Nas últimas 24 horas foram registradas mais quatro vidas perdidas pelo novo coronavírus em Gravataí. Julho já tem 21 das 33 mortes, e 558 dos 958 casos. Com uma média de 35 casos por dia, mais de um a cada 24 horas nos primeiros 16 dias do mês, a assustadora marca dos 1000 casos pode ser atingida nesta sexta. Nada que convença covidiotas, infectados com o vírus da desinformação, ou da informação do mal.
Começo pelo pesar.
A última vítima fatal, confirmada nesta noite, é a quinta entre moradores da instituição de longa permanência de idosos (ILPI), localizada no bairro Oriçó. A idosa de 80 anos, que estava internada no Hospital da PUC, em Porto Alegre, possuía como comorbidades hipertensão e diabetes.
O local está sendo monitorado pelas secretarias municipal e estadual da Saúde devido ao um surto. Cerca de uma dezena de pessoas relacionadas à instituição tinham suspeita ou testaram positivo para COVID-19.
As outras vidas perdidas são de mulher de 55 anos, que apresentava como comorbidades doenças cardiopáticas, renais, diabetes e pneumopatias. Ela faleceu no Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
Um homem de 69 anos, que sofria de obesidade e doença cardíaca, faleceu no Hospital Padre Jeremias, em Cachoeirinha. Uma mulher de 64 anos, diabética, foi a óbito na Unidade de Pronto Atendimento (UPA).
Conforme nota da Prefeitura, “todos os casos suspeitos e confirmados de COVID-19, incluindo os óbitos, estão sendo acompanhados pela Vigilância em Saúde (VIEMSA)”.
Explico desenvolvo até explicar a manchete deste artigo.
Faz mal a saúde ler os comentários nas redes sociais nas postagens de notícias sobre a explosão de casos e as vidas perdidas. É doença crônica, de desinformados ou informados do mal.
O que leva tanta gente a duvidar das mortes pela COVID-19? Ou dar a entender que se faz um sorteio para escolher qual ente querido de alguém, que perdeu a vida no dia, ‘ganha’ atestado de óbito com o novo coronavírus à noite? São barbaridades como “Morreu de COVID ou de câncer?”; “Morreu porque era velho”; “Botam COVID no óbito que é para ganhar dinheiro do Bolsonaro”; “E eu acredito em Papai Noel e Coelhinho da Páscoa”; “Comemoram morte como um gol” e outros etceteras que me dão tanto asco quanto o Presidente da República, Jair Bolsonaro, ter dito em abril que não teríamos mais do que as 880 mortes por H1N1 registradas em 2019.
Qualquer consulta ao ‘Dr. Google’ mostra que o novo coronavírus tem as estatísticas mortais relacionadas a pacientes mais velhos (especialmente acima de 60 anos), e com como obesidade, diabetes e hipertensão, ‘comorbidades’ que indicam um pior prognóstico também para os jovens. Clique aqui para entender em detalhes os porquês, e os efeitos negativos de cada doença, em artigo do médico Alexandre Câmara.
Para efeitos de comparação, o que acontece com a SARS-CoV-2 é semelhante ao HIV. Ninguém morre do ‘vírus da AIDS’, e sim de doenças oportunistas que atacam a fragilidade do sistema imunológico dos portadores. No caso do coronavírus, as condições de saúde potencializam a COVID-19.
Só que, como alertei em levantamento do Seguinte: utilizando dados do Ministério da Saúde, Metade de Gravataí e Cachoeirinha tem doenças que potencializam a COVID 19; alerta aos covidiotas. Eu, você, podemos estar no grupo de risco e nem saber.
Sobre os ‘velhos’, a 'ideologia dos números' mostra que a expectativa de vida neste Brasil desigual é de 76,7 em 2020, conforme dados do IBGE. A projeção é chegar a 80 daqui a 20 anos. No Rio Grande do Sul é de 76,89. Conforme levantamento do MS, a maior parte das mortes no país está entre 60-69 (23,5%) e 70 e 79 (24,6).
Que idade tem sua mãe, seu pai, sua avó? Minha mãe tem 67 anos, ainda trabalha, até a pandemia frequentava academia de ginástica e, arrisco, tem uma saúde melhor que a minha, um fumante sedentário. Luiz Zaffalon tem a mesma idade e é o candidato à Prefeitura em 2020 apoiado pelo prefeito Marco Alba, e antes da pandemia ao menos uma vez por ano rodava lugares inóspitos do mundo em sua moto BMW.
Já é evidência de doença social a politização e a naturalização da explosão de casos e, pior, da morte. Posso apostar que o político que testou positivo, e tratei hoje em Dimas está com COVID 19; ’Ainda não tenho sintomas’, diz vereador e candidato a prefeito de Gravataí, deve ter recebido inúmeras mensagens que, antes da solidariedade, ‘receitaram’: “toma Cloroquina”.
Na Gravataí dos mil casos e 33 mortes, as primeiras reportagens do Seguinte: com infectados passavam de 20 mil leituras. Hoje, uma vida perdida recebe atenção de 5 mil leitores.
No Brasil, que nos próximos dias chega aos 2 milhões de casos e 100 mil mortes, a notícia mais comentada no Twitter era o nude que mostrava o dote de um cantor que eu nunca tinha ouvido falar, Tiago Iorc – conheço o Thom Yorke, do Radiohead, artista cujo talento certamente está a muito mais de 20 centímetros da celebridade do dia.
Ontem o jornalista Reinaldo Azevedo cunhou uma expressão que é um joelho apertando nossos pescoços até roubar o ar: vivemos um “genocídio cordial”. Na tragédia que representa, parafraseando Marx, famílias são destruídas diariamente como se naturalmente caíssem podres da Árvore dos Acontecimentos.
Ao fim, enojado, associo-me ao resumo postado por leitor, após de uma série de comentários covidiotas em meu artigo de ontem Mortalidade da COVID 19 em Gravataí é maior que média gaúcha, igual a Porto Alegre e próxima a São Paulo; siga os dados:
– Que gente ignorante!
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