MOISÉS MENDES

Sebastião Melo, as estátuas e os farsantes das liberdades absolutas

A liberdade absoluta de expressão é uma grande farsa defendida por direita e extrema direita. Porque todos os reacionários defensores das liberdades, com as exceções de sempre, perseguem ou mandam perseguir quem discorda deles.

Temos um caso exemplar. Apresentado pelo bolsonarismo como paladino das liberdades, o empresário Luciano Hang, o autoproclamado véio da Havan, processa dezenas de jornalistas que o criticam ou dizem verdades a seu respeito.

Já processou e conseguiu condenar até um sujeito que mijou numa das réplicas grotescas de plástico da estátua da liberdade instaladas na frente das suas lojas. Porque foi o jeito que o homem encontrou de dizer que a estátua era uma aberração urbana. Foi como ele se expressou.

Santa Catarina deve ser o único lugar do mundo em que o Judiciário (o mesmo cujos membros participam de jantares com o véio) condena alguém por ter mijado na réplica de uma estátua. Porque a liberdade defendida pelo véio só vale para ele, para suas estátuas medonhas e para seus parceiros de extrema direita.

É assim que o dono da Havan tenta calar na Justiça jornalistas que apontam seus delitos ou criticam suas atitudes. Eu sou um deles. Enfrento, por ter dito a verdade, quatro ações do sujeito que é aliado da extrema direita gaúcha e do prefeito Sebastião Melo.

E Melo é da mesma turma dos que falam em liberdade, em nome do direito à livre expressão, mas tentam calar quem aponta seus desmandos. Quando foi empossado para o segundo mandato, Melo disse:

“Eu quero que nesta tribuna e nas 6 mil casas legislativas municipais e no Congresso Nacional que um parlamentar ou qualquer um do povo que diga ‘eu defendo a ditadura’, ele não pode ser processado por isso, porque isso é liberdade de expressão”.

Não é liberdade de expressão. Defender os que defendem ditaduras é endossar atitudes e falas dos que incentivam regimes de exceção que subtraem liberdades, inclusive a de expressão, mandam matar, torturar, calar e perseguir.

Mas não é só isso. Melo defende liberdade de expressão absoluta, inclusive para quem prega ditaduras, mas só da boca pra fora, ou como farsa mesmo, como mostrou a colunista Rosane de Oliveira, de Zero Hora. Rosane escreveu nessa quarta-feira:

“Na prática, o mesmo Melo age diferente quando se sente atingido pela fala de um vereador. O prefeito está processando os vereadores Jonas Reis (PT) e Roberto Robaina (PSOL) por afirmações feitas na tribuna contra seu governo”.

Melo vai retirar as ações, ou prefere dar argumentos para os vereadores que ele acusa? Nessa mesma quarta, um dia depois da exaltação das liberdades, o prefeito tentou se retratar e disse a jornalistas:

“Eu tô cansado, me criei defendendo a democracia, combatendo ditaduras, mas eu continuo vendo nessa cidade a esquerda defendendo o Nicolás Maduro, defendendo a ditadura do Fidel Castro, defendendo o Stalin, defendendo tantas ditaduras. E outros defendendo ditadura militar. E eu acho que tudo isso é liberdade de expressão. Eu não condeno, eu não apoio nenhuma, nem a ditadura militar, nem a do Castro, nem a do Maduro, nenhuma delas eu defendo”.

Entenderam? Não condena nem apoia, ou seja, a emenda ficou pior do que o soneto.

Tem sido assim. Tocam o apito, a cachorrada acorda e eles fingem que tentam remendar.

Vale para Bolsonaro e para toda a extrema direita que defende liberdades e estátuas e persegue adversários políticos. A liberdade que vale é apenas a que beneficia os que, como farsantes, atacam as liberdades dos outros.

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