Poucas horas após a justiça eleitoral tirar Daniel da propaganda de Rosane, em festa para milhares o casal Bordignon em nenhum momento se divorciou da estratégia de dizer que votar em um é votar no outro, e que governarão juntos, em caso de vitória no ‘veraneio das urnas’ de 12 de março.
– Eu já falei para o Daniel que meu governo vai ser melhor que o dele. Porque eu vou ter o Daniel Bordignon me ajudando. Lá na Câmara quando dizem que ele vai estar lá dentro da Prefeitura, eu peço: “espalhem”. Porque o povo ama o Bordignon e o povo vai ter o Bordignon governando junto – discursou a vereadora candidata a prefeita, que na comemoração de seu aniversário reuniu a alta cúpula e o PIB do voto do PDT, como o presidenciável Ciro Gomes e o candidato a governador Jairo Jorge, o presidente e a vice nacionais Carlos Lupi e Miguelina Vecchio, o presidente estadual Pompeo de Mattos e deputados federais como Afonso Motta e estaduais, como o ex-presidente da Assembleia Gilmar Sossella, além de uma delegação de vereadores de Porto Alegre, Cachoeirinha, Viamão, Alvorada e Glorinha.
– Como os dois cônsules de Roma, vamos inaugurar um governo de casal – brincou o sor de História Bordignon, lavado de suor por, como se fosse ele o candidato, e como faz em campanhas desde os anos 2000 (ali naquele mesmo CTG Aldeia dos Anjos de três salões lotados onde uma das únicas diferenças parecia estar nas cores dos balões do vermelho e amarelo do PT, para o vermelho, azul e branco do PDT) recepcionar com apertos de mãos, abraços e beijos a cada família que chegava e lhe renovava a popularidade.
E, sem exageros, o mitificava aplaudindo a cada palavra sua em seu longo e emocionado discurso, o último da noite, elevado a estrela principal por uma sucessão de desagravos pela retirada de seus direitos políticos que impediram a posse como prefeito após a vitória nas urnas na ‘eleição que não terminou’ em 2 de outubro.
– Bordignon, és perseguido como foram Getúlio, Jango e Brizola – descreveu Juliana Brizola, a deputada estadual neta de Leonel, ao lado de Christofer, neto de João Goulart, seguida por um pilchado Pompeo, que trovou pouco e falou sério:
– Querem te tirar da campanha em Gravataí, não é? Pois tenho certeza de que gostariam de te exilar, como a nossos maiores líderes trabalhistas. Mas o povo vai mostrar que vivemos numa democracia. E que em Gravataí começa a volta do povo ao poder, no Rio Grande do Sul e no Brasil, em 2018.
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– Bordignon e Rosane, como o brasileiro, não desistem nunca, enfrentando em Gravataí as forças mais poderosas que tomaram Brasília de assalto – discursou Ciro Gomes, ligando o candidato a reeleição Marco Alba (PMDB) ao ‘padrinho político’ e um dos mais ‘elogiados’ (e alvo de trocadilhos) da noite, Eliseu Padilha, o número 1 do presidente da República Michel Temer.
– Não cassaram Bordignon por desvio de dinheiro, mas por contratar médicos, professores e operários. Deram de mão grande no voto de 45 mil pessoas, como fizeram lá em cima, no governo federal. A turma da Lava Jato não gosta de urna. Mas o povo vai fazer justiça, vai ganhar de novo, elegendo um e levando dois – disse o ex-governador cearense e ex-ministro da Fazenda, para êxtase dos apoiadores que gritavam “Brasil urgente: Ciro Presidente”.
Numa noite em que até Jairo Jorge criticou o governador José Ivo Sartori (PMDB), em meio aos apelos de sucessivas forças políticas por uma saída do partido do governo do Estado, Anabel Lorenzi (PSB), adversária na aldeia, também foi alvo.
E a artilharia, numa clara estratégia de ligá-la a Marco Alba e à crise do governo Miki Breier com o funcionalismo em Cachoeirinha, veio de um vereador dissidente do PSD, partido que indica o vice da socialista. Dimas Costa, irmão de Dilamar Soares e o mais votado da oposição, apresentado por Bordignon como uma das forças da campanha por ter “arriscado o mandato para estar ao lado do povo”:
– Aqui fazem promessas aos servidores públicos e lá jogam gás de pimenta na cara. Sem diálogo, às vésperas do Carnaval, em meio às férias por medo da mobilização das categorias, fazem lá o que o prefeito fez aqui. Tratam os professores como vilões. O povo não pode deixar ganhar nem um, nem a outra, porque vão governar juntos, como fazem no governo Temer, no governo Sartori, e no governo Miki – comparou, escudado pelo seu parceiro político Cristiano Kingeski, ex-vice-prefeito, “o filho que voltou para casa” conforme Bordignon, e que após um ano de rompimento foi uma das surpresas da noite ao apresentar a festa ao lado do presidente do partido, Cláudio Ávila, seu algoz no impeachment de Rita Sanco (PT).
Outra Rosane
No ato político, de churrasco e doces, que começou às 20h e encerrou próximo à meia-noite, também teve compromisso de governo:
– Vou fazer a escola de tempo integral, como o nosso prefeito José Fortunatti (PDT) fez na Décio Martins, a escola em que eu trabalhava até me licenciar em 2017, sem remuneração, para exercer o mandato de vereadora para qual fui eleita. Escola de tempo integral inspirada em Anísio Teixeira, um dos tantos mortos pela ditadura – disse Rosane, talvez pelo tempo de vida sindical e dirigente partidária, com um discurso que parece sempre mais à esquerda que o de Bordignon, ainda um ‘comunista’, mas possivelmente mais ‘domesticado’ pela idade e a arte necessária para governar.
– Roubaram a presidência da República no tapetão, como fizeram aqui e querem fazer de novo. Se Brizola estivesse vivo, chamaria essa gente de filhotes da ditadura – disse a candidata, levando os apoiadores ao, sem citar nomes, se referir aos impeachments de Dilma Rousseff, Rita Sanco e à impugnação de Bordignon.
Firme e divertida, como na convenção que a lançou candidata ao lado do vice Alex Peixe, ali estava uma Rosane que em nada parecia a candidata confusa e nervosa diante das câmeras, que rendeu tantos memes e montagens no facebook após o debate na TVE.
Mas, o resumo da noite, foi o ‘Grande Eleitor’ quem fez, em curtas palavras, não diferentes das que usa desde que concorreu pela primeira vez, em 82, um ameaçador petista de barba escura e cabelos desgrenhados, foi eleito prefeito, em 96, vestiu o terno e dobrou os votos na reeleição em 2000, puxou as eleições de Sérgio Stasinski de seu ‘sombra’ a deputado estadual e prefeito; e de Rita Sanco de quarta suplente de vereadora a prefeita mais votada da história de Gravataí.
– São os pobres contra os ricos, é nós contra eles!
: Na porta da festa, Bordignon recebia cada família que chegava ao CTG
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1.
Rosane Bordignon escapou de desarrumar o elegante look e penteado no calorão dentro do CTG, ao chegar apenas às 21h23, quando o palco já estava lotado e os discursos quentes.
2.
A candidata foi recebida pelo jingle de campanha, cuja abertura tem a doce voz infantil de Betânia de Oliveira Balen, de seis anos.
Com pose de estrela, a pequena pegou o microfone e cantou ao vivo, até subir ao colo de Rosane.
Para ver o vídeo postado pela mãe, Natália Fonseca, clique aqui.
3.
Em seu discurso, Rosane se disse inspirada pelo ‘estilo Daniel Bordignon’.
– Até os cachorros gostam dele. Ele chega na casa pelos fundos e quando a tia está ali, cozinhando, é surpreendida: chegou o prefeito, e ela nem arrumou o cabelo! Vou governar assim, ouvindo as pessoas, indo até elas, e não trancada dentro de um gabinete, sozinha, como muitos gostam.
– Serei uma prefeita presente – disse, creditando ao ex-prefeito Marco Alba o estigma da ausência.
4.
Rosane, sem citar o nome da outra adversária, procurou dar um caráter de ‘aventura’ a um governo de Anabel, e colocar-se como a candidatura do funcionalismo.
– Nosso partido tem história em defesa do servidor público. E eu e o Bordignon temos para mostrar oito anos de realizações dos governos mais populares de Gravataí.
5.
O apresentador, Cristiano Kingeski, chamava Anabel de “candidata de Cachoeirinha”, ligando a socialista ao ex-marido Miki Breier, prefeito para lá da 59.
6.
Anabel também não escapou da memória do ex-companheiro Bordignon, que voltou no tempo, ao final dos anos 90.
– Éramos do PT e ela assinou manifesto contra minha posição de, como prefeito, trazer a GM. Por ela, a GM não estaria em Gravataí. Está aqui por nós, porque o governador (Antônio Britto) queria em Guaíba ou Eldorado do Sul.
7.
Em mais um dia sem água, ou com líquido escuro nas torneiras, Bordignon usou a Corsan para também atacar Marco Alba e apontar uma conspiração para entregar os serviços de água e esgoto em Gravataí para empreiteiras.
– Quando foi secretário de Saneamento no governo Yeda e mandava na Corsan, o amigo do Padilha começou o desmonte. E, desde sua gestão até agora, Gravataí é a única cidade que não assina o contrato com a companhia e por isso não tem obras. É uma estratégia para privatizar a água aqui – disse, ainda comparando seu patrimônio com o do candidato à reeleição.
– E acham que eu estou errado por ser pobre.
8.
Apresentado por Bordignon como integrante da “chapa perfeita”, por ser ele um vereador de origem no movimento comunitário capitaneado por Carlinhos, seu pai e vereador por duas décadas, e Rosane uma cria do movimento sindical, Alex Peixe fez um discurso forte contra o judiciário, pela “perseguição” a Bordignon.
9.
Talvez Bordignon nunca tenha sido tão direto ao evocar Lenin e a "organização dos trabalhadores" e dar de foice e martelo na ‘luta de classes’.
– Rosane e eu sabemos de onde viemos, de natais de arroz com ovo, mesmo sendo professores. Nós representamos nossa classe social. Somos os pobres contra os ricos, os bairros e vilas contra a elite do Centro! – gritou.
10.
– Por que Bordignon aparece tanto, ou mais que a candidata nesta reportagem?
Neste momento muitos leitores devem estar fazendo mentalmente essa pergunta.
Porque o Seguinte: estava lá, nas quatro horas de festa e, talvez o único meio de comunicação presente, testemunhou que foi exatamente assim que aconteceu.
Rosane e Bordignon misturam-se como candidatos.
Tanto que o último discurso da noite – onde citou Jesus Cristo como um perseguido político – foi do ‘Grande Eleitor’.
Olha o vídeo que o Seguinte: fez de Bordignon como anfitrião da festa.
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