Um ano passado da morte do ex-prefeito Acimar da Silva, o Seguinte: preferiu não produzir uma matéria policialesca sobre o que no imaginário popular levanta suspeitas de crime político, mas não passou de mais um desses assaltos banais que destroem famílias todos os dias.
Em uma conversa de mais de duas horas com o filho Alison, que é pré-candidato a vereador e tem como projeto de vida e da família seguir os passos do pai, procuramos celebrar histórias cotidianas que recordam um cara com o qual era impossível não simpatizar. Simples, bonachão, sempre com um sorriso no rosto, uma piada ou uma pegadinha para aplicar nos amigos, desde e a época do bigode a lá Charles Bronson.
O velório há exato um ano levou centenas de pessoas ao saguão da Prefeitura, entre personalidades da política, como o governador José Ivo Sartori, colegas de 20 anos da Icotron, ex-companheiros da associação de moradores do Sítio Gaúcho, eleitores e amigos que acompanharam o trabalho de 18 anos como vereador, 400 dias como prefeito e dois anos como secretário municipal do governo Marco Alba (PMDB).
– Visito as pessoas que conheciam ou votavam no pai e ninguém quer saber das minhas propostas. Todo mundo me diz: “vou votar em ti e tu vai ter quatro anos para mostrar que é igual ao teu pai”. Honra teu pai, é o que todo mundo me diz – resume o engenheiro civil que completou 26 anos dia 5 de março, ciente que não carrega apenas uma grife política no sobrenome, que começou com o bisavô vereador, Floriano José da Silva, mas também a responsabilidade de continuar um legado de dedicação e presença junto aos eleitores, principalmente na região do Parque dos Anjos, Sítio Gaúcho e Caveira.
– No velório, que foi quando dimensionamos o tamanho do carinho que as pessoas tinham pelo pai, muita gente dizia: “morreu cedo, aos 57 anos, não aproveitou, não descansou…”. A gente explicava que foi ao contrário: o pai amava o que fazia nas 24 horas do dia e não queria outra coisa. A nossa família se construiu em volta disso. Gostávamos também.
– Havia verões em que não ficávamos nenhum final de semana inteiro na praia. Ligavam de Gravataí e já levantávamos acampamento, porque o pai não deixava de atender ninguém. Baterem na porta às 4h da manhã para levar alguém doente no hospital sempre foi muito normal – conta.
Alison sorri ao lembrar que Acimar ficava nervoso, e estressava a todos, quando estava longe da aldeia.
– Uma vez consegui levá-lo a Maceió. Teve que ser num pacote baratinho da CVC, que o pai não gostava de extravagâncias. Depois de dois dias já estava mordido querendo voltar.
– Um dia um amigo o convidou para ir a Portugal e ele só ria: “que Portugal o quê, eu vou é para o Barro Vermelho!” – diverte-se o filho, lembrando que nos momentos de folga a paixão do pai tradicionalista era andar a cavalo, o que quase sempre fazia em Morungava, ao lado dos amigos Zandonai e Cabelo.
Chão de vida e morte
Algumas rotinas, Acimar não abria mão, nem no período em que foi prefeito, com 10 votos dos vereadores, em eleição indireta feita dentro da Câmara, após a cassação de Rita Sanco (PT), entre 15 de novembro de 2011 e 31 de dezembro de 2012.
– Ele chega às 7h na Prefeitura, mas almoçava todos os dias em casa. E muitas vezes levava a neta, minha filha Bárbara, para a aula no Dom Feliciano.
– O pai também gostava de capinar a hortinha dele e sempre queria ele próprio cortar a grama. O pessoal passava e brincava, “ô, prefeito, cortando a grama!” – recorda Alison, que desde o nascimento mora na casa da rua Pampa, construída pelo pai e a mãe Marli quando tinham 20 anos, depois de se conheceram no chão da fábrica da Icotron, onde Acimar era mecânico, e casarem aos 18 anos.
– Ele dizia que só sairia dali morto. Infelizmente, foi assim que aconteceu – resigna-se o jovem, com lágrimas nos olhos.
No dia do crime, Acimar almoçava em casa com Marli, quando um homem vestido de carteiro simulou fazer uma entrega e rendeu o casal. Alison acredita que o pai, traumatizado com um assalto ocorrido há oito anos, quando a família foi amarrada e agredida, viu uma chance de reagir.
– O pai era bom de briga e acho que, desde o outro assalto, tinha para ele que não deixaria ninguém bater na gente outra vez. Ele expulsou o cara, mas outros que estavam do lado de fora, e ele não sabia, atiraram.
– A mãe apagou aqueles momentos, não lembra nada, o que todos compreendemos. Foi muito chocante, triste.
Alison acredita que a gangue, dois presos e dois ainda foragidos, acreditava que havia dinheiro na casa.
– O pai, depois que fechou a madeireira Gisasol, construía casas e vendia. Mas não guardava nada em casa. Hoje nessas transações se envolve FGTS, financiamento da Caixa, não se usa mais dinheiro vivo… – lamenta.
– O pai trabalhou muito, teve a madeireira, foi vereador, prefeito, e desde sempre, enquanto outros compravam carros novos, ele investia em terrenos, guardava no banco. Podia morar no Alphaville, mas não queria sair do lugar onde conhecia todo mundo, estava cercado por quase todos os sete irmãos e irmãs, a mãe…
: Na casa da rua Pampa com Alison, a neta Bárbara e a esposa Marli
Carro não, estudo
Para voltar às histórias alegres, Alison atesta que o pai segurava a grana.
– Andou anos num C3zinho. Para comprar uma caminhonete, tive que levá-lo e insistir que ajudaria nas correrias dele para visitar as pessoas, levá-las para lá e para cá. Ele dizia: “mas não precisa…”.
– Teve uma vez que ele comprou, ou a mãe deu para ele um anel de ouro. Duas semanas depois, todo constrangido, ele disse que não ia mais usar, que aquilo não tinha nada a ver com ele. Acho que alguém perguntou para ele na rua se era de ouro – sorri.
Mostrando uma característica parecida com a do pai, de rir de situações com as quais outros políticos se irritam ou desesperam, Alison conta que por diversas vezes tem que desmentir que o pai enriqueceu na política.
– Já me perguntaram se é verdade que o pai tinha 1000 cabeças de gado no Nordeste, se eram dele os pavilhões ao lado das pontes do Parque…
– Mas isso é resultado das brincadeiras que o pai e dois funcionários arriados da madeireira faziam por aí. Eles diziam para as pessoas: “viu que o Acimar comprou o CTG Laço da Amizade?”, “viu que o Acimar comprou o prédio do Schmitz no Centro?”, “sabia que o Acimar é o dono das pontes do Parque dos Anjos?” – gargalha.
Já para o estudo de Alison e da irmã Monique, grávida de seis meses quando o pai morreu, e hoje mãe de Joaquim Acimar, o patriarca era mão aberta.
– Ele dizia: “carro não compro para vocês, mas faço questão de pagar os estudos”. Ela concluiu duas faculdades, de Química e Arquitetura, eu me formei em Engenharia Civil. E sem rodar em nenhuma cadeira, o que até ele ficou surpreso, porque no Irmã Cléssia e no Gensa ele era chamado pela direção, porque eu era um aluno que dava problema, que gostava das correrias – diverte-se.
– Os dias de nossas formaturas foram os mais felizes para ele. O pai chorava como criança. Estava dando para os filhos uma oportunidade que não teve – emociona-se.
Para entrar na política, Alison, que tinha dois anos quando Acimar foi eleito vereador pela primeira vez em 1992, e aos seis sabia recitar as votações de políticos, assumiu um compromisso com o pai: tinha que estar com curso superior completo e um negócio próprio.
– Me formei em 2012, montei meu escritório e um ano depois o pai disse: “agora vai, porque política não pode ser profissão de ninguém e tu não trabalha bem se está na mão dos outros” – lembra, orgulhoso pelo pai ter sido eleito o vereador mais votado mesmo quando estava na oposição.
– Todo mundo gostava do pai porque ele estava sempre presente. Mas ele não saía por aí dando coisas. Se alguém pedia dinheiro por ter um familiar doente, ele organizava um bingo, conseguia salão, pedia prêmios para amigos comerciantes, ia cantar os números. Fazia aquilo ser uma coisa envolvente para a família que estava precisando e toda comunidade.
– Já quando foi prefeito dizia ter conseguido em 400 dias ajudar mais gente do que em 20 anos como vereador.
Uma das ruas que Acimar recuperou foi a Estrada dos Gravatás, que dá acesso a GM, e em sua homenagem recebeu o nome de Estrada Prefeito Acimar da Silva.
: Acimar foi prefeito por 400 dias, num governo de relativa tranquilidade após a crise do impeachment
Em nome do pai
O compromisso de estar presente nas comunidades como fazia o pai, Alison assume publicamente.
– A jornada já está das 6h30 a meia noite! A família me apoia, a mãe sabe como é, minha noiva Dâmaris me acompanha quando pode. Quando você entra nessa, mesmo quando está em casa, o que é raro, tem que atender o celular, responder mensagens, não tem mais como fazer um churrasco e tomar uma cervejada tranquilo em casa…
– Mas eu e o pai tínhamos esse plano e eu não vou decepcioná-lo – vibra o guri que, além da ajuda de antigos parceiros de Acimar, de gabinete e campanha, como o hoje procurador-geral de Gravatai, Jean Torman (um dos tantos assessores que ele incentivou a estudar), Venina Silveira e o seu Dealmo, busca conselhos no prefeito Marco Alba (PMDB).
– Quando me aperto, ligo e ele sempre me atende. Pergunto alguma coisa e ele diz: “teu pai faria isso, faria aquilo”.
: Acimar (na época do bigode) com assessores e apoiadores de sua equipe
Missa é às 19h30 na 93
Daqui a pouco, às 19h30min, uma missa lembrando um ano do falecimento será celebrada na Igreja Nossa Senhora Aparecida, na parada 93.
Perto dali, a dona Judith Pacheco Paiva Dutra guarda na estante da sala de casa um porta-retrato com a foto dela ao lado de Acimar. Quando Alison visitou-a, choraram juntos.
Ele sabe que isso ainda vai acontecer muito nessa campanha.
VEJA IMAGENS E OUÇA A VOZ DO ACIMAR
Para o lançamento da pré-candidatura a vereador, Alison produziu um vídeo usando um discurso do pai. Clique aqui