Não fossem as medidas de distanciamento social, maio terminaria com 1376 pessoas mortas pela COVID-19 em Gravataí. É a conta mórbida da aplicação da estratégia da imunidade de grupo, ou ‘imunização do rebanho’. Hoje Gravataí tem um óbito e 25 casos, entre os apenas 237 testes feitos, como tratei em Gravataí é 13º do mundo em letalidade da COVID 19; o engano dos números. Explico para ‘reginas duarte’.
Diferentemente das políticas de confinamento, como as decretadas pelo governador Eduardo Leite, e pelo prefeito Marco Alba, a imunidade coletiva aconteceria a partir do livre contágio da população. O modelo – que faz uma média entre surtos de sarampo e poliomielite – mostra que o pico de contágio seria alcançado em três meses, com a infecção de 70% das pessoas entre março e junho.
A estratégia, usada no início da pandemia em Londres, chocou a comunidade científica. O premiê britânico Boris Johnson – depois infectado pelo SARS-CoV-2 e internado em UTI – sugeriu apenas algumas ações específicas para incentivar um senso de responsabilidade entre os cidadãos do Reino Unido, particularmente os mais vulneráveis: aqueles com mais de 70 anos ou com problemas de saúde crônicos.
O ‘osmarterraplanismo’ que no Brasil ganhou a alcunha de ‘isolamento vertical’ foi abandonado pelos ingleses após modelo matemático e epidemiológico do Imperial College de Londres calcular que, com a ‘imunização do rebanho’, a Inglaterra teria 500 mil mortes; com o distanciamento social, 260 mil entre março e o fim de maio. No Brasil, o tratamento de ‘gripezinha’ levaria a 1 milhão de mortos.
É simples trazer a conta para enterros sem velório e caixões fechados nos cemitérios onde gravataienses enterram seus entes. Se 7 a cada 10 dos 281 mil habitantes fossem infectados, conforme a ‘imunização do rebalho’, teríamos 196,7 mil com o novo coronavírus. Como a taxa de letalidade da COVID-19 é de 0,7%, 1376 poderiam perder a vida.
Alarmismo, ‘caixões nas costas’? Não. Uma conta ‘otimista’. Porque o colapso no sistema de saúde poderia aumentar o número de mortes. Dados do Ministério da Saúde mostram que cerca de 15% dos infectados precisam de tratamento. Seriam 29.505 pessoas. Destes, 11,7% evoluem para estados graves. Ou 3.452 pessoas precisando de leitos e respiradores.
A comparação é absurda, porém real: seria preciso usar com pacientes de Gravataí quase todos os leitos de Porto Alegre e todos os respiradores do Rio Grande do Sul. E, como o período de internação para tratar a COVID-19 é de, em média 14, dias, por falta de leito (público ou privado) ninguém poderia ser internado em UTI por infarto, AVC, acidente automobilístico…
Como mostrei em Mapa dos leitos mostra maior ocupação e gravidade da COVID 19 na região Gravataí-Cachoeirinha, na regionalização feita pelo Governo do RS para definir o ‘distanciamento controlado’, que é a volta das atividades comerciais, industriais e de serviços, a ‘R-8’, onde está Gravataí, Cachoeirinha, Glorinha, Viamão, Alvorada e Canoas tem 10 hospitais e 391 leitos, sendo 276 clínicos e 115 de UTI, com 187 respiradores.
Na Capital há 31 hospitais, com 2279 leitos, sendo 1578 clínicos e 701 de UTI, com 1130 respiradores. Em todo RS há 295 hospitais, 8.814 leitos, sendo 1716 de UTI, com 3257 respiradores.
Ao fim, a gravidade da pandemia é tão grande que, mesmo com algum distanciamento social, no Brasil já estamos “tropeçando em corpos”, como diz o biólogo Átila Iamarino, ao alertar que, se a curva do contágio tinha sido achatada, por estados e municípios usarem de medidas restritivas duas semanas antes que norte-americanos ou europeus, o gradual abandono da ‘quarentena’ tem feito dobrar o número de casos a cada cinco dias.
É a ‘ideologia dos números’. Resta-nos aprender a conviver com esse ‘novo normal’ até a descoberta de uma vacina. O vírus não tem lado na ‘ferradura ideológica’. Não desaparece por desejo ou reza de presidente, governador, prefeito, eu ou você. A COVID-19 não é ‘namoradinha do Brasil’, é a realidade do mundo.
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