A retrospectiva do Seguinte: com o que aconteceu no cenário político em 2018 começa pelo final, e pelo que se pode projetar no cenário movediço que esse ano apresentou. Derrotado nas urnas em sua tentativa de reeleição à Câmara Federal, o ex-prefeito de Cachoeirinha, José Stédile (PSB), acabou o ano como a limonada a partir dos limões que o pleito deixou para a política tradicional do Vale do Gravataí. Stédile foi anunciado como o secretário de Obras no governo Eduardo Leite (PSDB), que começa hoje. Em sua primeira entrevista como secretário anunciado, Stédile garantiu:
— A 118 é prioridade, sem dúvida. Tanto para o governador, como já falou na campanha, quanto para mim, que conheço como ninguém a importância da obra.
Com um articulador da região no centro do novo governo estadual, o presságio para o 2019 é positivo. Além das obras da RS-118, que ainda se planeja finalizem neste ano, Gravataí terminou 2018 na espera por recursos no convênio com o Estado para o trevo da parada 103 da RS-030 e recursos para o asfaltamento da “Rota Turística” da Artur José Soares.
Este último capítulo político de 2018 confirmou uma tendência do que as urnas desenharam em outubro para a região. Foi positivo para Gravataí e Cachoeirinha.
Contra tudo o que está aí
Este foi um ano em que o Grande Tribunal das Redes Sociais consagrou-se depois de maturar por dois anos, desde o impeachment de Dilma Roussef e o avanço da lava-jato. A onda do “contra tudo o que está aí” criou o “mito” Jair Bolsonaro (PSL). O militar, eleito pelo voto, toma posse hoje e, no cenário local, carregou seis em cada 10 votos. Levou junto seu homem de confiança Onyx Lorenzoni (DEM), que estará à frente da Casa Civil. E com ele, um interlocutor direto com o Vale do Gravataí: Evandro Soares. Este, um vencedor no ano da eleição.
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E já que Gravataí e Cachoeirinha não fizeram cadeiras em Brasília nem em Porto Alegre, ter boa relação política com estes pivôs da nova configuração de 2019 será importante. Pouco depois da eleição, o diálogo entre o prefeito Marco Alba (MDB) e Evandro Soares — neste ano, VIP no casamento de Onyx — já estava aberto.
O candidato mais votado em Gravataí foi Dimas Costa (PSD), que concorria a um lugar na Assembleia Legislativa e chegou à suplência, com 18.013 votos na aldeia. No cenário desenhado em 2018, o vereador parece ter sido o que melhor se adaptou e personificou o “Bolsonaro na aldeia”, mesmo sem declará-lo abertamente. Entre todos os candidatos da região, foi o que teve maior envolvimento em seu perfil o Facebook. A eficácia da liderança nas urnas da região, será medida a partir de 2019. Ele almeja 2020 e a prefeitura.
Dimas não fazia parte da foto de agosto de 2018 que definiu as apostas dos políticos tradicionais da região na eleição. Saíram derrotados. Lideranças do MDB e do PSB, que governam Gravataí e Cachoeirinha reuniram-se e lançaram os dados eleitorais. Na aldeia, a primeira-dama Patrícia Bazotti Alba seria a candidata do prefeito à Assembleia, e Jones Martins, depois de anos de desgaste na defesa do governo Michel Temer (MDB) na Câmara, tentaria se manter em Brasília. Em Cachoeirinha, o “primeiro ministro” de Miki Breier (PSB), Juliano Paz, com um pé em Cachoeirinha, outro em Gravataí, foi o nome para deputado estadual.
Em entrevista no final do ano, o prefeito de Cachoeirinha fez a análise do que as urnas mostraram:
— Foi uma derrota, e precisamos aprender com ela. A população deu um recado radicalizado, difuso, até um pouco sem critério, mas é preciso respeitar o eleitor.
A derrota dos tradicionais
Paz fez apenas 3.826 votos em Cachoeirinha e outros 2.697 em Gravataí. Patrícia foi a mais votada da cidade, no total de votos, chegando a pouco mais de 33 mil, mas na aldeia, ficou nos 13 mil votos, e Jones Martins estacionou nos 15 mil votos. Todos insuficientes para se elegerem.
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Em Gravataí, o pleito, na reta final, ainda revelou onde poderia estar o erro estratégico. Só nas últimas semanas o MDB local abriu voto no “Sartonaro” (uma pouco clara simbiose de José Ivo Sartori, em busca da reeleição, e Jair Bolsonaro, o novo presidente). Tivessem assumido mais cedo a preferência pelo “mito”, muito provavelmente fariam mais votos, e talvez uma eleição.
As contas para 2019
Em 2018, as administrações municipais tiveram suas conquistas. Em Gravataí, a duplicação das pontes do Parque dos Anjos finalmente iniciou, e a duplicação da Avenida Centenário — já defasada, segundo o próprio prefeito — ficou pronta. Em Cachoeirinha, o cercamento eletrônico virou realidade e os números da criminalidade despencam ao mesmo tempo em que novos investimentos são anunciados na esperança de reaquecimento econômico.
Em comum, os dois governos guardam como trunfos a organização das contas públicas. E, neste aspecto, a eleição de Bolsonaro, ao menos nos primeiros discursos do novo governante, pode ser uma nova limonada a partir de 2019: ele prometeu uma divisão mais igualitária dos recursos para os municípios. Promessa já ouvida em governos anteriores e nunca concretizada. Mas, quem sabe o que 2019 e o governo Bolsonaro reservam?