Em resposta à crise hospitalar que assola a Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA), descrita por especialistas como uma ‘tempestade perfeita’, a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul instalou, nesta quinta-feira (26), a Frente Parlamentar de Apoio aos Hospitais da Região Metropolitana. À frente da iniciativa está o deputado estadual Dimas Costa (PSD), representante de Gravataí, cidade que também sente fortemente os reflexos da superlotação na saúde pública.
A cerimônia de lançamento reuniu autoridades, gestores hospitalares e representantes de classe, unidos pelo diagnóstico alarmante apresentado por Gilberto Barichello, diretor-presidente do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), maior rede pública hospitalar do Sul do país. Barichello detalhou os três ventos destrutivos que formam a “tempestade perfeita”: as sequelas persistentes da pandemia de Covid-19, os impactos sanitários das recentes enchentes que atingiram o estado e, de forma contundente, o avanço do negacionismo vacinal.
“Uma imbecilidade que não só superlota emergências, mas tira vidas”, afirmou Barichello, apresentando dados preocupantes: apenas 37% das crianças gaúchas estão com o esquema vacinal completo, e entre os adultos, o índice é de 52%. “Uma década atrás ultrapassávamos os 80%”, lamentou, destacando a gravidade dos quadros que chegam aos hospitais: “Hoje não se busca só leito, mas UTI”. O deputado Dimas Costa ecoou a crítica, classificando o movimento antivacina como “crime de saúde pública”. “Quase 100% das mortes são de crianças, idosos, não vacinados. Esses caras teriam que ser responsabilizados, responder criminalmente”, disse, em discurso explosivo, que você assiste no vídeo acima e no fim da reportagem.
Gravataí no epicentro
O engajamento de Dimas Costa não é simbólico. Gravataí, sua base eleitoral, enfrenta desafios concretos. Olimpo Dalmafro, superintendente do Hospital Dom João Becker, único hospital geral do município (administrado pela Santa Casa de Misericórdia), participou do evento e deu ao Seguinte: detalhes sobre a expansão da unidade.
A Fase 1 da nova Emergência SUS, inaugurada em dezembro de 2023 com investimento de R$ 10 milhões (R$ 6 mi do estado e R$ 4 mi do município) e 20 leitos, já realizou 36 mil atendimentos. A expectativa do gestor é concluir “em um ano” a Fase 2, um projeto de R$ 9,5 milhões que acrescentará mais 20 leitos, 920 m² de área, acesso exclusivo para ambulâncias, salas vermelha (emergência máxima) e laranja (alta complexidade), leitos de isolamento, posto de enfermagem, triagem, ECG e uma área dedicada à emergência pediátrica – demanda crítica diante da baixa cobertura vacinal infantil.
Dimas: união, financiamento e defesa da ciência
Em seu discurso, o deputado Dimas Costa, presidente da Frente, enfatizou a urgência da iniciativa e a necessidade de união: “Não temos nenhuma dúvida da importância e da urgência desta Frente. Ela não é minha — é de todos nós, dos municípios, dos hospitais, das equipes de saúde e principalmente da população. Não existe povo municipal, estadual ou federal — existe o povo gaúcho, que precisa de atendimento digno”.
Dimas, que é o ‘embaixador’ de Eduardo Leite em Gravataí, reconheceu os esforços do governador no cumprimento progressivo da aplicação de 12% da receita líquida do estado na saúde e citou investimentos recentes, como o pacote de R$ 112,6 milhões para o setor, com R$ 40 milhões destinados especificamente à abertura de 400 novos leitos clínicos e de UTI na RMPA.
No entanto, foi incisivo ao apontar um dos núcleos da crise: “Não podemos deixar que ideologias coloquem vidas em risco. Quem defende a saúde pública tem o dever de defender a vida”. Dirigindo-se aos colegas e parceiros, traçou o caminho da Frente: “Estamos aqui para somar, não para fazer discurso vazio. Vamos trabalhar por mais financiamento, mais diálogo entre os entes (municípios, estado e União) e por uma gestão mais eficiente. Fortalecer os hospitais é salvar vidas”.
Uma Frente com o peso institucional da necessidade
O ato de instalação contou com peso institucional, reunindo o secretário municipal de Saúde de Porto Alegre, Fernando Ritter; o presidente da Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS), Gerson Junqueira Jr.; o vice-presidente do Sindicato Médico do RS (SIMERS), Felipe Vasconcelos; além de vereadores e secretários de saúde de diversos municípios da região metropolitana.
As presenças reforçaram o consenso sobre a gravidade da situação e a esperança depositada na Frente liderada pelo deputado de Gravataí, que nasce em um momento crítico. Seu sucesso dependerá da capacidade de transformar o diálogo e a pressão política em ações concretas que aliviem a pressão sobre as emergências superlotadas, garantam leitos (especialmente de UTI), atraiam e retenham profissionais e, fundamentalmente, combatam as causas evitáveis da crise, como a queda na cobertura vacinal.
Os olhos da população da Grande Porto Alegre, incluindo os gravataienses que dependem do Dom João Becker, estão voltados para esta iniciativa que promete enfrentar a tempestade que ameaça a saúde pública gaúcha.
Assista vídeo produzido pela SEGUINTE TV na instalação da Frente
