– Vocês vão ver quem tem as pernas mais bonitas, o cólo mais bonito, o rosto mais bonito, e o conjunto mais bonito – disse Silvio Santos, 88 anos, ao fazer crianças desfilarem de maiô em seu programa.
As meninas do ‘Miss Infantil’ tinham em torno de 10 anos.
Para quê essa objetificação do corpo feminino?
As evidências dos efeitos dessa sexualização precoce dos corpos infantis em horário nobre – se acha que não, releia a frase do comunicador, que reproduzi acima – para a ‘cultura da pedofilia’ não podem ser relativizadas.
Porque isso sim é cultura da pedofilia, muito mais do que uma exposição artística ou o nu em uma estátua.
Como observa a pesquisadora feminista Thiane Nunes, “só falta colocarem sacos de papel nas cabecinhas”.
Em 13 de novembro do ano passado publiquei artigo sobre o qual muita gente caiu de pau, Silvio Santos é um velho babão, sobre outro episódio asqueroso envolvendo a mesma personagem.
Reproduzo e, ao fim, faço uma correção.
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A relativização que mais ouço sobre o vulgar episódio em que Silvio Santos assedia Claudia Leitte ao vivo é que “ele sempre fez isso”.
Verdade.
No Brasil de “Deus Acima de Todos”, que está mais para o “Deus morreu, tudo pode” – citação apócrifa creditada a Nietzsche, que aparece nas palavras do perturbado irmão Ivan Karamázov, de Dostoiévski – tudo se desculpa e qualquer reivindicação de uma evolução civilizatória na relação entre homens e mulheres é vista como mimimi, esquerdopatia ou coisa de feminazi.
Inegável é que o discurso dos poderosos torna-se uma senha, carne fresca para os zumbis do preconceito arrombarem armários. Se o Silvio pode, ou o político mitificado e seu clã autorizam, por que o deseducado, o intolerante, o bully, o misógino, o racista não o fariam?
Qual a diferença entre o famoso apresentador insinuar que fica de pau duro ao abraçar a bela cantora e a postura do covarde que mexe com a menina na rua, ou no ônibus encoxa a irmã, a filha ou mesmo a mãe de você que está lendo? Ou é aceitável, por corriqueiro, o político seduzir a estagiária, ou o professor querer comer a aluna adolescente?
A criação machista não é justificativa para restar um ser humano obscuro e terraplanificado. Talquei?
Mas o objetivo desse artigo não é ocupar lugar de fala das mulheres. Quero alertar para os danos que essa guerra ideológica, e a ditadura do politicamente incorreto, causam no seu bolso. Sim, a economia sofre em sociedades polarizadas! Um país que considera uma vitória arraigar preconceitos, viver num ambiente sem paz social, desestimula os convívios e a alegria. E, consequentemente, a força de trabalho e os empreendedores.
Não sou eu, ou um petralha, quem constata. É Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central na gestão de Fernando Henrique Cardoso e, brasileiro naturalizado norte-americano, um dos economistas mais influentes do país. Um liberal, não um marxista ou gramsciano.
— Hoje, eu diria que uma resposta adequada para os desafios econômicos e sociais do Brasil, que são agudos por causa dessa monumental recessão que está agora se dissipando, envolve questões mais completas. As pessoas precisam de um bom sistema econômico, e esse sistema econômico vive grudado umbilicalmente ao sistema político e à sociedade. Ele precisa dar respostas a vários temas. Mesmo quando falamos de economia, precisamos incluir hoje, aqui no Brasil, temas como Estado de Direito, respeito às minorias, fim da desigualdade, combate à violência, com uma postura de paz em relação à violência. Se não tocarmos nesses grandes temas, estamos deixando algo muito importante de fora — falou em entrevista à Folha de S. Paulo.
Aquele que é um dos queridinhos do ‘mercado’ segue:
— Esses fatores não apenas influenciam a vida das pessoas e como elas se sentem. São fatores que têm grande peso nas decisões econômicas tanto de curto quanto de longo prazo. De curto prazo, afetam decisões diárias de trabalhadores e de empresas. De longo prazo, definem investimentos públicos e privados.
E conclui dizendo esperar que o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), tenha sensibilidade para perceber o quadro político e social complexo que herdará:
— Há um receio, bastante difundido, sobre o que pode acontecer nessas áreas em função de declarações e posições históricas do presidente eleito. Isso é algo que só ele pode resolver.
Agora eu pergunto: custa ter empatia, se colocar no lugar dos outros e aprender a exercer a civilidade? Sermos mimados com um “é o que eu acho, azar!” certamente vai pesar em nosso bolso. É a ideologia da burrice, que independe de direita ou esquerda.
Você não precisa ser mais um velho babão como o Silvio. Afinal, com crise ou sem crise, a quase ninguém resta a opção “Brasil: ame-o ou deixe-o”, com embarque marcado para Miami.
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Meu complemento ao artigo de 2018 é simples.
Silvio Santos não é só um velho babão.
É nojento e perigoso.
Analisar "as pernas mais bonitas, o cólo mais bonito, o rosto mais bonito, e o conjunto mais bonito" em meninas de 10 anos, se você aceita como normal, eu não.