jeane bordignon

Que saudade da Medonha!

Essa foto volta e meia aparece no meu facebook. E eu lembro bem desse dia. A Denise estava lançando o primeiro livro da Medonha, e claro que fui pegar meu exemplar autografado. Aproveitamos para falar do projeto do meu primeiro livro infantil, que eu a convidara para ilustrar. No momento da foto, ela me me contava que tinha feito o primeiro esboço da boneca que é um elemento central da história.

Quando escrevi “Rebeca e a boneca”, antes do ponto final já estava pensando na Denise para fazer as ilustrações. Ela era “arteira” e apaixonada por cores como eu, saberia captar o que eu esperava dos desenhos. A Denise aceitou sem pensar duas vezes, mas nunca vi o esboço.

Pouco depois daquele encontro no lançamento fui para o Rio de Janeiro, e nosso contato passou a ser virtual. Quando ela postou a foto, fez questão de colocar na legenda “falta a tua boneca…” Eu não me importava que fosse demorar para o livro nascer, mas esperaria o tempo que fosse pelos desenhos da Denise. Não imaginava esse projeto feito com outra pessoa.

De longe, eu via a minha amiga, ou melhor, meu casal amigo Denise e Max, postando fotos em eventos culturais, depois à espera do filho tão sonhado e finalmente com o lindo Iberê Obi. Denise deixou tantas lembranças de alegria! Enquanto eu estava ocupada pelos meus perrengues no Rio, não percebi que as fotos foram ficando menos frequentes. Foi um choque quando vi posts de luto e tentei saber o que tinha acontecido.

Mas Denise também não expôs a doença, lutou discretamente. Foi solar até o fim. Deixou muitas saudades em todos que tiveram, mesmo que um pouquinho, o prazer de conviver com ela. Agora em junho fez três anos que ela virou estrela. Mas ainda é estranho imaginar essa aldeia sem ela. Porque não conheci alguém que amasse mais Gravataí do que a Medonha.

Foi numa matéria para o CG que nos conhecemos. A Denise estava com uma exposição de desenhos de prédios históricos e pontos de visitação de Gravataí, em cascas de jacarandá. Na entrevista, ela contou de outros projetos, incluindo quadrinhos desses prédios, informação que guardei bem na memória.

Quando chegou a época de fazer o caderno especial de aniversário da cidade, lembrei dos quadrinhos e sugeri pro editor (ele mesmo, o Martinelli) usarmos os desenhos da Denise! Ele gostou da ideia, e a artista, que ainda não tinha adotado o codinome Medonha, me recebeu na casa dela, inclusive me levou no próprio quarto para mostrar os trabalhos. Enquanto o Dirnei Jr. fotograva os desenhos, nós duas conversávamos. Dali em diante, nunca mais perdemos contato.

A gente acabava se encontrando também por causa do Clube Literário, para o qual a Denise fez várias capas de livros. Queria muito que ela tivesse feito uma capa para mim. Também tiveram eventos da AGIR… a Medonha conseguiu me fazer participar do bloco de carnaval, e eu até brinquei com o tamborim!

Para quem não sabe, o apelido surgiu por causa de um colunista rabugento de um jornal duvidoso aqui da aldeia. Foi na época que o Quiosque (um espaço cultural da cidade) estava em obras e os artistas locais, incluindo Denise e Max, fizeram desenhos lindos nos tapumes. Denise estava na época apaixonada por cupcakes, e desenhou um cupcake gigante bem colorido. E o colunista azedo disse que as artes eram “medonhas”.

Pois a Denise respondeu que se as obras eram medonhas, então ela era A Medonha, e adotou o codinome, inclusive transformou em personagem dos seus livros infantis. Porque arte é isso: subversão! Medonha cresceu e virou sucesso. O colunista? Não sei, e acho que ninguém sabe que fim levou, porque ele usava um pseudônimo e não revelava a verdadeira identidade.

Outra coisa que Denise e eu tínhamos em comum era a paixão pela Frida Kahlo. Qualquer coisa que víamos da pintora nas redes, marcávamos a outra. Estou costurando duas bonecas da Frida para uma encomenda e é impossível não lembrar da minha amiga. Ela ia amar. Provavelmente eu iria fazer uma boneca para ela também. Até chegamos a sonhar em viajar juntas para o México, conhecer o museu da Frida.

Ainda quero publicar o livro da Rebeca, mesmo que com outro ilustrador. Mas o nome da Denise estará na dedicatória, faço questão. Ela sempre fará parte desse sonho.

E ainda tenho que conhecer pessoalmente o Iberê Obi, porque voltei para a aldeia no início da pandemia, então não deu. Mas já pedi para o Max separar os outros livros da Medonha para mim e com certeza, assim que o corona der trégua, vamos nos encontrar.

Iberê, tua mãe era uma pessoa maravilhosa, e tenho certeza que sempre estará olhando por ti, de onde ela estiver.

Que saudades, Medonha!

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