A Polícia Civil do Rio Grande do Sul, por meio do Departamento Estadual de Repressão aos Crimes Cibernéticos (Dercc), deflagrou na sexta-feira (17) a Operação Golpe da Sereia, que desmantelou um sofisticado esquema de extorsão sexual digital praticado contra um agente público gaúcho.
A investigação revelou uma trama criminosa que unia sedução virtual, ameaças e chantagens, resultando em um prejuízo de aproximadamente R$ 30 mil à vítima. Três pessoas foram presas preventivamente — uma mulher em Balneário Pinhal e dois homens em Charqueadas — e houve cumprimento de mandados de busca e apreensão para coleta de celulares, documentos e bloqueio de contas bancárias.
De acordo com o delegado Eibert Moreira Neto, diretor do Dercc, a ação visa ampliar o conjunto de provas e interromper a atividade criminosa.
“Além de identificar outros possíveis envolvidos, pretendemos frear a atividade criminosa interrompendo os contatos com a vítima”, afirmou o delegado.
Os mandados foram cumpridos simultaneamente nas duas cidades do litoral e da região metropolitana. Os suspeitos foram encaminhados ao sistema prisional e seguem à disposição da Justiça.
O golpe: do pedido de ajuda à chantagem
A investigação aponta que a vítima foi contatada por uma mulher que dizia morar na mesma região e precisar de ajuda financeira para pagar a faculdade de Direito.
O agente público, sensibilizado, realizou uma primeira transferência de R$ 2 mil via Pix. Nos dias seguintes, vieram novos pedidos de ajuda — para moradia, móveis e outras despesas — até que o valor total chegou a cerca de R$ 30 mil.
Foi então que a estratégia mudou: a mulher passou a enviar fotos íntimas e, junto com os comparsas, iniciou uma série de ameaças, afirmando que denunciaria o agente à polícia e à imprensa, sob a alegação de que ela seria menor de idade. O objetivo era forçar novos pagamentos.
O cérebro do crime agia de dentro do presídio
Um dos principais elementos da investigação é o fato de que o esquema era operado de dentro da Penitenciária Modulada Estadual de Charqueadas.
Segundo o Dercc, um apenado com histórico por roubo e homicídio coordenava o golpe utilizando celulares ilegais.
A companheira dele, que estava em liberdade, fazia o primeiro contato com as vítimas, enviando fotos pessoais nuas e fingindo um envolvimento emocional.
Quando o agente público deixou de enviar dinheiro, os criminosos iniciaram a fase de extorsão direta, ameaçando expor o suposto relacionamento virtual e envolver a imprensa. Em um dos episódios, um dos envolvidos chegou a se passar por advogado para dar credibilidade à chantagem.
Rastro digital e associação criminosa
A equipe do Dercc conseguiu rastrear os passos digitais dos golpistas por meio de cruzamento de dados de telefonia e movimentações financeiras.
Os investigadores descobriram que os criminosos usavam nomes e documentos de terceiros para abrir contas bancárias e registrar linhas telefônicas — algumas delas com centenas de números associados a um mesmo CPF.
As evidências apontam para associação criminosa composta por dois detentos e a companheira de um deles, que atuavam de forma coordenada para captar vítimas, aplicar os golpes e lavar o dinheiro obtido.
Polícia alerta para o ‘golpe dos nudes’
A Polícia Civil reforça o alerta sobre o chamado ‘golpe dos nudes’, modalidade de extorsão que combina sedução e chantagem emocional. Os criminosos costumam criar perfis falsos nas redes sociais, enviar imagens íntimas e, em seguida, ameaçar divulgar o conteúdo caso a vítima não pague.
A instituição orienta a população a não realizar transferências sem verificar a identidade de quem faz contato e jamais ceder às chantagens.
“Os pagamentos nunca encerram a extorsão — pelo contrário, incentivam os criminosos a continuar”, adverte o Dercc. “A vítima deve reunir provas, registrar ocorrência e procurar a Polícia Civil.”
