RAFAEL MARTINELLI

Se hacker provar o que disse, Bolsonaro vai em cana e leva generais junto

Associo-me ao jornalista Leonardo Sakamoto, no artigo Se hacker provar o que disse, Bolsonaro vai em cana e leva generais junto, publicado nesta quinta-feira pelo em sua coluna no UOL.

Sigamos no texto.

Se o depoimento do hacker Walter Delgatti Neto à CPMI dos Atos Golpistas for embasado com provas e documentos e não ficar só no gogó, não apenas Jair Bolsonaro deve passar um longo período no xilindró por conspirar contra a democracia, como levará consigo alguns que passaram pela cúpula das Forças Armadas.

Delgatti afirmou que visitou o Ministério da Defesa em cinco ocasiões após ouvir em reunião de uma hora e meia com o então presidente da República um pedido para ele encontrar uma forma de atacar as urnas e tirar a credibilidade do sistema eletrônico de votação.

Segundo o hacker, ele chegou a se reunir com general Paulo Sérgio Nogueira, então ministro da pasta. Reconheceu que não era possível invadir o sistema de totalização ou mudar o código-fonte da urna de forma remota. Daí, como prêmio de consolação ao bolsonarismo, invadiu o sistema do Conselho Nacional de Justiça e colocou uma ordem de prisão falsa contra Alexandre de Moraes. Mas, antes, teria alimentado as Forças Armadas.

Em depoimento à Polícia Federal após ser preso em 2 de agosto, Delgatti já havia dito que orientou o relatório das Forças Armadas sobre o processo eleitoral de 2022. “Tudo o que foi colocado no Relatório das Forças Armadas foi com base em explicações do declarante”, aponta um trecho. Agora, reforçou isso na CPMI.

A declaração é gravíssima, pois o trabalho da tal comissão técnica do Ministério da Defesa que estava “fiscalizando” as eleições foi usada por Jair contra o próprio sistema eleitoral. E o tal relatório estimulou o movimento golpista que desaguou no 8 de janeiro.

Divulgado no dia 9 de novembro do ano passado, o documento não apontou a ocorrência de fraudes nas eleições. “Conclui-se que a verificação da correção da contabilização dos votos, por meio da comparação dos Boletins de Urna (BU) impressos com os dados disponibilizados pelo TSE, ocorreu sem apresentar inconformidade”, afirmou o relatório em sua página 24, pouco antes de listar um resumo das “oportunidades de melhoria”.

Ou seja, nada foi encontrado. Mas o então ministro Paulo Sergio de Oliveira encaminhou junto uma nota em tom especulativo para atender às necessidades do bolsonarismo. Citou “possível risco” à segurança na geração dos programas das urnas eletrônicas e afirma que os testes de funcionalidade das urnas não foram suficientes para afastar a “possibilidade” da influência de um eventual código malicioso.

Na sequência, o Ministério da Defesa divulgou uma nota baseada em uma falácia descrita no mais básico manual de lógica. De acordo com o texto, o trabalho da equipe de técnicos militares “embora não tenha apontado, também não excluiu a possibilidade da existência de fraude ou inconsistência nas urnas eletrônicas e no processo eleitoral de 2022”.

Não é porque as Forças Armadas não conseguiram provar que fraudes são impossíveis que elas ocorreram de fato. Algo que alguém não provou ser falso não é necessariamente verdadeiro, da mesma forma algo que pode, em tese, acontecer não aconteceu de fato necessariamente. Uma criança entende isso, mas os bolsonaristas-raiz engoliram.

O relatório e a nota foram bombados pelas redes bolsonaristas, ajudando os golpistas a permanecerem mobilizados em frente às portas dos quartéis e em estradas. Entre os depoimentos de golpistas presos após o 8 de janeiro, há aqueles que dizem que foram a Brasília para tentar ver o “código-fonte”.

Na época, a situação foi imediatamente percebida pelo presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, que emitiu nota recebendo com “satisfação” o relatório que “não apontou a existência de nenhuma fraude ou inconsistência nas urnas eletrônicas e no processo eleitoral de 2022”. Completou, afirmando que as sugestões serão analisadas depois.

A fiscalização das urnas eletrônica e do sistema de votação não é atribuição das Forças Armadas (que deveriam cuidar das nossas fronteiras, mais porosas que esponja), mesmo assim foi isso o que elas fizeram a pedido de Bolsonaro.

Confirmado que Walter Delgatti Neto foi fundamental para o relatório em questão, e lembrando que ele foi incumbido pelo então presidente de atacar as urnas eletrônicas, temos mais uma confirmação de que membros da cúpula militar atuaram ao lado de Jair contra a democracia. E precisam ser punidos de acordo com a lei.

Não podem alegar que estavam seguindo ordens porque a Constituição não lhes permite que um hacker com más intenções dite uma declaração em papel timbrado das Forças Armadas para ser usado como aríete contra a República.

Diante do medo de ser preso, o hacker afirmou que Bolsonaro lhe garantiu indulto. “Eu poderia cometer um ilícito que seria perdoado”, afirmou à CPMI. Equiparou à promessa ao caso do então deputado Daniel Silveira, indultado por Jair após ter sido condenado pelo STF.

Incensado no ano passado como lutador da liberdade, hoje Silveira está esquecido, amargando uma cela em Bangu.

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