Ele esperou o silêncio de todos antes de começar a falar, na manhã daquela segunda-feira. Bem trajado, mas sem gravata, sorria sem marcar as bochechas e garantiu cumprimento aos quase 100 amontoados no salão de eventos da metalúrgica. Era a hora de Cesar se apresentar como o novo diretor aos seus liderados. Um contingente de vendedores, secretárias, gerentes de produção, estagiários, terceirizados, e outros dois diretores que dividiriam com ele a tarefa de superar desafios, vencer a crise e assegurar o crescimento com lucro, sem deixar de valorizar as pessoas, o bem mais precioso. Pelo menos era essa a fala corrente. Era isso o que todos aprenderam a repetir, incluindo o atendente do balcão de informações, o único que ficou de fora da reunião, pois alguém precisava atender telefonemas e visitantes eventuais naquele horário.
Sem ruídos alheios, o bom dia de Cesar se fez sonoro e límpido, sendo tímida e desafinadamente respondido. Era comum os executivos marcarem seu primeiro dia com uma reunião geral de não mais do que cinco minutos, antes das oito horas. Cumpria-se um protocolo, portanto e por ser protocolar ninguém esperava grandes novidades. Cesar, aliás, era conhecido. Durante três anos gerenciou operações da filial de Caxias do Sul, depois saiu e fez MBA na Califórnia, passou um período sabático na China, onde estudou mandarim, e o último ano passou como consultor de inovação na sede do grupo, tornando-se, agora, seu diretor-superintendente, nome que pretendia mudar assim que assumisse o novo cargo.
Então, após as formalidades iniciais, esclareceu:
– Serei breve e quero deixar a todos uma mensagem que, espero, seja inspiradora. Eu trabalho pra mim. Única e exclusivamente para mim. Todo o resultado que busco é para satisfazer a mim mesmo e aos desafios a que me proponho.
A fala saiu com a mesma candura do bom dia inicial, mas entre risos desconcertados e olhos congelados, chocou. E ele continuou:
– Saibam que toda a chefia ou liderança moderna trabalha assim. Apenas acho importante que entendam desde já o que faço e como isso faz a diferença pra vocês.
Na concepção de Cesar, fazer para si e por si, era a melhor forma de garantir resultados para a empresa. Afinal, se a pessoa não busca o melhor para ela própria, não serviria para contribuir com os outros e com os negócios. Ele seguiu dizendo que sua revelação nada mais era do que a transparência total de um gestor com seu funcionário. E após esse segredo revelado, tudo seria mais fácil e ele poderia fazer a empresa crescer sem culpa. Restavam pouco mais de dois minutos daquele evento e um corajoso levanta a mão para perguntar:
– Se é assim, quando eu precisar de um feedback, realmente estará pensando em algo que tem a ver com o problema ou será fingimento?
– Nunca será fingimento! Sempre será a verdade cristalina. Mas tudo o que eu te disser, será, obviamente, para conduzi-lo a fazer o que é melhor para mim.
Naquele razo poço filosófico do novo diretor, não demorou para que muitos bebessem dos ensinamentos e seguissem a mesma cartilha. E muito embora bons resultados tenham aparecido nos dois anos seguintes, um percalço lá, outro acolá levaram à substituição de Cesar. O que não rendeu prejuízo a sua imagem. Ele tinha plena consciência da responsabilidade por seus erros e acertos e conseguiu encantar o vice-presidente da multinacional onde se encaixou como CEO, após demonstrar em números os acertos e em relatos apaixonados como planejou, desenvolveu e implementou os projetos e políticas corporativas na sua última experiência profissional. E quem não quer alguém que carregue um portfólio de projetos colocados em prática? Cesar era um realizador! Se daria certo, os próximos anos diriam.
E lá na primeira empresa, o atendente que fazia as vezes de porteiro e ficava fora das reuniões para orientar desavisados, completou mais um ano de casa, fazendo o que lhe é ordenado e assegurando passe ou informação para todos que se propõem a manter os negócios em curso.