A General Motors reportou lucro e receita acima do esperado no quarto trimestre antes do início do pregão de quarta-feira e, conforme o site Investing Brasil “forneceu uma perspectiva otimista de 2019 graças à resiliência de dois de seus maiores mercados, os EUA e a China”.
O que isso tem a ver com o Mercosul, Brasil e Gravataí? Vamos à notícia e depois faço um link com reportagem da CNN norte-americana que revelou a cobrança feita por Donald Trump a CEO da GM Mary Barra e um recado claro do presidente no discurso do Estado da União – o que já tratei no Seguinte: no artigo Trump, Gravataí, almoço e marmita de graça; o futuro da GM.
Conforme o site especializado em economia, “a montadora sediada em Detroit faturou US$ 1,43 por ação, com receita de US$ 38,4 bilhões”. Os analistas consultados pela Investing.com, que esperam que a GM apresente um lucro de US$ 1,24 por ação (a meta de receita foi de US$ 36,0 bilhões), avaliam que “os resultados foram impulsionados pela forte precificação, pelas vendas cruzadas, pelo controle disciplinado de custos e pelo lançamento bem-sucedido das novas picapes de tamanho normal da empresa: o Chevrolet Silverado e o GMC Sierra”.
A montadora disse que vê um lucro anual entre US$ 6,50 e US$ 7,00 por ação, acima das estimativas de US$ 6,27. Após o lançamento do relatório, as ações da GM subiram cerca de 4% no pré-mercado para US$ 40,85. Agora, às 13h, sobem 1,3%.
A conclusão dos especialistas é que “os resultados indicam que os esforços contínuos da GM para se remodelar estão começando a valer a pena”. E, como não poderia deixar de ser para quem lucro é elogio, não palavrão, os créditos vão para “o plano de reestruturação abrangente lançado em novembro, que inclui demissões, fechamento de fábricas e agilização de sua linha de veículos”.
Comento.
Os resultados globais da companhia não encobrem os prejuízos nos últimos cinco anos na América Latina, informados pelo presidente da GM Mercosul Carlos Zarlenga no comunicado aos funcionários que armou a bomba da redução de investimentos e até uma possível saída da empresa do Brasil.
O alívio do início desta semana precisa ser visto com cautela – pelo menos para quem quer falar sobre amanhã, não sobre ontem.
Se nesta segunda o Seguinte: trouxe, na reportagem GM garante investimentos na fábrica de Gravataí, de Silvestre Silva Santos, a confirmação de que o R$ 1,4 bilhão de investimento previsto para Gravataí está garantido (da mesma forma que o total de R$ 13 bi, do ‘show do bilhão’, do plano de investimentos anunciado para o Brasil, em 2017, para aplicação entre 2014 e 2019), conforme a GM estaria sob condições seria o aporte de outros R$ 10 bilhões, dinheiro programado para ser investido entre 2020 e 2024. E as condições são, justamente, o resultado das negociações que já começaram a ser feitas em quatro frentes: trabalhadores, concessionários, fornecedores e governantes.
– A GM está negociando condições de viabilidade para o novo e adicional investimento de R$ 10 bilhões no período de 2020 a 2024. Caso as negociações tenham sucesso, a GM investiria R$ 23 bilhões entre 2014 e 2024 (R$ 13 bilhões de 2014 a 2019 e R$ 10 bilhões de 2020 a 2024) – diz nota da companhia.
Reafirmo: a coisa não está tranquila como uma pescaria no Pantanal. Como já tratei no artigo Se precisar fechar, GM fecha, “there’s no free lunch, muito menos free marmita”. Se as negociações de incentivos fiscais com os governos de São Paulo e, em escala menor, do Rio Grande do Sul, não ajudarem a acelerar a recuperação dos prejuízos que a montadora alega ter na América do Sul e não houver um acordo de redução de margem de lucro das concessionárias e a aceitação das medidas propostas aos trabalhadores das fábricas paulistas e de Gravataí, poderemos estar caminhando para uma despedida gradual da GM do país nos próximos dez anos.
Onde Trump entra nisso?
No discurso do Estado da União de quarta, a principal manifestação da Presidência ao Congresso, o presidente apresentou o que chamou de ‘milagre econômico’, com a criação de 300 mil empregos, mas deixou nas entrelinhas um recado à GM, que na segunda começou a promover 4 mil desligamentos nos EUA e ofereceu demissão voluntária a 18 mil colaboradores.
– Queremos mais carros feitos nos Estados Unidos – disse.
Essa obsessão de Trump por empregos domésticos, e o fato da América Latina representar apenas 5% do mercado da GM reduz as esperanças das fábricas brasileiras – e Gravataí entre elas – produzirem veículos elétricos.
Só essa tecnologia garante mercado futuro e permite a certeza de que as GMs brasileiras não entram em combustão nos próximos 10 anos.
Conclui assim o artigo de terça:
“(…)
Não dá para tratar como ameaça da GM, porque a montadora não precisa fazer isso; e o prefeito foi feliz ao não esconder, em entrevista ao Seguinte:, que a pressão vinda da matriz em Detroit “não é blefe”. Marco Alba fez uma mediação, elogiada pelos sindicalistas, que agora tem o papel de analisar o cenário e aceitar ou não o início do fim da produção em Gravataí.
Pode-se não falar mais nisso até 2020. Mas, repito o alerta, principalmente aos últimos românticos que não entenderam o mercado globalizado em que negocia a GM: “there´s no free lunch” e nem “free marmita”.
Resumindo numa tuitada, como está na moda:
– Se não tivermos investimentos da GM na tecnologia do carro elétrico, filhos e netos que se preparem.
(…)”
Recomenda-se aos inúmeros que sonham concorrer à Prefeitura que nos próximos dois anos preparem boas propostas para Gravataí sobreviver a um eventual cataclismo pós-GM.
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