Os reaças e os idiotas são muito úteis. Sempre foram: sem eles, o movimento dominante em todas as épocas seria o mesmismo. O mesmismo, o leitor intui (se é que alguém lê isso aqui), é o modo mais acomodado de pensar. Costuma ser a reação – condicionada, automática, impulsiva – ao novo, à novidade, à inovação, enfim, o contrário da mesmice reinante.
Esse preâmbulo tem mais a ver com o agora do que com o antigamente. Agora, vulgo hoje em dia, o mesmismo virou religião, e todos os adeptos viraram fanáticos. O mesmismo é o oxigênio do terraplanismo.
Foi pensando nos idiotas e nos reaças, e no maior e mais influentes deles – o deprimente da república – que a turma da Grafar (Grafistas Associados do Rio Grande do Sul) e o jornal Brasil de Fato se uniram para rir do terraplanismo. (Os terraplanistas também riem, claro, embora hienas soem mais agradáveis.)
Dessa união entre famintos por espaço e gulosos por leitores surgiu a edição especial Brasil de Fato Humor, uma raridade editorial: humor impresso! Coisa impensável na grande mídia: nenhum jornalão quer, seja na capa ou páginas internas, sarna pra se coçar. Há exceções, honrosas e desonrosas.
Puizé, um suplemento inteiro, 20 páginas a cores, 25 mil exemplares, distribuição gratuita, circulação no RS. O mesmo humor que, décadas atrás, nenhum veículo dispensava: chargistas e cartunistas e humoristas a comentar a tragicômica situação do país. No caso do BdF Humor, um bombardeio de opiniões sobre um governo que quer porque quer acabar com qualquer opinativo, de traço ou de letras. Ainda tá longe o dia em que a desgraceira cultural e censória irá dominar nosso espírito.
De cabo a rabo, a edição especial é um deleite para democratas, um purgante para reaças e idiotas. E pra reforçar a consistência editorial do projeto, o BdF Humor apresenta dois destaques memoráveis.
Um é a linha do tempo. quatro páginas que esclarecem como o Brasil veio de mal a pior em poucos anos, até desembocar no golpe na democracia e no nazifascismo do Bozonaro e seus zilhões de eleitores. São dezenas de charges a ilustrar a trajetória do golpismo.
Outro é um entrevistaço com LFV, quatro páginas, 41 perguntas e respostas, numa saraivada de humor certeiro contra o terraplanista-mór e seus estúpidos seguidores. Pra nosso orgulho e prazer do leitor, a maior entrevista que o cronista mais querido do Brasil já deu a um jornal.
O time que engrossa o BdF Humor é grandioso, em número e talentos: Adão Iturrusgarai, Alexandre Beck, Ayrton Centeno, Benett, Bier, Edgar Vasques, Ernani Ssó, Eugênio Neves, Fabio Zimbres, Fraga, Jota Camelo, Kayser, Laerte, Moa, Odyr, Orlando Pedroso, Rafael Corrêa, Rafael Sica, Santiago, Schröder, Solda, Uberti, Vicente e a editora Katia Marko.
Nós, editores, colaboradores e convidados do BdF Humor, damos gracias aos idiotas e reaças de todo o Brasil. Sem eles não haveria oposição crítica e social, resistência criativa e bem-humorada.
Para ler a edição completa do BdF Humor acesse aqui.