além disto. Não havia em seu modo de agir ou em sua personalidade – que ela dizia ser bipolar, com certo orgulho – empatia, traços de solidariedade, de generosidade, de simpatia.
A essa altura, você já deve estar se perguntando o que pretendo com essa conversa sobre um episódio da minha vida.
Lembrei-me desse episódio para dizer que somos convocados o tempo todo a exercer tarefas para as quais necessitamos lançar mão de várias habilidades.
Neste momento, enquanto escrevo esse texto, não preciso ser simpática com ninguém a não ser comigo mesma. Afinal, trabalho sozinha, no meu homeoffice, para um cliente quese encontraa uma distância de 2,2 mil quilômetros.
Mas caso alguém leia o texto e decida me enviar uma mensagem, minha competência de nada vai servir se eu não tiver a habilidade de lidar com essa pessoa.
Posso ser antipática no sossego do meu escritório, às voltas com meus papéis, meus livros, meu caos interior. Mas quando o trabalho envolve equipe, envolve relacionamentos, é preciso simpática e cordial, sim.
É preciso mais. É preciso colocar em prática a arte da empatia, que vai além da simpatia simplesmente. Não existe trabalho em equipe que funcione com a sombra de alguém prestes a ter um piripaque a qualquer minuto.
Ou, pior, alguém que já se apresenta com a máxima: “não espere sorrisos, porque eu sou paga para fazer meu trabalho e não para ser simpática”.