Em noite inesquecível, a Blueswoman norte americana, JJ “o Furacão” Thames, se apresentou no Sesc de Gravataí. Siga uma resenha e imagens do show, além de uma entrevista exclusiva com a artista, produzidos pelo músico e jornalista Jonas Tiago Silveira para o Seguinte:
O palco do Teatro do Sesc de Gravataí tem um rica história, com apresentações dos nossos talentos locais do teatro e cinema, grupos tradicionalistas e músicos. Também recebeu artistas de vários cantos do mundo. Na noite deste 10 de março mais uma página desta história de cultura e entretenimento foi escrita. O palco que já abrigou até a Sbórnia, recebeu um furacão que cruzou o globo, passando por cidades como Detroit, Jackson, Nova York e Atlanta. O nome deste furacão é JJ Thames, uma voz feminina sem igual que mantém viva a chama do Blues, do Soul e da Gospel Music.
A noite começou com as calorosas boas vindas da equipe do Sesc e um show ainda sem a estrela principal, mas sim com o quarteto que acompanha a artista performando seu projeto, também de Blues. Alexandre França Guitar e seu quarteto mostraram que o Blues não tem fronteiras. Encantam com músicas próprias e uma presença de palco inesquecível. Alexandre é um showman completo, a sua guitarra leva o legado de muitos mestres do estilo e chega a ser hipnótica durante seus solos.
Mas se o assunto é hipnotizar, quando a voz de JJ Thames chega ao palco, já nos leva a um estado de transe, os ombros acompanham o ritmo de cada canção, sem querer saber nossa opinião.
Uma voz forte, ousada e poderosa tomou conta do auditório do Teatro. JJ traz na bagagem de seu canto todos os mestres com quem já teve o prazer de dividir o palco – lista que conta com nomes como B.B. King, James Brown e Bobby Bland.
O Furacão interpreta cada canção de forma única, suas expressões acompanham cada variação de tom e a diva chega até a usar a voz para duelar com a guitarra de Alexandre. Se tinha alguém que ainda não conhecia o nome JJ Thames no público, com certeza não há de esquece-lo.
O repertório recheado de músicas próprias, também traz obras de grandes mestres da música como B.B. King, Ben E. King e Willie Dixon. Antes do final do show JJ desceu do palco e circulou pela plateia do Sesc, interagindo com o público enquanto seguia cantando – um momento mais que marcante para os presentes.
O desfecho da noite foi mais que memorável: uma voz poderosa homenageando outra. Se ver a Beyoncé interpretando Etta James em Cadillac records (filme americano, biografia que passa pela história da Chess Records e artistas como Etta James, Muddy Waters, Chuck Berry, Little Walter e Howlin’ Wolf) já é uma experiência emocionante, ver JJ interpretar “i’d Rather Go Blind” nos leva a outro patamar, como se a própria Etta estivesse lá ao lado da cantora. Mas além de uma voz incrível, JJ é dona de um carinho e de uma humildade fora de série; fez questão de ir até o foyer do Sesc e tirar fotos com todos os presentes.
JJ é realmente um furacão que segue em movimento, é uma força da natureza, é história, é física, é química. Ela conduz cada momento do show com uma paixão que Shakespeare seria incapaz de traduzir em palavras. Sua voz contém uma fúria que intimidaria o mais feroz dos bárbaros. Um furacão do Blues, que ninguém quer que deixe de passar em sua cidade.
JJ Thames: “Pode ser pelas raízes africanas, eu não sei, mas eu amo absolutamente vir e me apresentar no Brasil”
JJ “The Hurricane” Thames concedeu entrevista exclusiva para o músico e jornalista Jonas Tiago Silveira, especial para a SEGUINTE TV, no hotel onde estava hospedada nesta sexta-feira, em Porto Alegre.
Seguinte: – Detroit, Jackson, New York… em qual cidade a música realmente se encontrou com o furacão?
JJ Thames – Eu acho que cada uma destas cidades é um pedaço da minha história. Então eu não sei se alguma destas cidades necessariamente moldou o furacão, mas eu meio que encontrei uma parte da minha história em cada cidade, então acho que eu levei o furacão até elas. Algumas músicas, como “Oh Lord” são orações.
Seguinte: – Assim como uma oração, a música também é um remédio ou um alimento para a alma?
JJ – O Blues é uma história, então você está contando histórias. Eu sou uma pessoa de fé, eu sou uma cristã e sendo este o caso, todas as minhas músicas tem um sub tom, eu tendo conversas com Deus, porque isso é parte da minha vida diária. Então, poder compartilhar esta música com outras pessoas, é como deixar eles entrarem no meu mundo, na minha história e nas minhas orações. Então, sim.
Seguinte: – Você esteve no palco com outros grandes artistas. Quais foram mais marcantes para você? Bobby Bland?
JJ – Você armou para mim nesta. Bobby Bland… Foi ele o melhor? Eu diria honestamente que foram todos os artistas que eu tive a oportunidade de acompanhar no palco. Foi absolutamente incrível. Eu adorei estar no palco com o B.B. King, foi uma honra. Aconteceu alguns anos antes de ele falecer. Foi no festival “Homecoming” em Indianola, foi fantástico. Eu também estive no palco com Fishbone. Então, foram grandes experiências musicalmente, todos juntos, cada um dos artistas, foi uma alegria e eu senti que consegui aprender com cada um deles.
Seguinte: – E qual artista, mesmo que não esteja mais entre nós, seria seu sonho de dividir o palco?
JJ – Ah, Michael Jackson. Certamente sim. Eu não acho que conseguiria acompanha-lo, mas eu… Tenho uma fantasia desde os meus quatro anos de idade e muitos dos meus ritmos, muito do jeito que eu interpreto as canções vem do jeito dele com a música. E claro, suas raízes tem James Brown, que eu também gosto e tive a oportunidade de abrir um show para ele uma vez, como cantora de apoio de Peggy Scott-Adams. Mas é isso, seria o Michael Jackson. Com certeza!
Seguinte: – Você esteve no Brasil mais de uma vez, passou por várias cidades. Como você se sente nestas visitas e como você vê a interação do público brasileiro com o Blues, a Soul e Gospel Music?
JJ – Eu falei com uma pessoa mais cedo, ela estava na Argentina e não no Brasil, mas ela estava dizendo que o Tango era o Blues da Argentina. Eu acho que o Samba seria, a Bossa Nova… Muitos destes estilos seriam considerados o Blues Brasileiro, eu acho. E acredito que todos os lugares tenham as suas próprias versões do Blues, acredito muito, essa é minha opinião. Eu amo o Brasil porque sinto que os brasileiros têm no seu Blues uma relação muito próxima com o Blues norte-americano. Pode ser pelas raízes africanas, eu não sei, mas eu amo absolutamente vir e me apresentar aqui. Eu sinto que as pessoas gostam e se identificam com a música. Então sinto como se fosse minha segunda casa, eu gosto.
Seguinte: – E tem planos para um álbum novo?
JJ – Sim, eu estava falando para o Alex que meu último álbum foi em 2016 e eu não achava que faria outro, na verdade eu estava aposentada por alguns anos, mas agora sinto que o furacão está girando novamente então farei um novo álbum. Eu vou ir para casa e trabalhar com um técnico vocal para fortalecer minha voz um pouco mais e entrarei no estúdio. Terei novas histórias para contar.