Seria um desastre desassorear o Rio Gravataí como forma de enfrentar enchentes em Gravataí e Cachoeirinha. A cobrança apareceu nas redes sociais após os municípios ficarem de fora do programa Desassorear, do governo Eduardo Leite. Já o fiz antes, quando na catástrofe de maio a ideia surgiu como solução mágica, mas explico novamente. Com ciência, não política.
O desassoreamento, ou dragagem, que é a remoção de areia, lodo e outros sedimentos do fundo de rios e lagos, só provocaria um desastre maior. Em linguagem leiga, na chuva do inverno só empurra a enchente para o pátio do vizinho e na seca do verão colabora com a falta de água.
– Não é uma prioridade para o Rio Gravataí. Nenhum estudo técnico aponta como solução – já resumiu ao Seguinte: Sérgio Cardoso, presidente do Comitê de Gerenciamento da Bacia do Rio Gravataí.
– Não é solução nem para o Guaíba, onde há milhões de elementos químicos. Mexer no solo inviabilizaria a água por 500 anos – acrescentou o geólogo.
Conforme Cardoso, desassoreamentos sem cálculos técnicos sobre o ‘tempo de recorrência’ das águas podem aumentar desastres, caso não sejam projetados observando a realidade das 28 bacias hidrográficas gaúchas e a partir de um Plano Estadual de Recursos Hídricos.
– Se você faz a água correr mais rápido aqui, inunda mais rápido ali – advertiu, usando como exemplo desassoreamentos feitos no pós-enchente de maio em municípios do Vale do Taquari, que já repercutiram em inundações mais rápidas com chuvas posteriores.
Para se ter uma idéia da escala de ‘descida’ das águas, a diferença de nível entre Vacaria e Lajeado é de um quilômetro. Entre Santo Antônio da Patrulha e Porto Alegre, o caminho do Rio Gravataí, é de 10 metros.
No caso do Gravataí, o desassoreamento, que teria custos milionários em um manancial de 34 quilômetros, faria a água correr mais rápido na direção do Guaíba, onde restaria represada em eventos como de maio de 2024, inundando Gravataí e Cachoeirinha ainda mais.
O Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), fez alerta, em nota técnica publicada em junho do ano passado:
“(…) a dragagem como medida para prevenção de efeitos das novas cheias não deve ser executada apenas com base em suposições e em observações subjetivas únicas do sistema natural, sem estudos técnicos detalhados, evitando desperdício de recursos financeiros públicos e impactos ambientais negativos (…)”.
Conforme o IPH, “a dragagem é uma medida reconhecidamente positiva para pequenos rios e córregos”, mas não há comprovação científica de que colabora na prevenção de cheias em rios do porte do Gravataí, por exemplo.
– Ainda assim é preciso cuidado: a água vai para algum lugar, corre mais rápido para o Rio Gravataí. Ao evitar alagamento em um ponto, pode inundar outro – observa.
Reproduzo a nota técnica e, abaixo, sigo.
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Além do cinturão de diques do Novo PAC, confirmado na semana passada em reunião entre os governos federal e estadual que reportei em 2,9 bilhões do PAC: governos Lula e Leite confirmam prioridade para cinturão de diques na Bacia do Rio Gravataí, o principal projeto para a Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí prevê 13 microbarragens, para aumentar as áreas de banhado e segurar a água, o que é bom na cheia e na seca.
O Comitê da Bacia aprovou uma lista de prioridades para minimizar os efeitos da crise climática. Além da desapropriação da ‘floresta urbana’ do Mato do Julio, que reportei em Comitê da Bacia do Rio Gravataí pede desapropriação do Mato do Julio ao governo federal; O Central Park do pós-enchente, consta nos ofícios enviados aos governos estadual e federal também em junho de 2024 o apelo pela construção das 13 microbarragens.
Reproduzo o ofício e, abaixo, sigo.
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O barramento é a principal medida elaborada a partir de estudos técnicos encomendados pela Metroplan, como parte do PAC Desastres, que desde 2013 custaram R$ 5 milhões.
O Eia-Rima, estudo de impacto ambiental, foi concluído em maio de 2024. Resta na Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) aguardando a Licença Prévia.
Neste mês o prefeito de Gravataí Luiz Zaffalon tem nova reunião sobre a pauta com o governo estadual, agendada em uma primeira conversa em janeiro; leia em Com dique no Caça e Pesca e barragens no Rio Gravataí garantidas, Zaffa tenta incluir dique no Barnabé em obras de reconstrução do RS.
– Tão logo saia a LP farão, na mesma contratação, a atualização do projeto e a execução da obra – explicou Zaffa nesta terça-feira, ao Seguinte:.
Conforme o secretário de Desenvolvimento Urbano e Metropolitano do Estado, Rafael Mallmann, a previsão é de início das obras em 2026.
– Estamos em cima. Prometeram esforços para antecipar – diz o prefeito.
Clique aqui para ler o Plano Metropolitano de Proteção Contra as Cheias e Estiagens na Bacia do Rio Gravataí, onde constam as 13 microbarragens.
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Ao fim, reputo o movimento correto, técnico, científico, com potencial para mitigar cheias e falta de água, é a mobilização regional pelas barragens.
Um desassoreamento, ou dragagem, repetiria o crime feito nos anos 60, quando para favorecer os barões do arroz o DNOS abriu um canal que mudou o curso do Rio, tirando a sinuosidade do manancial e aumentando a velocidade da água que, quando não inunda os ‘pobres de sempre’, some das torneiras no verão.
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