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Quem é o padre dos Anjos

Padre Tarcísio Rech, natural de Bom Princípio, há 18 anos convive com Gravataí e há quatro anos e meio é o titular da Paróquia Nossa Senhora dos Anjos além de dirigir o Lar Sacerdotal, no Seminário São José.

Ele orbita Gravataí, vive, conhece a gente da aldeia, prega, conversa, ouve e dá conselhos, há pelo menos 18 anos. Chegou aqui para estudar no começo dos anos 2000, vindo do “pé da Serra”, mais precisamente de Bom Princípio, a capital do Moranguinho, e hoje é o pároco da Paróquia Nossa Senhora dos Anjos há cerca de quatro anos e meio.

O padre Tarcísio Arsênio (“Não é arsênico”, brinca, referindo-se a um dos  mais famosos e letais venenos) Rech, um dos 10 filhos do casal de agricultores Inácio e Ana Wilma (ambos já falecidos) serve um chimarrão que prepara com capricho e erva das melhores. É bom de conversa e tem posições firmes sobre igreja e religiosidade.

A reportagem do Seguinte: encontrou  com o padre Tarcísio no final da tarde desta quinta-feira (25/7) na Casa Paroquial daquela que é, talvez, a principal igreja de Gravataí, no centro da cidade. Ele estava atrás de uma mesa coberta por papéis, boletos, anotações, documentos recebidos e a serem encaminhados, entre muitos outros.

Além de pregar o Evangelho – como bom pastor do rebanho das ovelhas do Senhor – o Tarcísio padre tem sob sua responsabilidade a comunidade paroquial da Nossa Senhora dos Anjos, que em dezembro próximo completa 247 anos, cuida da restauração da matriz (obra que já dura sete anos e envolve alguns milhões) e é o diretor do Lar Sacerdotal.

Na casa onde ficam os padres adoentados, simplesmente aposentados ou que estão de passagem por alguma razão, especialmente para tratar da saúde, hoje ele zela por 12 residentes, entre eles um muito conhecido da comunidade católica da região: o monsenhor Irineo Flach, que por 21 anos foi o vigário da Nossa Senhora dos Anjos e hoje está aposentado.

Por lá passaram outros nomes importantes do clero católico, como o padre Ermelindo Lotermann, da Paróquia São Vicente de Paulo, de Cachoeirinha, que faleceu no Hospital Dom João Becker em 13 de dezembro de 2012 após 35 anos dedicados ao sacerdócio. E o bispo dom Remídio Bohn, que faleceu, vítima de câncer, em janeiro do ano passado, quando já estava afastado do comando da Diocese de Cachoeira do Sul.

 

Nove paróquias

 

Investido na função de padre da Paróquia de Nossa Senhora dos Anjos, tem sob sua bênção mais quatro comunidades: Santa Luzia, Santa Rita, Menino Jesus e Nossa Senhora do Rosário. Para a atividade conta com o ombro amigo do jovem padre Gilberto Pacheco. E esclarece: Gravataí não tem apenas uma igreja matriz.

Mas, como assim?

O município tem ao todo nove paróquias, sendo as maiores as do Parque dos Anjos, Morungava, Passo do Hilário, Morada do Vale… E cada uma destas paróquias tem a sua igreja matriz. Então, são 10 as “igrejas matriz” espalhadas pela cidade e interior de Gravataí, com a finalidade de receber a comunidade católica não só para celebrações como as missas, mas casamentos, batizados, comunhões, crismas…

Na última terça-feira, Tarcísio Rech foi uma das 20 pessoas homenageadas na Câmara de Vereadores com o título de cidadão Honorário de Gravataí. Seu nome foi uma indicação da vereadora Rosane Bordignon (líder da bancada do PDT). No espaço das justificativas, a vereadora mirou a vida religiosa do padre, sem entrar nas questões sociais e ideológicas que acompanham o Tarcísio enquanto cidadão religioso.

Sobre o título, o significado.

— Esse título representa que eu sou um cidadão como tantos outros, que veio para esta terra para desenvolver um trabalho, no caso, sendo padre. Não sou mais do que ninguém pela minha condição de padre, apenas mais um que está ajudando e trabalhando pelo desenvolvimento do município, tanto econômico quando social — afirma.

 

TRAJETÓRIA

 

1

Tarcisio Rech é natural de Bom Princípio e mora em Gravataí desde 2011, quando retornou ao município depois de passar, inclusive, por Brasília.

 

2

É formado em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) em 1983.

 

3

Passou pelos Seminários São João Maria Vianey, em Bom Principio, São José, em Gravataí, e Seminário Maior Nossa Senhora da Conceição, em Viamão.

 

4

Tornou-se diácono em julho de 1987, em Santo Antônio da Patrulha, e em 12 de dezembro do mesmo ano foi ordenado padre, em Bom Princípio.

 

5

Foi vice-diretor e professor no seminário São José, em Gravataí, de 1989 a 1994. “Metia o terror nas aulas de Matemática”, lembra, com bom humor.

 

6

Foi pároco nas paróquias Santa Maria Goretti, em Estrela, e Nossa Senhora da Gloria e Divina Misericórdia, em Porto Alegre.

 

7

Foi eleito pelos padres do Rio Grande do Sul como presidente da Comissão Regional dos Presbíteros – que trata da organização e cuida da vida dos padres.

 

8

Foi assessor da Comissão Episcopal dos Ministérios Ordenados e Vida Consagrada da Conferência nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em Brasília, de 2003 a 2006.

 

9

Foi delegado brasileiro junto à Organização dos Seminários Latino-americanos, que tem sede em Bogotá, na Colômbia.

 

Cidade religiosa

 

Padre Tarcísio conta que pisou o chão de Gravataí pela primeira vez ainda no ano de 1975, e que enquanto capinava o chão nas plantações do Seminário São José acompanhava a terraplanagem do terreno onde seria construída a fábrica da Pirelli. Época em que, quando necessitava se deslocar até o centro para algum compromisso, se falava “eu vou na vila”.

O padre garante: Gravataí é, sim, uma cidade religiosa até pela sua formação que teve missionários católicos já na sua fundação. Mas o catolicismo não é a única religião professada no município, de longa data.

— Vivemos atualmente uma proliferação de outros segmentos religiosos, os quais respeito muito por achar que todos temos que trabalhar com um objetivo comum, que é de fazer com que a vida das pessoas seja sempre melhor.

 

A FRASE

 

— Quando me tornei padre eu escolhi testemunhar o bom pastor a serviço do Evangelho. O papa (Francisco) diz que a gente tem que ir à frente, abrir caminhos, e isso é um desafio nos dias atuais. Abrir caminhos é atrair as pessoas, o rebanho, para as novidades que estão no nosso dia a dia. O Evangelho é sempre o mesmo, mas a realidade muda, e é preciso projetar e realizar coisas novas. Por exemplo, antes, há não muito tempo, o povo procurava a igreja, e hoje é preciso que a gente vá ao encontro do povo, das pessoas, para trazê-las ao Evangelho.

 

Tarcísio Rech
Padre da Paróquia Nossa Senhora dos Anjos

 

Múltiplas facetas

 

Um padre moderno, que tem perfil nas redes sociais, diz que esta modernidade faz com que os religiosos de um modo geral tenham a percepção da evolução, e que as mídias, inclusive as alternativas, fazem parte de uma nova realidade que precisa ser utilizada para o bem, de forma a atrair as pessoas também para a religião.

O uso desta tecnologia, na opinião do padre Tarcísio, serve para explicar de várias formas a religião e a religiosidade. Assim como a economia, exemplifica, que não pode mais ser explicada apenas de uma forma, por um único aspecto. São temas, como tantos outros, que têm múltiplas facetas que devem ser interpretadas e explicadas.

O padre Tarcísio reconhece que mesmo entre o clero há quem precise descer do pedestal e se misturar com o povo.

— Isso faz parte da vida moderna, e é preciso que estejamos no meio do povo — afirma.

Ele não chega a criticar, mas deixa no ar um questionamento sobre a validade, importância e eficácia do que fazem alguns de seus colegas de batina que usam a mídia para, segundo dizem, fazer a propagação do Evangelho em grandes eventos, ou shows, como os dos padres cantores, entre eles o padre Marcelo Rossi.

— Como estes (os padres que fazem shows) podem ser fiéis ao Evangelho? Este é o grande desafio! É fácil fazer sucesso, e a gente sabe que tem os grandes grupos (empresariais) que pegam os religiosos pelo viés econômico.

 

Clique na imagem abaixo para assistir ao vídeo do bate-papo do padre Tarcísio Rech com a reportagem do Seguinte:.

 

Opiniões do padre

 

Sobre a Igreja Católica ceder espaço e perder fiéis para outras religiões, especialmente a Igreja Evangélica:

— Isto ajuda a nos purificarmos, ou buscarmos esta purificação. A Igreja Católica tem seus erros, e cotidianamente a gente se depara com as coisas boas e as nossas fraquezas.

 

Sobre os padres e o alto clero da Igreja Católica manifestarem ideologias e preferências, especialmente político-partidárias:

— Eu gosto de ideologias. Eu não gosto é de pessoas que não são ideológicas. Já pensou como é alguém não ter ideias? Ideologia significa um conjunto de ideias e, na igreja, não necessariamente são ideias de esquerda porque tem muita gente, muito desse conjunto de ideias que puxa para o outro lado.

 

Sobre a pedofilia envolvendo principalmente os padres:

— A pedofilia é crime, e como crime deve ser tratada. São casos que não existem só no clero, mas também entre outros profissionais. Só que na igreja isso dói muito, muito mais, e por isso deve ser mais penalizado ainda.

 

As drogas e a drogadição:

— É o flagelo da sociedade. Quando tratamos o tema da violência, por exemplo, numa Campanha da Fraternidade, há alguns anos, um oficial da Brigada Militar disse com todas as letras: a única coisa que eles temem, na questão da violência, é a droga! A pessoa deixa de ser pessoa, é quase como um bicho, e isso é um grande desafio.

 

O aborto, tão condenado pela Igreja Católia…

— Para nós, cristãos, o aborto também é considerado crime. A vida tem que ser defendida desde a gestação até o fim, até a morte da pessoa. É uma posição muito firme que a Igreja Católica tem e eu concordo com ela porque a vida está acima de tudo. Onde há pelo menos “um fio” de vida eu tenho que lutar para quer esta vida seja preservada.

 

Sobre homossexualidade e casamento entre pessoas do mesmo sexo:

— A homossexualidade, antes chamada homossexualismo, era considerada doença, e a gente sabe que não é doença. O tratamento correto e olhar as pessoas como seres iguais aos demais, que precisam de acolhimento. Elas precisam ser participantes das nossas comunidades de fé e estarem inseridas na sociedade.

 

Violência e criminalidade:

— Isso está muito ligado às drogas. Superar é um desafio nosso enquanto religiosos e da sociedade como um todo. O amor, a solidariedade, a compaixão, é um espírito de vida… Um espírito de paz, em que se combate a violência com a não violência.

 

Distribuição das riquezas, sob o ponto de vista econômico-financeiro:

— Este é um tema muito querido por nós da igreja porque, enquanto igreja, queremos que todos sejam irmãos e irmãs a partir do Evangelho. E distribuição de riqueza de forma justa significa condições dignas de trabalho, de vivência de cada ser humano.

 

Armar a população, ou desarmar?

— Desarmar! Sempre desarmar! O amor vence o mal. O mal não se combate com o mal.

 

CURIOSIDADE

 

Seguinte: – Padre não usa mais batina no seu dia a dia. Como as pessoas o reconhecem como padre, na rua?

Tarcício Rech – Eu não sei… Mas as vezes quando vou ao hospital, são três quadras só daqui de casa, eu quase não consigo chegar lá porque todo mundo quer falar comigo. Acho que o padre é reconhecido por ser um do povo, ser presença e presente na comunidade.

 

 

 

 

 

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