3º Neurônio | humor

Questionar? Eis a questão

Quase todo mundo já respondeu pelo menos uma vez aquele questionário que Proust respondeu duas. Em priscas eras –  quando a expressão priscas eras era entendida – preenchi tantos cadernos de amigas que nem lembro se em algum dele fui brilhante, superficial ou equivocado. Só sei que meu álibi era e é, sempre, a sinceridade. Por inesperada nostalgia, e pra evitar todos os assuntos sacais da semana, volto às 29 perguntas. Pero, entre levar o questionário a sério e levar-me a sério vai alguma distância. Até aqui:

 

Qual é sua maior qualidade?

Compreensão, sobretudo com as coisas incompreensíveis.

 

E seu maior defeito?

Qualquer um que gere mal-entendidos ou constrangimentos.

 

A coisa mais importante em um homem?

Brio, que pouco se vê hoje em dia.

 

E em uma mulher?

Senso de humor, que raras demonstram.

 

O que você mais aprecia nos seus amigos?

A manutenção da nossa contemporaneidade.

 

Sua atividade favorita é?

Sentar em poltrona. Pra conversar, pra escrever, pra ler,

pra namorar, pra assistir filmes, pra jogar, pra cochilar etc.

 

Qual é sua ideia de felicidade?

Não precisar ter ideias pra chegar a ela.

 

E o que seria a maior das tragédias?

Qualquer perda humana.

 

Quem você gostaria de ser, se não fosse você mesmo?

Ninguém, mas adoraria ter sido arquiteto.

 

E onde gostaria de viver?

Em Porto Alegre mesmo, numa casinha com quintal arborizado para os dias ensolarados e claraboia para os chuvosos.

 

Qual sua cor favorita?

Qualquer tom de verde.

 

Sua flor?

Pra admirar, lírios ou tulipas. Pra oferecer, nenhuma.

 

Um pássaro?

Aquele que contagia pela empolgação canora: o sabiá.

 

Seus autores preferidos?

Pelo interminável prazer na leitura, Edgar Allan Poe, Joseph Conrad, Jorge Luis Borges e Luis Fernando Veríssimo.

 

E os poetas de que mais gosta?

Manoel de Barros e Paulo Leminski, que mostram pras palavras quem manda nelas.

 

Quem são seus heróis de ficção?

Nero Wolfe, detetive de Rex Stout, Indiana Jones, do Spielberg, e Calvin & Haroldo, HQ de Bill Waterson.

 

E as heroínas?

As mais provocantes, do Milo Manara, e as mais perturbadoras, do Guido Crepax.

 

Seu compositor favorito é?

João Donato sempre, Johnny Mercer de madrugada e Beethoven a sós.

 

E os artistas que você mais curte?

Francis Bacon, Mauritius Cornelius Escher e Alexander Calder.

 

Quem são suas heroínas na vida real?

Isso também é ficção.

 

E quem são seus heróis?

Pior ainda.

 

Qual é sua palavra favorita?

Filigrana, pela leveza, e ambigrama, pela intriga.

 

O que você mais detesta?

Coentro e leite adoçado no substantivo e varejo, e má vontade e burrice no abstrato e atacado.

 

Quais são os personagens históricos que você mais despreza?

Fazendo ou não parte da história, todos os políticos.

 

Quais os dons da Natureza que você gostaria de possuir?

Uma folga na lei da gravidade.

 

Como você gostaria de morrer?

Tentando prorrogar meu prazo de validade.

 

Agora, já, como você está se sentindo?

Em dia comigo mesmo.

 

Que defeito é mais fácil perdoar?

Um que não seja sistemático.

 

Qual é o lema da sua vida?

Tudo vai dar certo, mesmo que não dê.

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