Não é torcida ou secação, mas reputo tem potencial de crise em Gravataí o secretário municipal da Saúde Régis Fonseca restar como estrela que cobra e articula com governos, na presidência do conselho dos secretários de saúde do Rio Grande do Sul (Cosems).
Explico.
No início de maio, Régis, como presidente do Cosems, cobrou publicamente a suposta falta de cumprimento do investimento constitucional de 12% na área pelo governo Eduardo Leite (PSDB).
Direto de Nova York, onde participava do RS Day, e o próprio governador – parece-me – desmentiu a cobrança.
Deu em GZH:
“O presidente do Cosems/RS, Régis Fonseca Alves, afirma que a entidade reconhece o aumento dos investimentos feitos pelo governo nos últimos anos, mas entende que é preciso ampliar os aportes (o grifo está na reportagem)”.
Seguia a matéria:
– Os municípios não buscam deixar de investir em saúde, mas a aplicabilidade do mínimo constitucional pelo Estado vai fazer com que se amplie o acesso de nossa população aos serviços – diz Régis, que é secretário em Gravataí.
A conclusão da reportagem trouxe aquilo que entendo obvio desmentido feito pelo próprio Leite:
“Pela manhã, em entrevista à Rádio Gaúcha, o governador Eduardo Leite disse que a gestão dele quitou dívidas com hospitais e fornecedores e ressaltou que, do ponto de vista legal, a aplicação dos 12% é cumprida (o grifo também é da reportagem)”.
Na última semana, Régis subiu mais um andar da política e, representando o Cosems, foi a Brasília articular com o governo Luiz Inácio Lula da Silva a habilitação de novos leitos de UTI SRAG Adulto no RS.
SRAG é a síndrome respiratória aguda grave, que levou à decretação pelo governador de emergência em saúde pública no estado, devido à elevação nas hospitalizações.
Régis entregou ao ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e a diretoria do Conasems, o conselho nacional dos secretários, ofício que destaca o aumento expressivo dos casos de SRAG, especialmente por influenza, e solicita apoio imediato e urgente.
A foto de Régis com o ministro de Lula foi postada em colaboração entre sua rede social pessoal e a do Cosems, e ilustra este artigo.
Por que entendo há potencial de crise política? Simples: não vejo como separar o Régis presidente do Cosems, um ‘sindicalista dos secretários’, do Fonseca secretário do governo Luiz Zaffalon (PSDB), em Gravataí, e indicação do vice-prefeito Dr. Levi Melo (Podemos).
Zaffa, além de ser um aliado fiel de Leite, age e ora diariamente para que o governador inclua Gravataí nos repasses estaduais para conclusão da Fase 2 da Nova Emergência SUS do Hospital Dom João Becker, por exemplo. Um ruído na relação, principalmente na área da saúde, não me parece bom.
Fato é que a cobrança de Régis ao governador e a foto abraçado ao ministro de Lula ganharam posts e manchetes em um momento em que Leite trava com o ex-ministro Paulo Pimenta e a bancada do PT na Assembleia Legislativa uma guerra de narrativas sobre o uso dos recursos do fundo de reconstrução do RS – e a polemica mais recente é justamente a cobrança dos petistas para que dinheiro do Funrigs seja usado na abertura de leitos hospitalares.
Goste-se ou não, mesmo em causas nobres, é preciso considerar que a política tem suas réguas próprias de fidelidade, que alongam ou encurtam conforme as polêmicas do momento, ao que recomenda-se estar atento: o momento de cobrar e articular transforma centímetros em quilômetros.
Ao fim, resta torcer que Régis seja visto pelo governador como um Dom Quixote dos secretários, e não desabem Moinhos de Vento sobre Gravataí.