O prefeito reeleito Luiz Zaffalon (PSDB) apresentou o novo secretariado. Montou um governo seu, não apenas distribuiu cargos conforme número de votos ou indicação dos partidos. Reputo uma nominata equilibrada entre a técnica e a necessária política, como já analisei quando antecipei a lista (que praticamente se confirmou) em O secretariado do governo Zaffa 2: um mistério sem surpresas; A provável lista.
Trato, no artigo de hoje, de outro ponto: o discurso-recado do prefeito aos novos secretários (assista na íntegra no vídeo acima e abaixo).
Assustadoramente realista.
Um choque de realidade frente ao natural oba-oba de uma reeleição com 64.125, 51.17% dos votos válidos, o que representaria uma vitória em primeiro turno, caso Gravataí tivesse segundo turno, e, com a maior coligação da história das eleições da aldeia, com poucos políticos restando fora da base do governo.
O ‘gerentão’ – expressão criada pelo Seguinte: quando Zaffa ainda era secretário do ex-prefeito Marco Alba (MDB), e depois utilizada por ele próprio na campanha eleitoral – estava ali, de microfone na mão, em frente a um auditório cheio no novo Centro Administrativo.
E, apesar de mais político, ainda um sincericída, para usar outra expressão com a qual sempre caracterizo o sociólogo de 72 anos, que se recusa a sentar na popularidade conferida pelo bom primeiro governo.
– O café não vai esfriar. Quero em 1º de janeiro de 2029 entregar uma Gravataí ainda melhor a um sucessor que representará o nosso projeto. E está aqui nesta sala – disse Zaffa, comungando com análise que já fiz em #DasUrnas | Zaffa foi reeleito porque faz um bom governo em Gravataí, e mais:
– É o bom governo que elege.
Na platéia estavam o vice também reeleito, Dr. Levi Melo (Podemos) e o secretário da Fazenda por nove anos, seu ‘número 1’ no governo e coordenador da campanha, Davi Severgnini (PSDB), nomes mais falados para a sucessão, além de políticos como o deputado estadual e ‘embaixador’ do governador Eduardo Leite (PSDB) em Gravataí, Dimas Costa (PSD), o presidente da Câmara Clebes Mendes (PSDB) e o vereador mais votado por dois mandatos consecutivos, Bombeiro Batista (Republicanos).
E, difícil, mas sabe-se-lá, algum outsider, ainda fora dos radares da política, como ele, Zaffa, quando venceu a primeira eleição que disputou, tendo Marco Alba – e também um bom governo – como ‘Grande Eleitor’.
Mas vamos ao discurso real.
Zaffa lembrou a “eleição difícil” contra “dois adversários excelentes”, Alba e o também ex-prefeito e ex-deputado Daniel Bordignon (PT), e apresentou pesquisa encomendada em dezembro pelo governo que mostra que “mais de 80% aprovam a gestão” e 82% estão “muito satisfeitos” em morar em Gravataí.
A celebração parou por aí.
– Não vim convidá-los para a festa, e sim para sofrer com as demandas que vem da sociedade – instigou os secretários, alertando que as pesquisas também mostram uma expectativa ainda maior com o novo governo.
– Pouco podemos fazer frente ao tanto que a sociedade precisa. Então, que seja bem feito – disse, listando uma série de desafios de uma realidade que se impõe para além das narrativas políticas.
Zaffa lembrou que, “mesmo com o maior investimento já feito na história da cidade” (os cerca de R$ 250 milhões em financiamentos e receitas próprias), nos primeiros quatro anos foram pavimentados 70 quilômetros. Faltam 350km, só na zona urbana.
– Seria preciso cinco governos, 20 anos para atender.
Dez unidades de saúde modelo foram construídas, substituindo estruturas precárias, num investimento de R$ 50 milhões, lembrou.
– Faltam 30.
Na Educação, Zaffa observou que “é de chorar” a condição de pelo menos “90 das 99 escolas”.
– Algumas até caem. Em quase todas, chove dentro. Se ligar o ar-condicionado, cai a luz – lamentou, também advertindo para o desafio pedagógico, que é reverter índices desastrosos no Ideb, o índice nacional que mede a educação básica:
– 70% dos alunos chegam analfabetos ao 3º ano.
Citou também a necessidade de obras contra enchentes em bairros como Vila Rica, Vale Ville, Caça e Pesca, Jardim Itatiaia e o distrito de Morungava, além de outras para evitar a falta de água crônica.
– Nosso Plano Municipal de Drenagem está apontando a necessidade de R$ 400 milhões em investimentos. Quase o dobro do que investimos na cidade toda em quatro anos. Só o dique e casa de bombas no Caça e Pesca custa R$ 140 milhões. Tem mais as 13 microbarragens no Rio Gravataí para garantir água… – disse.
Os R$ 6,5 bilhões estão na conta do governo estadual, no fundo de reconstrução autorizado pelo governo federal a partir da suspensão do pagamento da dívida pública gaúcha, mas as obras ainda estão na fase de projetos. São R$ 2,9 bi para a Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí; leia em No RS, Lula confirma 2,9 bi para cheias e falta de água na Bacia do Rio Gravataí; Conheça os projetos.
– Tem o problema da água e do esgoto também. Ainda vivemos na Idade Média – comparou, devido à cobertura de apenas 20% do esgoto e o plano da Corsan de universalizar a água somente em 2033.
Citou ainda a necessidade de regularização fundiária “em meia Gravataí”.
– 150 mil pessoas só tem contratos de gaveta. Há bairros inteiros. É uma realidade brasileira.
Zaffa lembrou ainda a necessidade de um novo Plano Diretor, que equilibre desenvolvimento e sustentabilidade ambiental, em um momento em que investidores olham para Gravataí no pós-enchente.
Também antecipou uma polêmica de 2026: a licitação do transporte coletivo municipal.
– O modelo atual faliu. Precisamos bolar algo melhor – disse, sobre o sistema que desde antes da enchente é socorrido por subsídios públicos e, agora, reajuste nas tarifas.
Zaffa não esqueceu das promessas de campanha, projetando investir pelo menos R$ 300 milhões nos próximos quatro anos. Na lista, um serviço de saúde 24 Horas na Caveira e uma Perimetral.
– E um novo hospital? Temos que buscar recursos – seguiu, também reforçando a necessidade de parcerias com o governo estadual para, além da conclusão da elevada da ERS-118 com a av. Centenário, soluções para o viaduto da Itacolomi e o acesso da Av. Brasil à rodovia.

O diagnóstico foi a deixa para entrar naquela que parece ser a marca que Zaffa quer implementar no novo governo: uma boa zeladoria, o “prefeiturar”, que já antecipou logo no início da entrevista exclusiva ao Seguinte:, em novembro, SEGUINTE TV | O que esperar do governo Zaffa 2? O prefeito reeleito responde; Assista à entrevista de 1h.
– Se o Orçamento de R$ 1,3 bilhões não é suficiente para cobrir 30% das demandas, quero ao menos um bom atendimento às pessoas – disse, exigindo “interação com a comunidade” e “medições auditáveis” relativas ao que a comunidade pede e a resposta da Prefeitura.
LEIA TAMBÉM
Ao fim, resto positivamente impactado pelo discurso. De um realismo arrasador.
Mostra-se Zaffa um prefeito consciente das carências de sua cidade, para além dos deslumbramentos do poder e da popularidade.
Não parece um político disposto a maquiar uma realidade que insiste em se impor não só a Gravataí, como a outras cidades metropolitanas em condições muito, mas muito piores.
– O culpado de tudo é o prefeito. E é assim mesmo – disse, convocando os novos secretários a dividir as responsabilidades, “pelos acertos e também por eventuais bobagens” que cometa o governo.
Avisou também que “ninguém tem imunidade”.
– Não trabalhou, não se dedicou, sai. A sociedade vê tudo. E isso é bom.
Zaffa, em um dos exemplos, citou o caso de família que criava na propriedade um jacaré, que cresceu e começou a atacar outros animais. O apelo foi feito neste mês à Prefeitura, que por meio do Grupamento Ambiental da Guarda Municipal foi resgatar o réptil e realocá-lo no Banhado Grande.
– Tem que atender – resumiu, acrescentando que, eleito “prefeito de todos os gravataienses”, não quer mais saber quem é simpático ao seu governo, ou faz oposição.
Curti. Andar sobre a realidade, ter diagnósticos corretos, é um bom passo para as soluções. Salvo melhor juízo, o ‘gerentão’ Zaffa encerrou com o oba-oba do pós-eleição, zerou a briga por cargos e convocou o governo para trabalhar.
Assista na íntegra ao discurso de Zaffa, no vídeo da SEGUINTE TV na posse do novo secretariado
O NOVO SECRETARIADO
SMGCC – Secretaria Municipal de Governança Comunitária e Comunicação
– Secretário: Evandro Soares
SMDH – Secretaria Municipal da Mulher e Direitos Humanos
– Secretária: Analu Sônego
SMFPO – Secretaria Municipal de Fazenda e Planejamento Orçamentário
– Secretário: Davi Keller Severgnini
SMICT – Secretaria Municipal de Inovação, Ciência e Tecnologia
– Secretária: Selma Fraga
SMDUR – Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano
– Secretário: Bruno Palaver
SMAA – Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento
– Secretário: Eduardo Ferro Muller
SMAT – Secretaria Municipal de Administração e Transparência
– Secretário: Gustavo Cavalheiro
SMURB – Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana
– Secretário: Pedro Juarez de Souza
SMDET – Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo
– Secretário: João Maria Lima de Campos
SEINFRA – Secretaria Municipal de Infraestrutura
– Secretário: Laone Pinedo
SMASP – Secretaria de Assuntos para Segurança Pública
– Secretário: Emílio Barbosa Teixeira
SMEL – Secretaria Municipal de Esporte e Lazer
– Secretário: Valtair Luciano Cardoso de Oliveira
SMFCAS – Secretaria Municipal de Família, Cidadania e Assistência Social
– Secretário: Leandro Ferreira
SMS – Secretaria Municipal de Saúde
– Secretário: Régis Fonseca
SMED – Secretaria Municipal de Educação
– Secretária: Aurelise Braun Neves Moreira
SEMA – Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Bem-Estar Animal
– Secretário: Denner Gelinger
SMPPC – Secretaria Municipal de Projetos, Parcerias e Captação de Recursos
– Secretário: Guilherme Ósio
ISSEG – Instituto de Saúde dos Servidores de Gravataí
– Diretor-Presidente: Fábio Pereira
IPG – Instituto de Previdência
– Diretor-Presidente: Rafael Evaldt
PGM – Procuradoria Geral do Município
– Procurador-Geral: Matheus Sá
SMC – Secretaria Municipal de Cultura
– Secretário: Márcio Patrick S. da Silva
Defesa Civil
– Coordenador: Cláudio Roberto de Pinto Lamb