Do impresso ao digital, fundador de três jornais, Roberto Gomes de Gomes agora se aventura no ambiente online. A Coletiva preparou um perfil do diretor do Seguinte:
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Com o cigarro na mão direita e um olhar atento, Roberto Gomes de Gomes aguardava a entrevista ao lado de fora da cafeteria. Ainda que não tenha se formado em Jornalismo, os hábitos denunciam a convivência com profissionais da área nos últimos 30 anos. Para dar início à conversa, que durou duas horas, pediu um café longo com chantili.
Natural de Júlio de Castilhos, com cinco anos perdeu a mãe Rosa Maria, vítima de hepatite. Órfãos maternos, ele e as irmãs, uma de três anos e outra com nove meses, ficaram com o pai, José Edil. Nessa época, se mudou para Glorinha, onde morou com avós e tias, e, quando o patriarca da família se casou novamente, viveu com o pai e a madrasta por um período. “Perambulei um pouco”, resumiu, referindo-se à infância, e acrescentando que “nunca fiquei desassistido. Tive várias mães”. Ao todo, soma quatro irmãs, duas de pai e mãe – a professora Rosângela e a nutricionista Jussara– e outras duas por parte apenas de pai – a jornalista Márcia e a engenheira de alimentos Patrícia.
Quando residiu em Gravataí cursou Direito na Unisinos e, nessa fase, foi eleito secretário-geral ao Diretório Acadêmico. A chapa vencedora colocou em prática uma das promessas de campanha: um jornal. “Me interessei pelo Jornalismo de forma casual”, afirmou, e contou que, com essa iniciativa acadêmica, percebeu que faltava um impresso no município onde morava.
Em 1982, surgia o Correio de Gravataí (CG), que hoje é do Grupo Sinos, e lançou a primeira edição em maio do ano seguinte. A redação funcionava no seu quarto durante manhã e tarde, quando elaborava a pauta, escrevia as matérias, diagramava e vendia os anúncios, cujas artes eram feitas pela namorada de Santa Cruz do Sul. “Só havia uma escrivaninha e uma máquina de escrever emprestada”, lembrou, reforçando a simplicidade do projeto, e recordou mais: a primeira secretária foi sua avó, que atendia ao telefone residencial com o título do impresso.
Evolução dos negócios
A partir do envolvimento com o CG, deixou o curso de Direito e passou para Jornalismo. Nessa mesma época, transferiu a redação do jornal para o centro da cidade, comprou uma linha empresarial e estruturou o departamento comercial. Anos mais tarde, quando a montadora General Motors se instalou no município, estudava a possibilidade de trocar a periodicidade para bissemanal. Porém, havia boatos de que um empresário estava estruturando um impresso diário. “Resolvi enfrentar e coloquei antes dele”, relatou, e justificou que, se não tivesse feito isso, os demais jornais também teriam sido extintos na cidade.
Nesse período, expandiu a veiculação do jornal para Cachoeirinha, com um encarte de quatro páginas dedicado ao município. Entretanto, percebeu que não era suficiente e que a população desejava se ver mais. Ao evidenciar que isto representava mais de 20% do faturamento da empresa, lançou o Diário de Cachoeirinha (DC) em 20 de novembro de 2003. Empreendedor, três anos depois, também criou o Diário de Viamão (DV).
No final dos anos 90, tomou conhecimento sobre planejamento estratégico através da Associação Comercial de Gravataí e do Senai. Com isso, implantou ferramentas de qualidade para organizar seu negócio com indicadores e metas. Com as alterações, passou a trabalhar como Grupo CG, intitulado pelos próprios jornalistas. “Geração espontânea da redação”, brincou. Para provar os resultados positivos, destacou que, desde 2004, os veículos sempre foram reconhecidos no Prêmio de Excelência Editorial da Associação de Diários do Interior (ADI). Na primeira edição da distinção, conquistaram o primeiro e o terceiro lugar. Com um ano de atividades, ganharam o Troféu Negrinho do Pastoreio, da Associação Riograndense de Imprensa (ARI).
O divórcio, em 2006, o levou a se desfazer da parte pertencente à ex-esposa e procurou o Grupo Sinos para isso. Após longas tratativas, negociou 100% do jornal. Gomes contou que o motivo para isto foi a certeza de que continuariam preocupados com as bandeiras locais e que contratariam todos os profissionais. “A transição foi tranquila para os funcionários. Foram demitidos em um dia e readmitidos no outro”, salientou.
Laços e relações
Em 1990, casou com a mineira Hideko Takahashi, que era estudante de Medicina e farmacêutica. O companheirismo entre eles foi tão grande que ela chegou a fazer menos cadeiras para auxiliar na administração das empresas do marido. “Uma pessoa formidável. Sem dúvida, é a minha melhor amiga”, declarou, com afeto. Da união, nasceu Hiroito Takahashi Gomes. Aos 24 anos, o herdeiro reside há quatro em São Paulo, onde trabalha como redator publicitário na Crispin Porter Bogusky Brasil (CP+B Brasil).
Antes de se aventurar na terra da garoa, Hiroito teve passagem pela J. Walter Thompson, motivo de orgulho: “Sabe a campanha de doação de órgãos da Santa Casa, que o Luis Fernando Verissimo e o Zé Roberto ilustram? O texto é dele”, contou o pai coruja. Sobre a escolha profissional do primogênito, garantiu que nunca houve interferência alguma: “Ele se encontrou nessa atividade”.
Atualmente, Gomes mora com a atual esposa, Rosângela Ilha, em Cachoeirinha, onde recebe, com frequência, a visita de Hiroito e dos amigos do casal. Comentou que a companheira é administradora de empresas e está à frente do Diário de Viamão, enquanto ele responde pelo portal Seguinte.
Qual o sentido da vida?
Nas horas vagas, mais do que ir ao cinema e ouvir música, ama ler. “Sou voraz nesse quesito e devo isso ao meu pai.” Da biblioteca de livros que coleciona, com biografias nacionais de jornalistas, o que mais lhe marcou foi a história do Barão de Mauá. Na sua visão, foi o maior empreendedor que o Brasil teve, pois fundou o Banco do Brasil, o Banco Nacional do Uruguai, a primeira ferrovia e a indústria naval brasileira. Obras literárias deste gênero inspiram o trabalho de Gomes, que ressaltou ainda que a obra favorita é sempre a próxima.
Seu tempo de lazer é também composto por partidas de pôquer ao lado dos amigos e de sessões de Netflix no computador. Como bom gaúcho que se considera, gosta de fazer e comer churrasco com a família – e assegura que prepara um salmão no forno como ninguém. “Ainda pretendo aprender outros pratos”, admite.
O empresário se considera realizado em relação ao casamento e ao trabalho. Acredita que todo mundo, independentemente do ofício, busca pela felicidade. “A gente tem que fazer algo que nos faça feliz. Esse é o sentido da vida”, exclamou, visivelmente satisfeito. Sua capacidade de rir de si mesmo, acredita, torna a rotina mais leve, e prefere aprender com os próprios erros, “pois viver é um conjunto de tentativas”.
O passo Seguinte
Com a venda dos diários para o Grupo Sinos, assinou um contrato que o impossibilitava de montar um negócio no segmento por três anos. Nesse processo, nem se imaginava mais trabalhando com Comunicação na região. Porém, quase 10 anos depois, observou que as pessoas estão consumindo informação de forma diferente. Reuniu os jornalistas Rafael Martineli e Rodrigo Becker e o humorista e escritor Fraga para montar o portalSeguinte, cujo conteúdo é predominantemente político. Afirmou que o site de notícias locais está em fase de desenvolvimento, mas que apresenta resultados positivos: em seis meses, tem mais de 850 mil leituras e uma média de 140 mil por mês.
Para aproveitar as eleições municipais, o quarteto realizou o primeiro webdebate com os candidatos, que contabilizou 46 mil visualizações na transmissão ao vivo pelo Facebook. “Isso tudo é Google Analytics”, exaltou. A cobertura do portal se estendeu às colunas, como a ‘Tudão’, e à criação da seção ‘Atualizadão do Seguinte’, que trouxe informações de hora em hora sobre os postulantes.
Gomes espera que a iniciativa na web cresça e, para isso, tem feito cursos na área e se aventurado nas redes sociais. Tem como objetivo aprimorar a linguagem específica para estabelecer uma relação mais fiel com o público online. “Tenho lido muito para entender como funciona. O mercado está verde. Os veículos replicam na internet o conteúdo do impresso. Não podemos negar que a forma de produzir e a linguagem são diferentes no online”, constata, evidenciando que a gama de possibilidade é maior no ambiente digital, ao reunir jornal, rádio e TV na mesma plataforma.